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Clássicos da Época Colonial - Parte I

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Voltaire Schilling

No século XVI, diversos viajantes europeus estiveram no Brasil e registraram suas impressões. Escreveram basicamente depoimentos e relatos de viagem que tinham por objetivo apresentar aos compatriotas um panorama do Novo Mundo. Concebidos sob a forma de cartas, tratados, diários e crônicas, esses textos são conhecidos como literatura de informação. E serviram como base para todos os ensaios e obras literárias que surgiram mais tarde na história cultural do Brasil.

Primeiras Impressões

O primeiro e mais famoso exemplo é a Carta, de Pero Vaz de Caminha, em que o escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral descreve ao rei D. Manuel I as características geográficas e humanas da terra recém-descoberta. Os principais viajantes do período foram portugueses e religiosos enviados ao Brasil para catequizar os índios. Alguns deles, como os jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, produziram obras de fundamental importância para o desenvolvimento da vida colonial. Houve também viajantes alemães, como Hans Staden, e franceses, como Jean de Léry e André Thevet, que deixaram testemunho da experiência nas novas terras.

Os poucos escritos produzidos no século XVI serviriam de referência para a literatura brasileira que foi sendo elaborada ao longo dos tempos. A natureza exuberante e os costumes dos indígenas serviram como embrião do Nativismo, decisivo para as manifestações poético-literárias do Barroco e do Arcadismo. A imagem do índio como símbolo nacional, empregada por autores do Romantismo como foi o caso de José de Alencar, também remonta às produções desse período.

Concebidos em grande parte para o leitor europeu, os textos desse período têm caráter eminentemente informativo, documental ou religioso e aparecem em formas variadas: cartas e informes em torno de condições da colônia, roteiros náuticos, relatos de naufrágios, descrições geográficas e sociais, descrições da natureza e dos povos nativos, autos para a catequese dos indígenas e até sob a forma de epopéias com assunto local. A curiosidade geográfica e humana, o desejo de conquista e o deslumbramento diante da paisagem exótica e exuberante do país são a tônica dos textos produzidos ao longo do século XVI.

No campo da poesia, a tradição medieval continuava presente. Confrontada com a realidade da colônia, ela deu origem a resultados singulares, como pode ser percebido nos poemas de José de Anchieta. Segundo Alfredo Bosi, a particularidade de sua produção poética está justamente na conformação do idioma tupi, empregado em vários de seus versos, a formas medievais.

Assim, palavras tupis aparecem em versos que seguem a métrica trovadoresca, composta em versos de cinco ou sete sílabas - as redondilhas menores e maiores das formas populares portuguesas - e esquemas rítmicos inspirados na tradição medieval. Muitas vezes, os versos aparecem na forma de diálogos, o que imprime forte carga dramática e contribui para o poder de comunicação dos poemas, cuja função primordial era aculturar o indígena e aproximá-lo da doutrina cristã. I. Carta de Achamento a El´Rey (1500).

De Pero Vaz de Caminha

Detalhado relato feito pelo escrivão da frota de Pedro Alvares Cabral ao rei D.Manuel da descoberta de uma nova terra no qual inarra as primeiras impressões sobre a costa descoberta bem como dos seus nativos, além de uma série de outras observações sobre o clima, a paisagem e as potencialidades gerais do que fora encontrado.O documento é tido como o Certificado de Nascimento do Brasil.

O texto integral somente veio à publico no Brasil por obra de Aires de Casal, em 1817.

'Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!

Mandou lançar o prumo. Acharam vinte e cinco braças. E ao sol-posto umas seis léguas da terra, lançamos ancoras, em dezenove braças - ancoragem limpa. Ali ficamo-nos toda aquela noite. E quinta-feira, pela manhã, fizemos vela e seguimos em direitura à terra, indo os navios pequenos diante - por dezessete, dezesseis, quinze, catorze, doze, nove braças - até meia légua da terra, onde todos lançamos ancoras, em frente da boca de um rio. E chegaríamos a esta ancoragem às dez horas, pouco mais ou menos.

