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Enem: candidatos cegos criticam qualidade dos ledores

Pessoas com deficiência podem solicitar ajuda na hora da prova

21 jul 2014 - 13h11
(atualizado às 13h15)
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O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) prevê atendimento específico para pessoas cegas ou com baixa visão. Em entrevista ao Terra, candidatos afirmam que houve avanços no auxílio prestado, mas ainda são necessários ajustes. Entre as queixas, a falta de especialização dos ledores designados para a leitura e transcrição da prova.

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Os concorrentes podem solicitar o auxílio de ledores e transcritores. O atendimento é realizado por duplas que podem atuar tanto na leitura quanto na transcrição dos textos e preenchimento dos cartões de resposta. No local de prova, ficam apenas o candidato, os dois auxiliares e um fiscal. Hugo Leonardo dos Santos fez a prova em 2013 e, com o resultado, vai ingressar na Universidade Federal de Rondônia em agosto de 2014. Ele conta que a ajuda do ledor foi importante, mas ainda precisa ser mais qualificada. “O ledor descreve tudo, mapas, gráficos, imagens. As pessoas que me auxiliaram foram nota 10 no esforço, mas não eram especializadas no trabalho com deficientes. Isso faz diferença.”

Rafhael Peixoto foi ledor em 2010 e concorda. A falta de um treinamento específico gerou dificuldades para ele durante a prova. Rafhael conta que a primeira questão continha uma imagem que ele não sabia como descrever, só depois de algum tempo, o ledor descobriu que, na própria prova, existia uma descrição padronizada para a figura. “Quando descobrimos foi um alívio. Eu já estava me desdobrando para explicar a imagem a questão.” Ele ainda salienta que o simples fato de saber ler não é suficiente para tornar alguém um ledor. “É preciso adequar a velocidade da leitura, a dicção, o próprio método utilizado. Tive que repetir inúmeras vezes a leitura da mesma questão e de suas alternativas", destacando que é preciso deixar o candidato à vontade para solicitar quantas vezes desejar que uma frase ou questão sejam lidas novamente. 

Também cabe ao ledor a função de transcrever a redação e marcar as respostas na grade de respostas. Tarso Germany fez o Enem em 2008 e lembra que escreveu a redação em braille e depois a ditou ao transcritor. Hoje formado em Geografia, Tarso acredita que fazer a prova ficou mais fácil agora que os ledores trabalham em duplas. “Quando um cansa, o outro pode ler. Duas pessoas podem explicar um mapa de maneiras diferentes e assim podem melhorar a compreensão do candidato.”

Como o processo de leitura e transcrição demanda mais tempo, os candidatos com deficiência visual têm uma hora a mais para a realização da prova. Para Hugo, o tempo é suficiente, mas o processo é muito cansativo. “Respondi 180 questões, com o ledor lendo cada texto, cada questão e alternativas. O tempo todo em uma sala. É muito ruim, muito cansativo.”

Textos em fontes maiores

Além do auxílio de ledores e transcritores, os candidatos podem solicitar uma prova adaptada. Existem três opções: prova ampliada (fonte tamanho 18), prova superampliada (fonte tamanho 24) e prova em braille. A estudante de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Maíra Teixeira Cordeiro fez o exame em 2008 e também considera que houve evolução. “Quando fiz, era uma cópia com tamanho dobrado, hoje com a superampliada é melhor.”

As provas com fontes maiores são iguais às aplicadas para os outros concorrentes, já as em braille sofrem adaptações. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) informa que conta com uma comissão formada por especialistas de universidades federais e pesquisadores ligados a instituições dedicadas ao trabalho de educação para estudantes com limitações de visão, para realizar as adequações da prova em braille. 

A utilização de provas ampliadas e o auxílio de ledores devem ser solicitados no momento da inscrição. Alguns candidatos, porém, já encontram problemas no momento de preencher o formulário de necessidades específicas. Maíra, que tem baixa visão, explica que muitos programas leitores de telas não funcionam bem no site da Enem. 

Maíra entende que o Enem ainda precisa melhorar para equilibrar as condições entre os candidatos com deficiência visual e aqueles que não têm necessidades específicas. “A prova vem melhorando, os ledores, os gráficos em alto relevo. Mas ainda não cumpre a função de ser acessível. Acredito que os estudantes com deficiência deveriam ser mais ouvidos.”

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