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Se presidente da OAB quiser saber como pai desapareceu eu conto, diz Bolsonaro

29 jul 2019 - 15h25
(atualizado às 16h04)
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O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira que pode contar ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, como o pai dele desapareceu no período militar, afirmando que ele teria participado do grupo "mais sanguinário" da Ação Popular, movimento que combateu a ditadura no Brasil.

Presidente Jair Bolsonaro
11/07/2019
REUTERS/Adriano Machado
Presidente Jair Bolsonaro 11/07/2019 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

Irritado com a OAB, que tem questionado ações propostas pelo governo, Bolsonaro reclamou que a entidade teria impedido a quebra do sigilo telefônico do advogado de Adélio Bispo, que o atacou com uma faca durante a campanha eleitoral do ano passado. A OAB e a própria Polícia Federal negaram que tenha sido pedida uma liminar pela OAB para impedir o acesso.

"Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de uma dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto para ele", disse Bolsonaro.

"Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco, e veio desaparecer no Rio de Janeiro", acrescentou.

O pai do presidente da OAB, Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, era de fato parte da Ação Popular (AP), de acordo com a Comissão Nacional da Verdade, mas não há indícios de que tenha agido em Pernambuco. Ele morava em São Paulo e passava alguns dias na casa dos pais, no Rio de Janeiro, quando teria sido preso.

De acordo com relatório da Comissão, Fernando Oliveira foi visto pela última vez em fevereiro de 1974, quando teria sido preso no Rio de Janeiro por agentes do DOI-Codi. Em buscas por ele, a família recebeu diversas negativas de que tivesse sido preso, mas em suas investigações a Comissão encontrou um relatório do Ministério da Aeronáutica da década de 1990 em que se informava ao Ministério da Justiça que ele havia sido preso em 23 de fevereiro de 1974 e era considerado desaparecido desde então. Ele tinha 26 anos.

Apenas em 2014, com o relatório da Comissão da Verdade, Fernando Oliveira foi considerado oficialmente morto.

A Anistia Internacional criticou as declarações do presidente e cobrou que o país assuma suas responsabilidades com as famílias das vítimas.

"É terrível que o filho de um desaparecido pelo Regime Militar tenha que ouvir do presidente do Brasil, que deveria ser o defensor máximo do respeito e da Justiça no país, declarações tão duras. O Brasil deve assumir sua responsabilidade, e adotar todas as medidas necessárias para que casos como esses sejam levados à Justiça", disse a diretora-executiva da Anistia Internacional, Jurema Werneck.

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