PT comemora 30 anos com desafio de eleição sem Lula
Nesta quarta-feira o Partido dos Trabalhadores (PT) comemora 30 anos de fundação. A data será festejada durante o Congresso Nacional do partido, que será realizado entre os dias 18 a 20 de fevereiro, em Brasília. No encontro, os 1.350 delegados partidários se reunirão com lideranças para traçar estratégias com o objetivo vencer as eleições presidenciais de 2010 e dar continuidade aos projetos iniciados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo nota divulgada no site do partido, os diretórios estaduais e municipais também devem promover festividades alusivas à data. No diretório de São Paulo, a comemoração será a partir das 21h no Clube Homs. No Rio Grande do Sul, a festa será em Porto Alegre, a partir das 20h, no Clube Clube Caixeiros Viajantes.
Sucessão presidencial
Sem Lula como candiato à Presidência pela primeria vez desde a redemocratização, o partido enfrentará o desafio de eleger um sucessor petista no cargo mais importante do País. Para fazer frente à candidatura do PSDB, que também já governou o Brasil por oito anos, o PT aposta suas fichas na ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. Apesar de nunca ter disputado uma eleição, Dilma conta com o apoio irrestrito do partido. Lideranças acreditam que a popularidade de Lula ajudará a transferir votos para a ministra.
Em artigo publicado nesta quarta-feira no jornal Folha de S.Paulo e no site oficial do partido, o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra, e o presidente Ricardo Berzoini, que deixa o cargo após quatro anos de gestão, afirmam que, ao longo destes 30 anos o PT sofreu várias mudanças, "mas nunca mudou de lado". "No 30º aniversário, celebramos um partido democrático, popular e socialista que soube unir setores diferentes da esquerda democrática num projeto transformador da sociedade brasileira", afirmou o artigo.
Os presidentes afirmaram também que o partido foi fundado em um momento em que o sistema político bipartidário da ditadura estava esgotado. O PT foi criado com base em um projeto de uma nova democracia política, com origem nas lutas sindicais e populares. "O PT na origem era um pequeno partido, com uma imensa vontade de crescer. O PT de hoje governa o Brasil, cinco Estados e mais de 500 prefeituras".
Militância
O artigo afirma também que a militância nas ruas ajudou o PT a crescer ao longo dos anos. Ao superar os desafios impostos na montagem do partido, a militância mostrou sua a capacidade de lutar por objetivos "ousados, porém plausíveis".
"Empunhamos bandeiras históricas, como a da luta pela terra, pela saúde, pela educação, pelo emprego, pelos direitos humanos, pela integração continental, pela defesa das minorias e contra a discriminação. Assim, superamos o dilema de ser partido de massas ou de quadros e nos fortalecemos como canal de representação e de participação de milhões de brasileiros".
Saiba mais sobre a história do PT
Fundado no dia 10 de fevereiro de 1980, em evento no Colégio Sion, em São Paulo, o Partido dos Trabalhadores reuniu grande parte da esquerda brasileira. O surgimento do partido era impulsionado, entre outros fatores, pela popularidade do movimento operário do ABC paulista, com as grandes greves de 1978 a 80, pelo retorno de diversos militantes de esquerda do exílio, com a anistia, em 1979, e a ascensão do movimento de base da Igreja Católica, inspirado na Teologia da Libertação.
"Nosso berço foi o estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, onde aconteciam as assembleias do sindicato dos metalúrgicos do ABC", disse Hamilton Pereira, um dos fundadores do partido. Luiz Inácio Lula da Silva liderava os metalúrgicos em suas greves, as primeiras grandes manifestações populares no País desde o fim dos anos 60.
Pereira afirmou que, no ato de fundação do partido, estavam representantes do movimento operário, intelectuais universitários, comunidades eclesiais de base e militantes da esquerda clandestina (muitos oriundos da luta armada). "A principal motivação, o que uniu aquelas pessoas, foi o desejo de interromper a ditadura militar", disse Arlete Sampaio, outra fundadora do PT.
Na década de 80, o PT participou de todas as eleições, mas conquistou apenas algumas prefeituras e vagas no parlamento. A consolidação, no plano eleitoral, veio nos anos 90, após o impeachment de Fernando Collor. Em 1989, o alagoano derrotara Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno das primeiras eleições presidenciais diretas do País desde os anos 60. "O que marcou a trajetória do PT: nos primeiros anos foi a luta pela redemocratização do país. Em seguida , a luta das Diretas Já. Depois, fizemos a luta pelo impeachment do Collor", afirmou Arlete.
O amplo movimento da opinião pública contra Collor, em virtude de denúncias de corrupção, elevou Lula à condição de favorito para sucedê-lo. A estabilização da inflação, com o Plano Real, em 1994, entretanto, construiu as bases para que Fernando Henrique Cardoso lhe impingisse sua segunda derrota em uma disputa presidencial. O PT, por sua vez, não parou de ampliar sua participação na administração pública e nos parlamentos.
Lula também perdeu para Fernando Henrique Cardoso, ainda no primeiro turno, em 1998, logo após ter sido aprovada a emenda constitucional que permitia a reeleição, em 1997. Foi em sua quarta disputa presidencial, em 2002, que o ex-líder operário conseguiu chegar à Presidência, derrotando o tucano José Serra no segundo turno.
O programa do PT passou por diversas reformulações desde sua fundação. Isso fez com que, ao longo dos anos, grupos inicialmente aglutinados em torno do partido se afastassem da legenda. O PT se declara um partido que visa ao socialismo, por exemplo, mas a definição do conceito não é unânime entre as inúmeras correntes políticas internas. Uma coalizão conhecida como Campo Majoritário comanda atualmente o partido, tendo pouco mais de 50% dos votos no diretório nacional. Entre as correntes minoritárias mais conhecidas, estão a Democracia Socialista (DS) e Movimento PT.
Com informações da Agência Brasil