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A impressionante cabeça de lobo gigante de 30 mil anos encontrada com cérebro e presas intactos

Item encontrado em território gelado da Sibéria, o permafrost, por caçadores, pode dar pistas sobre passado evolutivo de espécies como cães e lobos modernos.

13 jun 2019 - 05h06
(atualizado em 19/6/2019 às 11h33)
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Cabeça tem 40 cm de largura e é muito maior que a de um lobo atual
Cabeça tem 40 cm de largura e é muito maior que a de um lobo atual
Foto: Albert Protopopov / BBC News Brasil

Como um mensageiro da Era do Gelo, a cabeça de um lobo gigante encontrada na Sibéria tem sido estudada por cientistas da Rússia, Suécia e Japão como testemunho precioso do Pleistoceno.

Ela tem tem mais de 30 mil anos de idade, inclui presas e até mesmo um cérebro incrivelmente preservados. Trata-se da primeira cabeça intacta de um lobo adulto da Era do Gelo. Outro atributo importante é seu comprimento, de 40 cm - muito maior que a de um lobo atual, que mede entre 23 e 28 cm.

Os cientistas esperam que os restos ajudem a decifrar o que aconteceu com esse grande predador que vivia na Europa e na Ásia e com outras espécies, como o mamute-lanoso.

A cabeça foi apresentada ao público em uma exposição no Museu Nacional de Ciência e Inovação, em Tóquio.

Como foi a cabeça encontrada?

À medida que partes do permafrost (como é chamado a grande faixa de solo congelado de rocha e terra) da Sibéria derretem devido às mudanças climáticas, mais e mais vestígios extraordinários do passado estão sendo descobertos.

Uma das descobertas mais conhecidas é a de Yuka, um mamute-lanoso bebê perfeitamente preservado encontrado em 2011, e que viveu há 28 mil anos na região de Yakutia.

A cabeça do lobo foi encontrada no ano passado na mesma região, no rio Tirekhtyakh, por caçadores locais de presas de mamute.

Yuka, um bebê mamute, foi achado em perfeito estado em 2011
Yuka, um bebê mamute, foi achado em perfeito estado em 2011
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Depois que a China proibiu o comércio de estatuetas e outros produtos de marfim feitos com presas de elefantes, os caçadores de presas no permafrost siberiano viram a oportunidade de um negócio lucrativo.

Foi assim que encontraram a cabeça do lobo - entregue por eles a Albert Protopopov, chefe do departamento de estudos sobre mamutes da Academia de Ciências de Yakutia.

Como a idade dos restos mortais foi determinada?

Protopopov não sabia a idade da cabeça, e contatou especialistas na Suécia.

David Stanton, pesquisador em paleogenética evolutiva do Museu de História Natural da Ciência na Suécia, foi um dos cientistas que ajudou a definir a idade.

"Fizemos datação por radiocarbono de um pedaço de tecido com uma empresa norte-americana chamada Beta Analytic", explicou Stanton à BBC News Mundo.

"A idade que determinamos foi entre 32.560 anos e 31.480 anos (com precisão de 95%). Outra equipe independente chegou ao valor de 32.705 a 31.690 anos, então podemos dizer com confiança que o espécime tem 32.000 anos, com uma margem de erro não superior a 500 anos ".

DNA

Cabeça de lobo foi encontrada por caçadores na Sibéria
Cabeça de lobo foi encontrada por caçadores na Sibéria
Foto: Albert Protopopov / BBC News Brasil

Protopopov também colaborou com a escola de medicina da Universidade de Jikei, em Tóquio, onde uma tomografia computadorizada da cabeça foi realizada para revelar os detalhes dos tecidos.

Os cientistas agora estudarão o DNA do animal, para compará-lo com o dos atuais lobos.

O lobo encontrado na Sibéria tinha presas mais poderosas do que as espécies modernas e acredita-se que ele podia caçar animais grandes, como bisões e cavalos.

"O próximo passo é tentar extrair o DNA dos restos mortais do lobo. A dificuldade é que o DNA em tais espécimes antigos está frequentemente danificado", explica Stanton.

"Tentamos extrair DNA sem muito sucesso da pele, então agora vamos tentar extraí-lo dos dentes. Se conseguirmos DNA de boa qualidade, tentaremos sequenciar o genoma do lobo, e isso nos permitirá procurar responder a diferentes perguntas".

"Por exemplo, qual é a relação entre esses lobos extintos e os atuais? Eles têm genes em comum? Podemos encontrar no genoma as razões por que eles foram extintos?"

Stanton destaca que uma possibilidade é que os lobos tenham se extinguido por razões meteorológicas.

"Se for este o caso, uma melhor compreensão dessas extinções pode nos ajudar a prever e prevenir futuras extinções devido às mudanças climáticas."

Os pesquisadores esperam que os restos também ofereçam pistas sobre a fauna do Pleistoceno.

A cabeça também poderia ajudar a entender o passado evolutivo de espécies como os cães e os lobos atuais - acredita-se que estes tenham se separado a partir de um ancestral comum há pelo menos 27 mil anos.

"É muito raro encontrar espécimes com este nível de preservação, então esta cabeça é muito valiosa. Acreditamos que é um espécime de um 'lobo das estepes do Pleistoceno', uma linhagem de lobos que se tornou extinta provavelmente entre 20.000 e 30.000 anos."

"Espécimes extraordinários como este podem nos dar informações sobre por que essa linhagem foi extinta quando os lobos modernos sobreviveram."

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