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Maioria das escolas diz não estar preparada para a volta às aulas pós-pandemia

Falta de investimento prévio em infraestrutura tecnológica dificultou adaptação para aulas online

9 jul 2020 - 16h35
(atualizado às 22h32)
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SÃO PAULO - A maioria das escolas brasileiras admite não estar preparada para retomar às aulas num novo formato pós-pandemia que certamente vai exigir uma boa parcela de ensino a distância. Pesquisa do Instituto Crescer mostra que apenas 22,6% das escolas em geral acreditam estar preparadas, do ponto de vista da infraestrutura tecnológica, para fazer frente aos novos tempos. A maioria, 67,9%, diz que ainda está correndo atrás do atraso e investindo em equipamentos. O restante descarta essa possibilidade e não acredita que sejam necessários novos investimentos, pois essa demanda "vai passar".

O quadro é mais crítico na rede pública. Apenas 17,7% dessas instituições disseram que se consideram preparadas tecnologicamente. A taxa é menos da metade da indicada pelas escolas privadas nessa condição: 36,2%.

A pesquisa consultou, entre a última semana de maio e meados de junho, 1.367 profissionais de instituições públicas e privadas de ensino, da educação básica ao ensino superior.

Um resultado alarmante da enquete é que 55,5% das instituições de ensino informaram não ter ideia de como sua equipe vai seguir para atender o chamado "novo normal" na educação pós-pandemia. "A grande maioria está muito focada tentando resolver o hoje, correndo atrás para enfrentar os obstáculos neste momento, e não está conseguindo olhar para frente e ter perspectiva de futuro", afirma a diretora técnica do Instituto Crescer, Luciana Allan.

Somente 32,9% informaram ter uma visão de como vão operar com oferta de ensino semipresencial e rodízio entre alunos. "São muito poucos que têm essa visão", diz.

Segundo ela, há três pontos cruciais na virada de chave da educação neste momento: a infraestrutura, a formação de professor e a questão pedagógica. Ela destaca que poucos são os professores que se sentem preparados para trabalhar no formato online. Das instituições que se dizem preparadas para o momento atual, só 23% dos professores se dizem aptos a trabalhar nesse formato. Nas escolas onde ainda estão sendo feitos investimentos em infraestrutura, só 6% dos professores se sentem preparados.

Revisão dos currículos

Mais da metade das escolas (51,6%) está revisando currículos tentando focar em aspectos essenciais. Um ponto importante, segundo Luciana, é que 32,5% das instituições de ensino decidiram centrar esforços menos nos currículos e mais no desenvolvimento de competências e habilidades dos alunos: 29,9% nas escolas públicas e 31,3% nas escolas privadas. "Esse é um aspecto muito positivo, é um movimento que já vinha sendo feito e ganhou força com a pandemia."

Luciana observa que as instituições que já tinham um trabalho de ponta e investiam em infraestrutura estão mais otimistas neste momento do que aquelas escolas que não viam valor na tecnologia.

A Escola do Bosque, voltada para o ensino infantil e fundamental, por exemplo, conseguiu virar a chave para o digital rapidamente. "Quando começou a quarentena, em três dias estávamos com todas as aulas online", afirma Silvia Scorachio, proprietária da escola de classe média que fica na Vila Mascote, zona sul de São Paulo.

Com 300 alunos, ela conta que a transformação digital da instituição já vinha ocorrendo há quatro anos. "Isso fez a diferença: professores e alunos já estavam familiarizados com a tecnologia." No entanto, ela reconhece que o seu caso é uma exceção.

Estadão
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