'Testou a maior democracia da América Latina’: imprensa internacional repercute condenação de Jair Bolsonaro por trama golpista
Primeira Turma do STF formou maioria pela condenação do ex-presidente e de outros sete réus por tentativa de golpe de Estado
Jair Bolsonaro e outros sete aliados foram condenados, por voto da maioria do Supremo Tribunal Federal (STF), por tentativa de golpe de Estado nesta quinta-feira, 11. A imprensa internacional acompanha de perto as movimentações em torno do assunto -- classificando o caso como "o julgamento mais politicamente relevante do Brasil". O processo tem repercussão global, sobretudo pelas pressões do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que acusa uma suposta “caça às bruxas” contra Bolsonaro. Nesta quinta-feira, não foi diferente: veículos estrangeiros destacaram a decisão e suas implicações no cenário político internacional. Confira!
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No jornal El País a condenação por tentativa de golpe de Estado de Jair Bolsonaro virou manchete. O jornal considerou o julgamento como o "mais politicamente relevante do Brasil nos últimos anos” e deu ênfase ao fato desta ser a primeira vez que a Suprema Corte punirá militares de alto escalão por ataque à democracia. “O ultra-direitista liderou um plano de golpe para não entregar o poder ao seu rival, Lula da Silva, depois de perder as eleições de 2022”, complementaram.
O jornal The Guardian destacou o assunto em sua página principal, com o título "Suprema Corte do Brasil considera Bolsonaro culpado por planejar golpe militar". Na matéria, explicam que o “populista de extrema direita” agora enfrentará uma sentença de décadas por liderar a conspiração criminosa.
No The New York Times o assunto não teve tanto destaque no portal, mas o veículo publicou uma matéria com o título "Suprema Corte do Brasil está em curso para condenar Bolsonaro em conspiração de golpe" e destacou: “Isso marca um momento crucial em um julgamento de meses que testou a maior democracia da América Latina, dominou as manchetes em casa e no exterior e lançou dúvidas sobre o futuro legal e político da figura de direita mais poderosa do Brasil”.
La Nacion chamou o dia de histórico e também destacou a notícia. O jornal ainda chamou Bolsonaro de “o grande ausente”, por não ter participado presencialmente das audiências por “supostos problemas de saúde, enquanto sua defesa pedia sua absolvição”.
Aljazeera também deu destaque à condenação de Bolsonaro, tendo aberto um painel para que os leitores acompanhem o julgamento “minuto a minuto”. Nesse espaço, para além das movimentações dos ministros, levantaram análises sobre a decisão sinalizar “mudança na abordagem do Brasil para a prestação de contas militar” e analisaram “como o governo Trump pode responder”.
O Le Monde foi outro veículo que destacou o assunto nesta quinta-feira. O jornal ressaltou que a pena do ex-presidente Jair Bolsonaro pode exceder 40 anos de prisão e que o julgamento "dividiu fortemente uma opinião ultrapolarizada", citando uma "crise sem precedentes entre a maior potência da América Lartina e os EUA".
"Bolsonaro é considerado culpado de planejar golpe", é assim que o assunto é chamado no topo do portal da BBC. O jornal diz que os juízes "descobriram" que a mobilização golpista de Bolsonaro culminou nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. As críticas de aliados do ex-presidente também foram citadas. "Embora Bolsonaro já esteja impedido de concorrer a cargos públicos até 2030 por alegar falsamente que o sistema de votação do Brasil era vulnerável a fraudes, ele declarou sua intenção de lutar contra essa proibição para poder concorrer a um segundo mandato em 2026", escreveram.
Mais sobre o julgamento
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal formou maioria pela condenação dos réus no caso da trama golpista. Sendo assim, com os votos dos ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, estão condenados por organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência ou grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL); ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, Walter Braga Netto; ex-ajudante de ordens Mauro Cid; almirante de esquadra que comandou a Marinha, Almir Garnier; ex-ministro da Justiça, Anderson Torres; ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno; o general e ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira.
Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-presidente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que também é alvo da ação penal, é o único que responde por apenas três desses cinco crimes: organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
A única divergência veio do ministro Luiz Fux, que votou pela absolvição de Jair Bolsonaro, assim como dos réus Almir Garnier, Alexandre Ramagem, Sérgio Nogueira, Augusto Heleno e Anderson Torres. Em paralelo, Fux pediu as condenações de Mauro Cid e Walter Braga Netto – mas apenas pelo crime de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. Na prática, porém, seu voto não interfere no processo -- pois a decisão é pela maioria e o placar foi 4x1.
O julgamento teve início na terça-feira passada e está no seu quinto dia. As sessões já contaram com a leitura do relatório geral por parte de Alexandre de Moraes, relator do caso; a manifestação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, que reforçou a denúncia; e o pronunciamento final da defesa dos oito réus. Nesta semana, os ministros votaram pela condenação, ou não, dos envolvidos tidos como "núcleo crucial" do plano de golpe de Estado e, agora, analisam a dosimetria das penas.
