Aspectos importantes na preparação física de atletas de futebol
Um dos principais segredos do sucesso da carreira do preparador físico Paulo Franco, está nos cuidados com que executa o seu trabalho e a atenção aos detalhes, no momento de planejar e executar as cargas de treinamento de seus atletas.
Para Paulo, "Tanto a fisiologia quanto a preparação física do time principal têm ciência do que é realizado na base por meio de inúmeras ferramentas de registro que possibilitam o conhecimento de informações como carga de treinamento, frequência nas atividades, histórico de lesões, jogos realizados, avaliações físicas e avaliação de desempenho em partidas oficiais, dentro de cada uma das cinco categorias de formação." descreve.
O pensamento integrado também se direciona para o treinamento, afinal, em cada categoria, o desenvolvimento do aspecto físico acontece em sintonia com os quesitos técnicos e táticos e a forma de jogar. Profissional de Educação Física com Especialização em Futebol, Paulo que é reconhecido pelo seu trabalho com o preparo físico de importantes jogadores de futebol, fala um pouco de sua carreira e revela aspectos importantes na preparação física de atletas de futebol. Confira a entrevista:
Repórter - Como deve ser a programação de treinamentos?
Paulo Franco - Os programas semanais precisam ser cuidadosamente equilibrados entre os aspectos técnicos, físicos, psicológicos e táticos. Atualmente a responsabilidade do preparador físico cresceu. Não podemos cuidar somente dos exercícios e sim de toda a quantificação da preparação integral, ou seja, o volume e a intensidade das cargas de trabalho em todas as áreas que compõe o treinamento. Devemos acompanhar o desenvolvimento da ciência do treinamento desportivo e da medicina para que possamos fundamentar com competência nossos métodos de trabalho. Um exemplo disso é o equilíbrio entre as cargas de treino e a recuperação dos atletas após essa etapa. Devemos ter prudência na hora de equilibrar todos nossos exercícios, para que o atleta melhore sua condição e não ao contrário disso, decaia de rendimento. Por exemplo: Numa etapa de competição, não deveremos priorizar treinamentos de longa duração e resistência, pois os jogos serão às quartas e domingos. Nesse período é preciso dar ênfase aos treinos técnico-táticos, de força e velocidade, pois as cargas de resistência especial serão adaptadas com os próprios jogos. Devemos preparar atletas para serem os melhores nos jogos e não somente nos treinos.
Repórter - Como trabalhar a individualidade biológica num grupo heterogêneo, caso específico do futebol?
Paulo Franco - Na maioria dos esportes coletivos encontramos grupos heterogêneos e o futebol não foge à regra. Temos atletas de várias idades, aptidão física diferenciada, posições diferenciadas, tempo de recuperação diferentes, enfim, necessidade de treinamentos individualizados em certos momentos. Para que esse processo ocorra de maneira correta, devemos ter em mãos o maior número possível de dados sobre avaliações físicas e controle diário do rendimento. São de extrema importância os dados dos testes atuais e de temporadas passadas. Somente desta forma poderemos identificar as necessidades de cada jogador para a melhora de seu rendimento e que cuidados devemos tomar em relação a cada um deles. Respeitar o potencial fisiológico de cada um é importante para que os excessos não ocorram. Os resultados coletados devem ficar sempre armazenados para que possamos comparar a evolução desses atletas a curto, médio e longo prazos.
Repórter - Como deve ser a metodologia de treinamento?
Paulo Franco - O treinamento diário está baseado nos espaços e ações executadas durante os jogos. Através da tecnologia, temos à disposição, vários trabalhos que demonstram detalhadamente o que ocorre fisiologicamente dentro dos 90 minutos de uma partida de futebol. A partir dessa análise criamos a metodologia adequada para o desenvolvimento de uma ótima condição competitiva. A reposição energética, através da alimentação ideal e o repouso contribuem de forma muito importante na performance dos atletas. Deve haver equilíbrio entre a alimentação, o repouso e a carga de treinamento. Onde houver a quebra de um desses fatores, o trabalho pode ficar comprometido negativamente.
Repórter - Você acha que a preparação física está mais valorizada nos dias de hoje?
Paulo Franco - Até há algum tempo o torcedor não via o trabalho da preparação física, que passava despercebido até pela mídia. Hoje isto mudou e várias equipes demonstram superioridade nessa questão e a valorização deste trabalho dá-se também aos profissionais da preparação física que buscam o conhecimento. Sem um bom nível de preparação física não há equipe que possa dar boas respostas técnicas e táticas durante uma partida.
Repórter - Em sua opinião, o que deve mudar no trabalho das categorias de base nos clubes brasileiros? De uma forma geral, você acredita que o trabalho é bem feito?
Paulo Franco - De uma forma geral, o trabalho é muito bem feito. A grande maioria dos profissionais que militam no futebol de base atualmente possuem uma alta competência técnica. O que creio que deveria mudar e virar uma rotina dentro da base brasileira é um pensamento, onde a seleção e avaliação do atleta de base se concentre inicialmente nas capacidades táticas e técnicas, é claro, mas que no segundo momento o quesito preponderante seja um ótimo perfil comportamental, dentro e fora de campo. As demais questões relativas às capacidades físicas deveriam vir depois dessas primeiras. O trabalho deve ser avaliado com rigidez, ao longo do tempo, dentro do dia a dia de treinamento, e não apenas pelo resultado dentro do campo de jogo.
Repórter - Para quem atua na categoria de base, o que é necessário para se tornar um preparador físico reconhecido na área?
Paulo Franco - Ser um bom preparador físico é ter acesso e conhecimento da ciência, vocação e olhar para o todo que influencia no desempenho de um time de futebol. Desenvolver o potencial do jogador que não atingiu o grau máximo de maturidade, seja físico ou mesmo técnico, tático e psicológico. Para tal, é necessário utilizar métodos para verificar quais potencialidades e fragilidades apresentam. Dentro do contexto da preparação física, procurar que o jogador tenha um bom potencial para a força, velocidade, potência e resistência específica de jogo.