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Redação do Enem tem como tema manipulação de usuários na internet

Cerca de 5,5 milhões de estudantes estão inscritos no exame, que começou às 13h30 deste domingo

4 nov 2018 - 14h08
(atualizado às 23h32)
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SÃO PAULO - O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano é "manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet", segundo comunicado divulgado nas redes sociais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC) responsável pelo exame.

O Inep ainda não divulgou os textos de apoio usados para embasar a proposta de redação. Professores de cursinho que fizeram a prova disseram que a coletânea teve quatro textos de apoio, sendo três deles trechos de reportagens e um gráfico com dados.

As reportagens citadas falam sobre algoritmos e foram publicadas em 2016. O gráfico traz dados do IBGE com o perfil dos usuários de internet no Brasil.

O professor de Língua Portuguesa do cursinho da Poli (Escola Politécnica da USP) Claudio Caus diz que o enfoque solicitado na redação está relacionado à maneira como as pessoas se relacionam na internet, às bolhas sociais formadas pelos algoritmos e à filtragem e adaptação das informações que chegam aos usuários.

Segundo Caus, as tabelas do IBGE traziam dados do perfil de usuários no País, segmentados por sexo, tipo de mensagens trocadas, entre outros. Um dos textos citados era "O gosto na era do algoritmo", de Daniel Verdú publicado no jornal El País, e o outro, "A silenciosa ditadura do algoritmo", de autoria do jornalista Pepe Escobar.

"O texto refletia sobre como o gosto das pessoas está sendo moldado pelos interesses de quem programa os algoritmos. As pessoas não têm um gosto próprio. O consumo vai sendo moldado de acordo com o que chega nelas, elas perdem a autonomia.", comenta Caus. "Ficou evidente que isso torna o público relativamente alienado", completa o professor.

Quanto à formação das bolhas sociais, Caus destaca a reflexão sobre a homogeneidade do comportamento e a questão de que o usuário não tem acesso à diversidade de opinião nesses ambientes.

Os candidatos do Enem têm de produzir um texto dissertativo-argumentativo de no máximo 30 linhas sobre a temática. Redações que ferirem os direitos humanos perderão 200 pontos - até o ano passado, a conduta dava nota zero ao aluno.

Professores ouvidos antes da prova pelo Estado já indicavam que um dos temas prováveis seria a confiabilidade de dados e informações na internet.

Para Simone Motta, coordenadora do grupo Etapa, o tema deste ano se manteve fiel à proposta de abordar assuntos de caráter nacional, com característica social e com uma problemática. "Nessa perspectiva, foi um tema excelente. Esse tema estava no radar", diz.

Elizabeth Massaranduba, coordenadora do curso e colégio Objetivo, diz que os alunos que se prepararam para a prova ao longo do ano esperavam por um tema como este. "Todos os alunos sabiam e já leram sobre o assunto. A redação está mais fácil neste ano em relação ao ano passado, por conta da proximidade do aluno com o tema", diz.

A professora de redação do Descomplica Carolina Achutti diz que a proposta deste ano inova em relação aos anos anteriores por ter uma caráter político. "Nas últimas edições, a redação tratava de aspectos sociais, com um olhar para as minorias", diz.

Como o Inep divulgou apenas o tema da redação, sem a coletânea de textos, ainda não é possível saber qual é a proposta específica da prova. Para Elizabeth, são várias as possibilidades. "Existe a questão do vazamento de informações de 70 milhões de usuários do Facebook, que teve como consequência o fechamento da empresa Cambridge Analytica. Mas essa é só uma possibilidade".

Giberto Alvarez, diretor executivo do cursinho da Poli, afirma que o tema pode ter vários recortes, mas tem como ponto principal a relação entre o ser humano concreto e o ser humano virtual. Ele chama atenção para as palavras comportamento e controle, presentes na frase divulgada pelo Inep.

Dificuldade

Para as coordenadoras, o fato de o tema estar muito presente no cotidiano pode também prejudicar o aluno. "Como o candidato tem muito repertório sobre o assunto, pode querer colocar no texto muita informação e deixar a desejar na análise crítica, que é uma exigência da redação."

"O assunto é a manipulação de dados. Como o aluno vai conduzir isso depende muito da coletânea e, por isso, é preciso ler os textos com muita atenção. Não pode fugir da coletânea que foi passada", diz Simone.

O professor de redação do Anglo Anibal Telles diz que o assunto pode ser abordado pelo viés político, ou pelo viés de consumo, e reforça que "a leitura da coletânea é imprencisdível para não tangenciar a discussão". Telles também indica que o estudante deve estar atento à palavra "manipulação". "Não existe aspecto positivo de manipulação. Toda manipulação é nociva, porque impede a escolha, a reflexão".

Exame

A prova do Enem foi iniciada às 13h30 deste domingo, 4, horário de Brasília. Cerca de 5,5 milhões de estudantes se inscreveram no exame, que é porta de acesso às principais universidades brasileiras. Eles têm 5h50 para resolver o exame.

Além da redação, a prova deste domingo tem 90 questões de linguagem e ciências humanas. No próximo domingo, 11, segundo dia do teste, os alunos terão de resolver questões de ciências da natureza e matemática.

Estadão
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