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'Ele disse que me estupraria': apresentadora da BBC fala sobre fã que a perseguiu por 6 anos

Alex Lovell avisou a polícia após receber uma série de cartas com conteúdo obsceno e ameaças.

9 abr 2019 - 14h12
(atualizado às 14h58)
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A apresentadora Alex Lovell, âncora do programa de notícias BBC Points West, foi perseguida durante anos por um espectador, Gordon Hawthorn, de 69 anos.

Ele, que admitiu o crime à Justiça, foi preso em janeiro deste ano após enviar uma série de cartas assediando e ameaçando a apresentadora, que por seis anos se sentiu "assustada e observada".

Lovell compartilha abaixo sua experiência:

"A resolução de Ano Novo dele era fazer sexo comigo"

DNA de Gordon Hawthorn corresponde ao encontrado em cartões enviados para Lovell
DNA de Gordon Hawthorn corresponde ao encontrado em cartões enviados para Lovell
Foto: Avon and Somerset Police / BBC News Brasil

Tudo começou com os cartões que chegaram à BBC em Bristol, em 2013, repletos de fantasias obscenas e assinados por "Gordon".

Eles geralmente pareciam inocentes, com desenhos de animais fofos. Todos tinham uma característica em comum: um "X" (letra que representa o beijo) grande cercada por outros quatro "X"s menores.

Os cartões continuaram a chegar por cerca de quatro anos com intervalos regulares, e eles nunca foram como as outras correspondências que eu recebia dos telespectadores.

Eram grosseiros e muito explícitos.

Eu guardei os cartões, e meu chefe sabia a respeito deles, mas nunca fiz nada além disso, deixando a "preocupação" na minha mente.

Então, em 2016, o tom das cartas mudou e, de repente, Gordon estava me ameaçando.

Ele disse que a resolução de Ano Novo dele era fazer sexo comigo e que me estupraria se eu não concordasse.

Jamais me esquecerei de ler essas palavras - o que era ainda mais assustador pelo fato de essa pessoa ter sido persistente e obstinada durante quatro anos.

"Uma escalada doentia de conteúdo repugnante"

A apresentadora estava determinada a continuar trabalhando, apesar de sofrer ataques de pânico
A apresentadora estava determinada a continuar trabalhando, apesar de sofrer ataques de pânico
Foto: BBC News Brasil

Eu contei ao meu chefe, o editor de notícias Neil Bennett, que foi brilhante e chamou a polícia imediatamente.

Eles levaram isso muito a sério. E foi extremamente reconfortante.

A polícia deu algumas orientações para minha segurança: mudar meus itinerários, não sair do trabalho sem estar acompanhada de um colega, até mesmo para tomar café, e instalar câmeras de circuito interno de segurança em casa.

As cartas cada vez mais ameaçadoras continuaram a chegar por mais dois anos e - como é comum em casos de perseguição - cada uma delas era mais assustadora do que a anterior.

Foi uma escalada doentia de conteúdo repugnante.

O remetente dizia que estava perto o suficiente para sentir o cheiro do meu cabelo, descrevia o que faria comigo e como me estupraria muitas vezes antes.

Ele assinava: "Do seu perseguidor e, em breve, estuprador".

Tive que mudar muitas coisas na minha vida, ficava olhando para trás o tempo todo.

Eu estava nervosa - e ficava alerta sobre tudo ao meu redor.

Lovell avisou a polícia em janeiro de 2016, quando as cartas começaram a ficar mais ameaçadoras
Lovell avisou a polícia em janeiro de 2016, quando as cartas começaram a ficar mais ameaçadoras
Foto: Avon and Somerset Police / BBC News Brasil

"É inaceitável que alguém te faça sentir medo"

No fim das contas, Gordon Hawthorn foi preso após uma campanha feita pela polícia, que levou uma mulher a contar aos policiais que tinha recebido um cartão semelhante aos meus.

No meu caso, foi claro quando chamar a polícia, mas em muitas circunstâncias não é tão fácil assim para a vítima saber quando pedir ajuda, e é por isso que eu quero falar.

Esta não é a primeira vez que me senti assustada e intimidada, mas foi preciso um evento extremo para me fazer chamar a polícia e pedir ajuda.

Isso é muito comum.

A polícia diz que, em média, cerca de 100 incidentes acontecem antes que um crime de perseguição seja relatado.

Mas a perseguição não se restringe aos atos extremos de intimidação ou obsessão que vemos na ficção.

Pode ser muito mais sutil e num grau menor.

É inaceitável que alguém te faça sentir medo ou ameaçado, que faça você mudar aspectos de sua vida para evitá-los ou se proteger.

Lovell sempre saía do estúdio da BBC acompanhada por colegas
Lovell sempre saía do estúdio da BBC acompanhada por colegas
Foto: BBC News Brasil

"Ninguém pede para ser perseguido"

O teste deve ser: se parecer errado, então confie no seu instinto.

A perseguição assume formas diferentes - não desculpe. Vítimas de todos os tipos de crimes muitas vezes duvidam de si mesmas e se culpam.

Ninguém pede para ser perseguido.

Anote tudo. Como você se sente é uma evidência tão forte quanto a física neste tipo de crime.

Acredite em mim - se começou com um buquê aparentemente inocente de flores, mas chegou ao ponto de você sentir medo de sair de casa - pode ser difícil lembrar de cada coisa estranha que aconteceu até chegar a esta situação terrível.

Conte a alguém: todos os meus vizinhos, amigos e colegas mais íntimos sabiam da minha situação e eu encontrei um conforto enorme na proteção deles.

Avise à polícia se você puder.

Mesmo que você não queira que a pessoa que está perseguindo você saiba, isso pode ser registrado e a polícia vai te aconselhar sobre o que fazer.

Para mais orientações, entre em contato com uma organização especializada.

Relato feito à jornalista Sharon Alcock.

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