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Coronavírus

Empresário diz que recebeu aval de ministério para comprar vacina para funcionários no 2º semestre

Sem citar nomes de farmacêuticas, o bilionário Carlos Wizard afirma que, com 'dezenas e dezenas' de outros empresários, está em busca de vacinas de eficácia alta e preços baixos para seus empregados

26 fev 2021 - 18h11
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BRASÍLIA - Sem orçamento definido nem negociação avançada com farmacêutica e em plena disputa global por doses, o bilionário Carlos Wizard diz ter interesse na compra de vacina contra a covid-19 para o setor privado brasileiro. Ele afirma que recebeu o aval do Ministério da Saúde para distribuir doses a partir do segundo semestre, quando o governo federal espera já ter imunizado os grupos prioritários no SUS.

Segundo Wizard, as vacinas serão aplicadas em seus funcionários e de outros empresários que participam das conversas, mas não revela o nome das "dezenas e dezenas" de empresários que participam da empreitada, exceto o de Luciano Hang, dono das lojas Havan.

Ele afirma que se reunirá com o empresário catarinense na próxima semana para estimar o número de doses que podem ser adquiridas. O bilionário mira vacinas de eficácia alta e preços baixos, similares aos negociados por governos: entre US$ 8 (R$ 44,46) e US$ 13 (R$ 72,75) por dose, disse.

O Ministério da Saúde paga US$ 5,25 (R$ 29,29) por dose da vacina de Oxford/AstraZeneca importada da Índia e US$ 10 (R$ 55,79) pela Coronavac. Além disso, autorizou a compra do imunizante russo Sputnik V por cerca de US$ 12,48 (R$ 69,36) e da Covaxin, da Índia, a US$ 14,52 (R$ 80,69) por dose.

Os preços negociados pela Saúde ainda são bastante inferiores aos estimados por clínicas privadas para a compra, por exemplo, da Covaxin, que está em uso emergencial no país de origem, mas ainda tem dados de eficácia desconhecidos.

Em janeiro, a Associação Brasileira das Clínicas de Vacina (ABCVAC) informou que negocia 5 milhões de doses da vacina. Esse lote seria repassado às associadas com preço entre US$ 32,71 (R$ 181,9) e US$ 40,78 (R$ 226,78) por unidade. Todos esses imunizantes exigem a aplicação de duas doses por pessoa.

O governo federal já deu sinal verde, em janeiro, a um grupo de empresários que buscava vacinas para seus funcionários, desde que metade da carga fosse doada ao SUS. O Senado aprovou um projeto nesta semana que libera a compra à iniciativa privada, mas cobra a entrega de todas as doses ao SUS enquanto grupos prioritários não forem vacinados. Após esse período, metade dos lotes devem ainda ser doados à rede pública. Para valer, o texto precisa passar pela Câmara e ser sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Pelas regras atuais da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o uso emergencial de vacinas deve ser concedido "preferencialmente" ao SUS, o que pode exigir o registro definitivo do produto para a venda à rede privada. Hoje só o imunizante da Pfizer teria esse aval mais amplo, mas a empresa já disse priorizar as negociações com o governo federal.

Ex-proprietário de escola de inglês que leva seu nome e fundador do grupo Sforza, que tem investimentos em franquias como Taco Bell Brasil e Mundo Verde, Wizard chegou a anunciar que assumiria a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, no ano passado, mas foi barrado por Bolsonaro.

Wizard tornou-se defensor do "tratamento precoce" (uso de cloroquina e outras drogas sem eficácia contra a covid-19), que já foi aposta do governo Bolsonaro contra a covid-19, mas que virou palavra proibida para Pazuello após o Supremo Tribunal Federal (STF) e outros órgãos fecharem o cerco sobre o ministro em apurações que miram a entrega de drogas de eficácia contestada.

Como foi a conversa com o Ministério da Saúde sobre a compra de vacinas ao setor privado? E quais empresários participam das negociações?

Minha pergunta ao Elcio Franco (secretário-executivo do Ministério da Saúde) foi: qual o tamanho do grupo prioritário? São cerca de 70 milhões de pessoas. Ele me respondeu que devem ser imunizados em três meses. A partir do segundo semestre a iniciativa privada estaria liberada para esse processo de aquisição e distribuição.

