Brasileira formada em Harvard trocou medicina por psicologia: 'Paixão pelos estudos desde pequenina'
Sarah Borges se formou em Psicologia na universidade norte-americana e recebeu prêmio concedido a alunos com desempenho excepcional
Sarah Borges, psicóloga brasileira formada em Harvard com distinção máxima, destacou sua trajetória acadêmica e estratégias de estudo, além de anunciar que iniciará um doutorado em Psiquiatria na Universidade de Cambridge com bolsa de estudos.
A brasileira Sarah Borges, de 23 anos, que se formou em Psicologia na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, com a nota mais alta da turma, afirma que foi uma surpresa a repercussão das suas conquistas e destaca a felicidade em ver que a sua história já tem inspirado outras pessoas no sonho de estudar no exterior.
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"Eu não esperava. Mas o que me deixa mais feliz é de estar recebendo muitas mensagens de pessoas pedindo recomendações, para eu ler as pesquisas e dar sugestões de metodologia, de ver que, de fato, estou inspirando outros jovens", diz Sarah em entrevista ao Terra.
Além de se formar na universidade norte-americana com bolsa de estudos, ela ganhou o Sophia Freund Prize, prêmio destinado aos alunos que tiram as maiores médias de notas da turmsarah borga e concluem o curso com a distinção acadêmica "summa cum laude" -- "com a mais alta honra", em português, concedida a estudantes com desempenho excepcional nos estudos.
A Universidade de Harvard divulgou um documento no início deste mês com os nomes dos estudantes que receberam o reconhecimento em 2025. Cada um dos 54 alunos selecionados também ganhará o valor de US$ 1 mil (cerca de R$ 5.540, na cotação atual).
'Paixão pelos estudos desde pequenina'
As conquistas de Sarah não surgiram de repente, mas, como ela ressalta, de uma paixão pelos estudos cultivada desde criança e do incentivo que recebeu de pessoas e escolas que acreditaram em seu potencial.
A goiana fez os ensinos fundamental e médio em escolas particulares como bolsista e lembra que, ao longo da trajetória acadêmica, sempre esteve envolvida em atividades oferecidas no colégio nas mais diversas áreas. Além das disciplinas regulares, tinha aulas de artes, xadrez e natação, por exemplo.
"Sempre tive prazer em me sair bem na escola. Para mim, era um prazer fazer a tarefa bonitinho. E, desde cedo, isso foi cultivado pelos meus pais, pelos diretores da escola, de vários professores", afirma.
No fim do ensino médio, a jovem decidiu cursar Medicina no ensino superior, e já sabia que queria fazer pesquisas na área e seguir uma carreira acadêmica. Ela e a irmã gêmea, Sophia Borges, foram aprovadas no curso na Universidade de São Paulo (USP), uma das mais concorridas do País.
Sarah chegou ainda a estudar alguns meses na USP, mas, antes mesmo de passar no vestibular, já tinha aplicado para estudar com bolsa de estudos em universidades no exterior. Para fazer as inscrições, ela teve o auxílio de um programa de mentoria gratuito oferecido pela Brazilian Student Association (Brasa).
E a notícia da aprovação veio um dia antes do seu aniversário, em 26 de março de 2020. "É impossível esquecer desse dia. Eu estava no meu quarto lendo e-mails sozinha, abri os de todas as universidades antes de ir para Harvard e quando vi estava lá escrito: 'Congratulations' [parabéns, em português]. Eu comecei a gritar pela casa inteira. Foi incrível", conta emocionada.
Como foi a vida universitária
Quando começou a estudar em Harvard, Sarah inicialmente decidiu cursar aulas de diferentes áreas, como Ciência Política, Filosofia e Ciência da Computação. A descoberta da Psicologia, curso que escolheu depois como formação principal, foi surgindo aos poucos.
"Só que desde antes, eu já tinha um interesse muito grande pelo cérebro, de como a mente humana funciona. O cérebro constrói tudo ao nosso redor. Acho isso fascinante. [...] Psicologia combinava várias coisas que eu tinha interesse, toda essa parte de estudo do cérebro e da mente humana, mas também tem toda essa parte de Psicologia Social, que estuda esses temas mais macro, que me interessavam muito", explica.
Ao longo da graduação, a goiana se envolveu em muitas atividades extracurriculares. Entre elas, participou da Associação para Cultivo da Democracia Inter-Americana (HACIA Democracy), conferência sobre temas relevantes à democracia com jovens da América Latina.
Ela ainda atuou na Brazil Conference no Programa de Pesquisadores, que leva pesquisadores de destaque para apresentarem seus trabalhos em Harvard e no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
No último ano da universidade, Sarah foi selecionada para a Phi Beta Kappa, a sociedade de honras acadêmicas mais antiga dos Estados Unidos que reconhece estudantes que demonstram excelência intelectual e compromisso com o aprendizado. No Brasil, ela também recebeu um apoio financeiro para os estudos ao ser selecionada no Programa de Bolsas Líderes, da Fundação Estudar.
O que levou às notas altas?
Sarah recorda que as aulas em Harvard eram muito diferentes umas das outras. "Havia aulas que eram auditórios com 700 pessoas e a avaliação era mais baseada em tarefas semanais do que provas. Outras eram seminários de 12 alunos e a minha nota era totalmente em participação e em projetos de escrita que eu tinha que fazer."
Para alcançar as notas altas nas disciplinas, que lhe trouxe o destaque ao final do curso, Sarah diz que "não tem um segredo" para compartilhar. A jovem ressalta que o resultado é fruto de muita dedicação nos estudos.
Uma das estratégias, no entanto, que ela usava era se preparar antes das aulas sobre o conteúdo que ia ser estudado. "Em quase todas as aulas, eles passam várias leituras para você fazer e você tem que fazer essas leituras antes, porque na aula você só vai discutir sobre elas", detalha.
"Uma coisa que eu aprendi também ao longo da graduação é que é muito importante saber o que é exigido de você na aula. Por exemplo, para uma aula que é muito baseada em leitura, de fato, você fazer as leituras com cuidado, você pesquisar mais sobre na internet vai ser importante pra você vir preparado para discussão ou para escrever um artigo de reflexão mais profundo. Mas, para algumas aulas, o livro está só como apoio. Você não vai precisar ler o texto inteiro, nesse caso. Então eu passava a usar o livro como referência, para tirar alguma dúvida. Isso me ajudou bastante", acrescenta.
Planos futuros
A tese de Sarah para se formar --similar ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no Brasil-- foi uma pesquisa sobre como o estigma afeta o acesso de jovens brasileiros a serviços de saúde mental.
A partir de setembro, ela começará um doutorado em Psiquiatria na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e pretende continuar investigando as melhores formas de entender, prevenir e tratar problemas de saúde mental no Brasil e no mundo.
A brasileira ganhou a bolsa de estudos Gates Cambridge, que é voltada a estudantes com excelência acadêmica, liderança e compromisso com o bem comum.
"Estar em Cambridge com essa bolsa que tem muitas pessoas [de todo o mundo], disciplinas diferentes, eu acho que tem muita riqueza que vai para além do programa em si de doutorado. Estou superanimada para continuar investigando o tema de saúde mental", destaca Sarah.