É falso que Polícia Civil de SP tenha apreendido cerveja Heineken adulterada com metanol
ATÉ O MOMENTO, SÓ HÁ CASOS DE BEBIDAS DESTILADAS ALTERADAS COM A SUBSTÂNCIA; VÍDEO QUE FAZ ALERTA FOI PRODUZIDO COM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
O que estão compartilhando: que a Polícia Civil de São Paulo teria apreendido lotes da cerveja Heineken adulterados com metanol em distribuidoras de bebidas da região metropolitana da capital paulista. Esta seria a primeira marca de cerveja a ter a adulteração comprovada com a substância.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A Polícia Civil de São Paulo informou que não fez nenhuma apreensão de cerveja com metanol até o momento. A cervejaria negou ter histórico de falsificação e adulteração em larga escala e disse que qualquer adição de metanol em cervejas seria facilmente percebida, o que não é rentável para falsificadores. Além disso, o vídeo investigado foi manipulado com uso de inteligência artificial. O homem que aparece na imagem é o jornalista Reinaldo Gottino, apresentador do programa Cidade Alerta, da Record, mas o programa não veiculou notícias sobre adulteração de cervejas com metanol.
Saiba mais: Pelo menos dois perfis diferentes compartilharam o mesmo conteúdo no Instagram e, juntas, as postagens somam quase 65 mil curtidas. Pelos comentários, é possível identificar que algumas pessoas perceberam o uso de inteligência artificial, mas outras acreditaram no conteúdo.
Nos últimos dias, o Estadão Verifica já desmentiu outros conteúdos sobre contaminação de produtos com metanol, envolvendo o refrigerante Coca-Cola, café e até leite.
Não há registro de contaminação de refrigerantes da Coca-Cola com metanol
Não existe alerta sobre leite contaminado com metanol; vídeo usa IA de Renata Vasconcellos
Vídeo tem sinais de uso de IA
Embora o vídeo use a imagem de Gottino, do Cidade Alerta, da Record, o programa de TV não veiculou notícia sobre o tema. A própria emissora negou ter tratado do tema e disse que o vídeo é falso.
O conteúdo usou manipulação por IA para imitar a voz de Gottino e sincronizar os movimentos da boca do jornalista com a narração. Há sinais claros de manipulação: a fala é robótica em alguns trechos, não há cadência e o ritmo é quebrado em alguns pontos. Também é possível perceber que as imagens usadas ao fundo do vídeo foram criadas com inteligência artificial.
Por fim, o vídeo usa uma vinheta para simular um conteúdo de telejornal. O áudio, contudo, é de uma das vinhetas já usadas pelo Jornal Nacional, da TV Globo, e não pelo Cidade Alerta.
Contaminação de cerveja é possível, embora mais rara
Desde o início das suspeitas de contaminação de bebidas alcoólicas por metanol, não foram registrados casos de cervejas afetadas pelo problema.
Conforme publicou o Estadão, especialistas afirmaram que é possível adulterar bebidas fermentadas - como vinho e cerveja - com metanol, desde que haja lucro. Mas as bebidas destiladas são um alvo mais comum, pelo maior teor alcoólico, pelo preço e pela maior facilidade em fazer a adulteração.
Em nota, a Heineken negou casos de adulteração em larga escala de seus produtos e disse que não há registros de intoxicação por metanol envolvendo cervejas.
"De acordo com especialistas do setor, o risco de adulteração da cerveja com metanol é extremamente baixo, uma vez que qualquer adição dessa substância alteraria o aroma e o sabor da bebida de forma perceptível, tornando essa prática criminosa pouco viável e facilmente identificável", diz a nota.
Em entrevista à Eldorado FM, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recomendou que a população evite consumir bebidas destiladas, principalmente as incolores, até que as questões estejam esclarecidas. Isso porque o metanol tem cheiro de álcool comum e, assim como ele, é incolor. Os danos ao organismo, contudo, são severos, podendo levar à cegueira e até à morte.
Por que é mais fácil detectar metanol na cerveja do que em destilados: 'Não faz sentido econômico'
Comprar destilados e outras bebidas alcoólicas nos supermercados é seguro?
Brasil tem 16 casos de intoxicação confirmados e duas mortes
O último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde sobre intoxicação por bebidas adulteradas com metanol registra 16 casos, incluindo dois óbitos confirmados. Ainda há 209 casos em investigação, o que soma 225 registros junto ao ministério. Os dados são do último dia 5 de outubro.
A maior parte das notificações são no Estado de São Paulo - 192 registros, com 14 casos confirmados e 178 em investigação. Os dois óbitos ocorreram na capital. Os demais casos estão espalhados em mais 12 Estados: Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pernambuco, Paraná, Rondônia, Piauí, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraíba e Ceará.
Ainda há 13 mortes suspeitas sendo investigadas: sete em São Paulo, três em Pernambuco, uma no Mato Grosso do Sul, uma na Paraíba e uma no Ceará.