É um movimento nacional com dezenas e dezenas de empresários de diversos setores. Estamos sendo cada vez mais bem reconhecidos e ao mesmo tempo apoiados. A vacina resolve não somente o problema da economia, mas da educação, turismo, restaurantes, bares e casas de festas. Eu prefiro deixar (o nome) do Luciano Hang. Se eu começar a citar o nome de um outro, vou deixar alguém magoado. São pessoas do bem. Que estão praticando a cidadania.

Há estimativa de quantas doses os senhores devem comprar ou qual investimento deve ser feito?

Estamos em fase de planejamento. Como cada um dos empresários já tem um grupo significativo de colaboradores, o plano inicial é atender os próprios colaboradores. No meu caso, tenho 50 mil no Brasil. Vou doar, não vou vender. E eles vão poder ter acesso à vacina. Agora, cada empresa vai ter a sua estratégia. Não é que vamos prejudicar o trabalho feito pelo SUS. Pelo contrário, é um trabalho solidário, paralelo ao SUS. Independentemente da pandemia, existe um programa nacional de imunização. Mas você, como consumidor, tem opção. Pode entrar na fila do SUS, ir no postinho, ser vacinado. Ou pode telefonar ao laboratório, ir até a sua casa e você recebe a mesma vacina. O que queremos dar é autonomia para o consumidor.

O grupo já abriu conversa com alguma farmacêutica?

Essa é uma preocupação alta que temos hoje. O mundo todo quer comprar vacina. Existe competição grande em termos de preço. Temos vacina a preço baixo, de US$ 8 por unidade. E, no preço alto, de US$ 13. Dentro dessa margem, é um valor aceitável, de acordo com a produção do fornecedor e tudo mais. Agora, por outro lado, a gente recebe... Recebi um fornecedor da China querendo vender a sua vacina por US$ 25. Duas vezes o preço que o mercado está pagando. Não tem nem condição de iniciar negociação com a pessoa, grupo, que está querendo praticar o preço duas vezes do que o mercado está pagando.

Os senhores podem dizer qual farmacêutica estão mirando? Pois esses preços de US$ 8 a US$ 13 são aqueles para venda em larguíssima escala, a um sistema único de saúde, por exemplo, como no Brasil. Qual farmacêutica considera que consegue trazer nesse momento a vacina?

Só vamos trabalhar com as empresas e fornecedores já cadastrados e aprovados pela Anvisa. Nada adianta conseguir uma vacina a US$ 2 ou US$ 3 que não tem comprovação, não está reconhecida. O que for aprovado, vamos trabalhar com aqueles fornecedores.

Há críticas sobre acabar com a fila única da vacinação. Qual a proposta dos senhores? Vão doar parte ao SUS, como até falam propostas do governo e do Senado? E a ideia é vacinar apenas os trabalhadores das suas empresas?

(O presidente do Senado) Rodrigo Pacheco abre a portinha (em projeto aprovado na Casa) para que grupos particulares possam fazer aquisição antes de totalidade da população prioritária ser vacinada. Mas condicionada à doação. Compra para uso particular e doa outra dose (ao SUS). Essa regulamentação é defendida pelo Senado. O que pretendemos, de fato, não é concorrer com o SUS. É ser solidário ao SUS. Oferecer alternativa de modo tal que a pessoa tenha a escolha, autonomia. Importante deixar claro que não vamos vender nada. Não é com objetivo comercial, financeiro, de lucratividade. Estamos unidos em causa humanitária. Se sou empresário, quero a vacina aos meus colaboradores. Se é um laboratório, para sua rede de laboratórios. Se é para uma rede de farmácias, para seus clientes no País todo. Não vou estar intermediando nem comprando nem vendendo. Cada um desses grupos que participam é que vão determinar.

Nesse cenário de demanda altíssima por imunizantes, briga entre países que investem bilhões, quais garantias os senhores têm de que vão conseguir trazer vacinas para a iniciativa privada do Brasil, que provavelmente não vai conseguir reunir recursos tão grandes como de outros países?