E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro.

Então lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor. E ali falaram. E o Capitão mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. 'E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte'.

II. Cartas do Brasil (1549-1560)

De Pe. Manuel da Nóbrega

São cartas enviadas pelo padre Manoel da Nóbrega aos padres-mestres da Companhia de Jesus, ao Provincial, que ficaram na Europa e que servem como testemunho vivo do processo de ocupação do novo território, bem como das dificuldades da catequese aqui encontradas pelos jesuítas na conversão dos Gentios, assim como uma exposição detalhada dos 'pecados da terra', isto é, os costumes dos indígenas reprovados pelos padres. Por igual acompanha as medidas iniciais da implantação do governo colonial As cartas cobrem os primeiros onze anos ( de 1549 a 1560)da sua chegada ao Brasil.

"Depois que partimos de Portugal, o que foi em 1º de fevereiro de 1549, toda a Armada trouxe-a Deus a salvamento; sempre com ventos prósperos e de tal arte que chegamos à Bahia de Todos os Santos dentro de 56 dias sem que sobreviesse nenhum contratempo e antes com muitos outros favores e graças de Deus, que bem mostrava ser sua a obra que agora se precipitou. Desde logo se fez a paz com o Gentio da terra e se tomou conselho sobre onde se fundaria a nova cidade, chamada de Salvador."

III. Cartas (1554-587)

De Pe José de Anchieta

Vindo ao Brasil com D. Duarte Costa, o segundo governador-geral que desembarcou na Bahia em 1553, e com mais outros colegas jesuítas, suas cartas dirigidas a pessoas as mais diversas, que se estendem de 1554 até o ano de 1587, oferecem um amplo panorama da vida do Brasil daqueles tempos, relatando o cotidiano dos nativos bem como dos portugueses que se assentavam na nova terra. São documentos preciosos que flagram os passos dados pelos recém-chegados, padres e renóis, para afirmarem-se num mundo que lhes era totalmente estranho e muitas vezes hostil.

"De maneira que os índios me tinham muito crédito, máxime porque eu lhes ocorria a suas enfermidades, e como algum enfermava logo me chamavam, aos quais eu curava a uns como levantar a espinhela, a outros com sangrias e outras curas, segundo requeria a doença, e com o favor de Cristo Nosso Senhor achavam-se bem."

IV. Duas viagens feitas ao Brasil (1557)

De Hans StadenNarrativa de um aventureiro alemão que na sua segunda vinda ao Brasil caiu nas mãos de uma tribo de antropófagos. Aprisionado no litoral de São Paulo, descreve em prosa vivaz os costumes indígenas bem como as várias tentativas de fuga até seu retorno final à Europa. É um relato emocionante.

"Formaram um círculo ao redor de mim, ficando eu no centro com duas mulheres, amarraram-me numa perna um chocalho e na nuca penas de pássaros. Depois começaram as mulheres a cantar e, conforme um som dado, tinha eu de bater no chão o pé onde estavam atados os chocalhos".

As mulheres fazem bebidas. Tomam as raízes de mandioca, que deixam ferver em grandes potes. Quando bem fervidas tiram-nas (...) e deixam esfriar (...) Então as moças assentam-se ao pé, e mastigam as raízes, e o que fica mastigado é posto numa vasilha à parte.

Acreditam na imortalidade da alma(...)."

"Voltando da guerra, trouxeram prisioneiros. Levaram-nos para sua cabana: mas a muitos feridos desembarcaram e os mataram logo, cortarm-nos em pedaços e assaram a carne (...) Um era português (...) O outro chamava-se Hyeronimus; este foi assado de noite."

V. Singularidades da França Antártica (1558)

De André Thevet

Primeiro registro da fundação da França Antártica, em 1555, obra de Villegagnon que construiu o Forte Coligny na baia da Guanabara para servir de base de apoio ao seu projeto de colonização de toda a região.

