Quem é a deputada que levou bebê de 4 meses para o protesto o plenário da Câmara
Julia Zanatta é deputada desde 2022 e acumula polêmicas dentro e fora do Congresso
Uma das cenas mais emblemáticas e rechaçadas da manifestação de parlamentares da oposição no Congresso foi a entrada da deputada Júlia Zanatta (PL-SC) no plenário Ulysses Guimarães com sua filha no colo. Segundo a deputada, a criança foi levada para lá para que pudesse ser amamentada durante o bloqueio da pauta na Câmara. Já os críticos à atitude afirmam que o bebê, de apenas quatro meses, foi usado como escudo humano em meio à confusão.
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A versão apontada por parlamentares de esquerda e pessoas contrárias ao ato bolsonarista - que protesta contra a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro - foi corroborada pela própria Zanatta em suas redes sociais. Em uma publicação no X (ex-Twitter), a deputada disse que os “ataques ao bebê” visam diminuir o alcance da criança e sua utilização no evento. O caso chamou a atenção do deputado Reimont (PT-RJ), que acionou o conselho tutelar contra a mãe.
Os que estão atacando minha bebê não estão preocupados com a integridade da criança (nenhum abortista jamais esteve) eles querem é INVIABILIZAR o exercício profissional de uma MULHER usando SIM uma criança como escudo 🛡️
CANALHAS!
— Júlia Zanatta (@apropriajulia) August 7, 2025
Protagonista da cena, Zanatta tem 40 anos e é natural de Criciúma, no Sul de Santa Catarina. Ela foi eleita para o cargo nas eleições de 2022 com 111,5 mil votos. Defensora de bandeiras conservadoras como o armamento civil, homeschooling, proibição do aborto e a liberdade de expressão irrestrita, ela se apresenta nas redes sociais como aliada de Bolsonaro e de seu filho, também deputado, Eduardo.
Quem é Julia Zanatta
Em 2025, a deputada participou de 19 sessões presenciais ou remotas do plenário da Casa. Até a última modificação desta reportagem, Zanatta teve 46 dias de ausências justificadas e um dia de falta sem justificativa. Os dados são do portal da Câmara dos Deputados. Atualmente, ela integra duas comissões legislativas: a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania; e a Comissão Especial sobre Direito Digital.
Quando foi eleita, em 2022, ela declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter um patrimônio de R$ 2.525.000. A prestação de contas deu conta de que Zanatta tem dois apartamentos em Florianópolis, R$ 85 mil em espécie, dois terrenos em Morro da Fumaça, um carro e R$ 45 mil na poupança.
Em 2020, ela se candidatou à prefeitura de Criciúma nas eleições, mas só recebeu 6.953 votos, ou 7,03% do eleitorado. O vencedor da disputa foi Clésio Salvaro (PSDB), que levou o pleito com 71.615 votos, 72,36% do total. Ela também é um dos nomes cotados para a disputa pelo Senado por Santa Catarina em 2026. Porém, a ida de Carlos Bolsonaro (PL-RJ) para o estado pode alterar a estratégia do partido na Casa Alta.
Coroa floral
Julia Zanatta é conhecida por sempre vestir vestidos coloridos e usar uma tiara com flores falsas. O adereço já foi criticado por influenciadores como Felipe Neto, que alegam que poderia se tratar de uma simbologia nazista. Em resposta, Zanatta afirmou que usa o traje típico germânico, muito comum na Oktoberfest, em homenagem a Blumenau, seu reduto eleitoral. Ela nega qualquer relação com a ideologia e alega que o uso das flores nos cabelos se tornou uma marca registrada durante a campanha.
Originalmente, tiaras florais não são parte da simbologia das ideias defendidas por Adolf Hitler. Movimentos neonazistas contemporâneos, entretanto, associam os adereços à estética da "pureza ariana", do nacionalismo romântico alemão ou do movimento völkisch (movimento ufanista germânico do início do século 20).
Além disso, a propaganda nazista utilizava imagens elaboradas para criar o ideal de "povo alemão puro". Fotografias e filmes da época retratavam frequentemente mulheres com flores nos cabelos, participando de festivais rurais ou rituais pagãos reinterpretados.
Outras polêmicas
Em seu primeiro ano de mandato, Zanatta se envolveu em um caso de assédio durante uma reunião da Comissão de Segurança Pública da Câmara. Ela acusou o deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA) de importunação sexual após ele se aproximar pelas costas para cochichar durante uma discussão. O caso foi levado ao Conselho de Ética da Casa, mas foi arquivado após pedido de desculpas do parlamentar.
No final daquele ano, ela foi reembolsada por uma hospedagem em Xanxerê, no Oeste de Santa Catarina, por uma estadia para o final de semana do casamento da colega de bancada Carol De Toni (PL-SC). Segundo o Portal Transparência da Câmara dos Deputados, ela e seu marido passaram duas noites no hotel Seville Park, cujas diárias de R$ 780 foram cobertas pela cota parlamentar da Câmara.
Em nota, Zanatta afirmou que cumpriu agendas no Oeste de Santa Catarina na mesma data do casamento e que tem direito à cota parlamentar. O levantamento "Monitor de Assédio Judicial contra jornalistas no Brasil 2024" da Abraji, coloca Zanatta como uma das pessoas que mais apresentou ações contra jornalistas e que foram classificadas como assédio judicial, com mais de uma dezena de casos.
Casamento
A sulista é casada com o advogado e assessor do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Guilherme Colombo. Ele foi banido da Uber em novembro de 2022 por um suposto episódio de racismo. O caso ganhou repercussão em 2024, após Colombo mover um processo contra a plataforma para voltar a utilizar os serviços.
Em 2023, ele se envolveu em uma briga na sede do PL em Balneário Rincão, no sul de Santa Catarina. As gravações de segurança mostram o momento em que o advogado entra no escritório político aos gritos e dá tapas em duas pessoas. Em seguida, os agredidos reagem e cercam Colombo. Posteriormente, ele ainda atinge uma terceira vítima com um soco.
A parlamentar usou as redes sociais para justificar a ação do companheiro e alegou que foi constrangida no local. Por isso, seu marido foi defendê-la, o que é “belo e moral", em suas palavras.