Vou fazer afirmação contrária à sua. Em seis meses vai ter vacina sobrando no mercado, o preço vai cair. O que hoje acontece: todos os países estão de alguma forma tentando conseguir aprovação de seu produto, ganhar espaço nesse mercado. São vários países que estão correndo noite e dia. O Brasil, através da Fiocruz e do Butantan, acredito que vai se tornar exportador. Vamos atender a demanda e vai ter sobra de vacina. Tão logo essa produção se equilibrar, vai sobrar vacina no mundo. A vacina da covid-19 hoje é uma novidade. Mas a partir do ano de 21, 22, 23, vai entrar no ciclo anual das vacinas. Esse mercado é novo, mas vai ser perene, constante e perpétuo.

Quando pretendem trazer as doses ao País?

Estamos trabalhando em harmonia, alinhados com o próprio Ministério da Saúde. Na medida em que há compras gigantescas, eles vão selecionando e, ao mesmo tempo, descartando alguns fornecedores. Vamos trabalhar alinhado com eles. No tempo, momento em que se aproxima da liberação, vamos fechando contratos antecipadamente. Não vamos deixar para o dia 1.º de julho para iniciar a negociação. Semana que vem vou até Santa Catarina me reunir com Luciano Hang, para criar um cronograma de como podemos ter uma previsibilidade de lotes, fornecedores e distribuição.

Há preferência ou restrição a alguma vacina?

Nossa prioridade é: vacina com maior grau de eficácia. E vacina que gere segurança ao usuário.

O senhor conversou com Bolsonaro ou Pazuello sobre compra de vacina no setor privado?

Na terça-feira estive com Pazuello. Ele é defensor, apoia que sociedade civil organizada participe desse movimento que de fato é a solução para crise sanitária que enfrentamos.

A partir de quando colaboradores receberem a vacina, eles estão aptos para voltar ao trabalho? Ou os senhores consideram que, como não há eficácia de 100%, não é tão simples, ou seja, 'tomou e pode voltar'.

Não pretendemos, nem é nosso plano, deixar empresas e indústrias fechadas até o dia que chegar finalmente a vacina ao colaborador. Estamos fazendo todo o empenho para voltar a atividade econômica, voltar o comércio em funcionamento, tomando medidas preventivas, sanitárias, que temos recebido através da própria orientação do Ministério da Saúde. Sabendo que existe o tratamento precoce, que salva vidas, independentemente da questão ideológica que alguns defendem e outros acusam, temos comprovação científica da eficácia do tratamento precoce desde que seja aplicado nos primeiros sintomas da doença. Não adianta ficar em casa e na hora que estiver com o pulmão comprometido começar o tratamento precoce. Aí não é mais precoce. Pacientes que estão levando a sério não saem da fase 1 (da doença). Resolve a doença no primeiro estágio.

Então, na leitura dos senhores, não é preciso esperar até a chegada da vacina para retomar um trabalho presencial. Só o tratamento precoce já permite o retorno?

Concordamos plenamente. Essa é nossa visão. Defendemos essa prática.

Há pesquisas que contestam, para dizer o mínimo, a eficácia do uso destes medicamentos do "kit covid", mesmo de forma precoce. Além disso, houve no Brasil distribuição massiva de cloroquina e hidroxicloroquina, com orientação do ministério e recomendação do presidente que fosse feito uso precoce. Mesmo assim, temos um número altíssimo de mortos. Não seria perigoso assumir essa postura de que um tratamento contestado por entidades importantes, como a OMS, já basta para a retomada ao trabalho presencial?

Esse é um assunto polêmico. Sendo assunto polêmico, vou recomendar que meu assessor encaminhe para você as maiores autoridades no combate à covid-19 no Brasil, especificamente, a Dra. Nise Yamaguchi, Dra. Luciana Cruz e Dr. Paulo Porto. Eles têm elementos científicos, de ordem técnica, que podem dar amparo para a sua inquietação.

Como avalia o trabalho de Pazuello na entrega de vacinas?

Estamos saindo do tema. Vamos deixar essa questão para outro momento.

Estadão
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