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Pesquisador do Inpe desenvolve modelo de previsão do tempo adotado pela Nasa

Nasa começou a usar a ferramenta no final de janeiro; ela permite fazer a prevenção de eventos climáticos, como chuvas e tempestades, com maior antecedência e mais precisão

7 fev 2020 - 17h26
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SOROCABA - Um novo modelo de previsão do tempo usado desde o dia 30 de janeiro pela Nasa, a agência espacial americana, permite fazer a prevenção de eventos climáticos, como chuvas e tempestades, com maior antecedência e mais precisão. O sistema foi desenvolvido por uma equipe de brasileiros e norte-americanos liderada pelo físico Saulo Ribeiro de Freitas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com sede em São José dos Campos, interior de São Paulo.

O novo modelo, que pode ajudar o setor agropecuário a melhorar as safras e a Defesa Civil a prever acidentes naturais, deverá ser adotado também pelo Brasil até 2021. O pesquisador brasileiro foi agraciado com um prêmio internacional pela conquista científica.

O pesquisador Saulo Freitas recebeu um prêmio da Nasa em reconhecimento ao seu trabalho para desenvolver um novo modelo de previsão do tempo
O pesquisador Saulo Freitas recebeu um prêmio da Nasa em reconhecimento ao seu trabalho para desenvolver um novo modelo de previsão do tempo
Foto: Inpe/Divulgação / Estadão

O sistema começou a ser desenvolvido a partir de 2016, quando o Inpe e a Nasa firmaram um convênio e Freitas foi designado para desenvolver uma nova formulação de física de nuvens e avançar na previsão das chuvas. "Foram três anos de trabalho, até conseguir desenvolver esse novo modelo. A Nasa passou o ano de 2019 todo testando e comparando com o antigo. Na virada do ano, foi decidido que o novo sistema tem desempenho muito superior ao anterior e foi feito um anúncio oficial para todos os usuários do mundo de que a partir de 30 de janeiro, a Nasa usaria o nosso modelo, que a gente chama de GF", relatou.

O cientista se baseou em modelos matemáticos que usam as leis da física para melhorar a descrição das nuvens e conseguir prever o clima com mais eficiência. "Aquela série enorme de dados da atmosfera coletados todos os dias por satélite é colocada em um supercomputador que gera uma fotografia. O modelo matemático parte dessa fotografia, integra as outras informações e mostra com mais precisão como a temperatura e a umidade irão evoluir, apontando onde vai chover. Aprimoramos essas equações incorporando a física mais sofisticada e mais realista, conseguindo melhoria não só na previsão das chuvas, mas em todos os aspectos meteorológicos relevantes."

Houve um ganho em antecedência, ou seja, na possibilidade de prever a chuva bem antes de acontecer, e na eficácia da previsão. "Essas melhorias levaram a Nasa a abandonar o modelo antigo e a adotar o que desenvolvemos."

Freitas prevê um impacto importante para os setores público ou privado que utilizam a previsão do tempo em suas atividades. "No agronegócio, será possível ter uma previsão de chuvas mais realista e trabalhar com dados confiáveis para programar o plantio e a colheita. Já a Defesa Civil poderá prever com mais antecedência e com maior dose de certeza a previsão de chuvas fortes que podem ter impacto em áreas sujeitas a deslizamentos e inundações, por exemplo."

Ele lembra que o uso adequado da ferramenta pode ajudar na prevenção de desastres naturais. "Vimos o que aconteceu em Minas Gerais e no Espírito Santo, em decorrência das chuvas. Certamente, com o novo modelo, a Defesa Civil teria ali uma informação mais precisa para se planejar e preparar a população para aqueles eventos extremos."

Conforme o pesquisador, o modelo adotado pela Nasa logo estará disponível no Brasil. O Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (Cptec/Inpe) já trabalha para ter essa nova formulação matemática em seu modelo global. "Vamos começar a fase de testes e, entre seis meses e um ano, o sistema estará ativado", disse Freitas.

Prêmio

Conforme o Inpe, o pesquisador brasileiro recebeu o Award for Scientific Achievement, importante prêmio internacional, por seu trabalho no grupo de modelagem e assimilação de dados climáticos (Gmao) da Nasa. O modelo desenvolvido por Freitas foi reconhecido por "aperfeiçoar esquemas de convecção rasa e profunda e pela recalibração da camada limite e da microfísica da nova versão do Geos (sistemas de observação da terra), o modelo climático da Nasa". O certificado reconhece que o brasileiro contribuiu para "a mais significativa melhoria de desempenho na história dos sistemas Geos"

Estadão
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