"Se advém, paralelamente, entre eles, algum tipo de indignação ou querela contrao próximo, eles têm o costume de recorrer ao Pagé, para que faça morrer por veneno aquele ou aqueles a quem querem mal."

VI. História da Província de Santa Cruz que chamamos Brasil (1576)

De Pero de Magalhães Gândavo

Descrição primeira da Terra de Santa Cruz descoberta pelos portuguesese até então pouco conhecida em Lisboa. Após a nomeação das capitanias em que o território se encontrava dividido, o autor demora-se na nomeação das suas exuberâncias com destaque aos perigos que aqui se encontravam em vista da ferocidade dois animais e da peçonha das serpentes..Exalta a piscosidade do litoral e encanta-se com a variedade e abundância das aves da terra, assim como apresenta a vida cotidiana dos nativos bem como as guerras que travavam entre si.

"A causa principal que me obrigou a lançar mão da presente historia,e sair com Ella a luz, foi por não haver até gora pessoa que emprendesse, havendo já setenta e tantos annos que esta Provincia he descoberta. A qual historia creio que mais esteve sepultada em tanto silencio, pelo pouco caso que os portuguezes fizerão sempre da mesma provincia, que por faltarem na terra pessoas de engenho, e curiosas que per melhor estillo, e mais copiosamente que eu a escrevessem."

VII. Viagem à Terra do Brasil (1578)

De Jean de Léry

Indicado por Calvino para vir ao Brasil, Léry aqui chegou na companhia de 13 outros pastores huguenotes que vieram irmanar-se na colônia fundada por Villegagnon na baia da Guanabara. Sua aproximação com os tupinambás terminou por render o melhor ensaio etnográfico sobre os indígenas do Brasil.

O livro de Léry, segundo Claude Lévy-Strauss, foi seminal da antropologia moderna e obra magna, perene, sobre o Brasil do século XVI.

'Depois de discorrer acerca do que vimos no mar, tanto na ida para o Brasil, como no regresso à França, depois de narrar o que se passou na ilha e forte de Coligny, onde residiu Villegaignon, enquanto aí estivemos, e igualmente após divagar sobre o rio Guanabara, quando também me referi demoradamente aos fatos ocorridos anteriormente a meu embarque, cabe-me dizer o que observei com referência ao modo de vida dos selvagens e a outras coisas singulares e desconhecidas aquém-mar, que vi nesse país.'

VIII. Tratado Descritivo do Brasil (1587)

De Gabriel Soares de Souza

Naturalista e explorador do sertão que viveu na Bahia por 17 anos, é um vibrante relato das riquezas da terra escrito por um reinól desejoso de impressionar a Corte de Madri na época da União Ibérica, que não se dera conta da vastidão do território que administrava.

Ainda que eivado de fantasias sobre monstros e animais descomunais, é uma obra referencial sobre o Brasil ainda no berço da colonização.

"Estará bem empregado todo o cuidado que Sua Majestade mandar

Ter d'este novo reino; pois está para edificar nele um grande império,

o qual com pouca despesa destes reinos se fará tão

soberano que seja um dos Estados do mundo".

IX. Prosopopéia (1601)

De Bento Teixeira

Obra daquele que é tido, ainda que nascido no Porto, como o primeiro poeta brasileiro. Celebra em versos barrocos os feitos dos irmãos Jorge e Duarte de Albuquerque Coelho, donatários da Capitania de Pernambuco Fidalgos valentes que tiveram participação em batalhas na África, mas que depois vieram para o Nordeste do Brasil.

Olhai o grande gozo e doce glória/Que tereis quando, postos em descanso, Contardes esta larga e triste história /Junto do pátrio lar, seguro e manso. Que vai da batalha a ter victória,/O que do Mar inchado a um remanso,Isso então haverá de vosso estado/Aos males que tiverdes já passado."

Fonte: Especial para Terra
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