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Política

PF: PL omitiu parecer que descartava fraude nas urnas

Investigações apontam que Bolsonaro, Valdemar Costa Neto e dono do Instituto Voto Legal confirmaram confiabilidade das urnas, mas omitiram

28 nov 2024 - 17h21
(atualizado às 18h22)
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Valdemar Costa Neto e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
Valdemar Costa Neto e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)
Foto: Carla Carniel/Reuters

As investigações da Polícia Federal que levaram ao indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 pessoas por abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa indicam que o presidente do Instituto Voto Legal (IVL), engenheiro Carlos Rocha, atestou a confiabilidade das urnas eletrônicas em sua análise, mas apresentou em relatório conclusões opostas, usadas pelo PL para tentar anular o resultado das eleições presidenciais de 2022.

Naquele ano, o IVL prestou serviço ao PL na fiscalização da apuração eleitoral. No entanto, segundo a PF, em 22 de novembro de 2022, a legenda formalizou uma representação ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), solicitando, sem embasamento científico, a anulação de urnas eletrônicas fabricadas antes de 2020, baseando-se em argumentos falaciosos sobre falhas nos modelos.

As investigações apontam que tanto Rocha quanto outros envolvidos, como Valdemar Costa Neto e Bolsonaro, estavam cientes de que os argumentos técnicos apresentados eram falsos, mas ainda assim prosseguiram com a petição, tentando descreditar o processo eleitoral de 2022. Rocha está entre os 37 indiciados pela PF.

De acordo com o relatório da Polícia Federal, ficou evidenciado que Rocha propagou informações contrárias à verdade. Apesar da recomendação de retificação do relatório do IVL pela empresa Gaia Innotech, do empresário e estatístico Éder Balbino, ele não fez as correções necessárias, e, ao contrário, participou de uma coletiva de imprensa, divulgando dados sabidamente falsos, conforme apontam os investigadores.

A sequência de mensagens e interações entre Carlos Rocha e Éder Balbino, captadas pela Polícia Federal, mostram a tentativa do suspeito de encontrar indícios de fraude nas eleições presidenciais de 2022, relacionadas ao modelo de urna eletrônica utilizado.

Em uma troca inicial, Carlos Rocha pergunta: “Já temos algumas confirmações de correção ou indícios de manipulação?”. Éder responde: “Infelizmente não. Tomamos a decisão de gastar um tempo inicial preparando a base para deixá-la bem mais fácil para encontrar indícios em múltiplas trilhas”.

Os dois continuaram trocando mensagens e no dia 4 de novembro de 2022, às 13h07, após uma videoconferência, Rocha enviou uma planilha intitulada 'VOTOS_T1E2.xlsx' com a mensagem: “Esta base traz o modelo ANO da urna em cada seção eleitoral.” 

Durante outra videoconferência, Carlos Rocha enfatizou: “Precisamos responder à pergunta, objetivamente, que se a eleição tivesse usado somente as urnas eletrônicas modelo 2020, o Bolsonaro teria vencido as eleições?”, Éder respondeu: “Ok”.

Em 7 de novembro, Éder reconheceu que os novos dados não corroboravam a tese de favorecimento ao candidato Lula em função do modelo de urna. Mesmo com a ausência de evidências concretas, Carlos Rocha seguiu buscando validações para a tese de fraude.

Em 9 de novembro, ele encaminhou a Éder mensagens enviadas por Tony Calleri França, engenheiro graduado em Engenharia da Computação pelo ITA, sobre o “código identificador da urna eletrônica”. De acordo com a Polícia Federal, as mensagens e um áudio de Tony detalharam o procedimento técnico, afastando qualquer possibilidade de fraude com base no modelo de urna.

Mesmo diante das evidências de que não houve fraude no pleito de 2022, os investigados ainda insistem em identificar algum dado que pudesse colocar em descrédito o processo eleitoral, evidenciando o dolo que culminou nos fundamentos falsos apresentados na Representação Eleitoral peticionada pelo Partido Liberal”, diz a PF.

Em uma mensagem analisada pelos investigadores, Balbino informa a Rocha que enviou um e-mail com uma série de ressalvas sobre o relatório preliminar que seria apresentado pelo PL.

No documento, obtido pela Polícia Federal, Balbino aponta diversas inconsistências na versão inicial do relatório elaborado por Rocha. Ele também afirma que é possível relacionar cada arquivo de log de urna ao respectivo boletim de urna, pois o nome do arquivo segue um padrão que inclui o código do município, os números da zona e da seção eleitoral.

Essa constatação indica que os resultados podem ser auditados individualmente por urna, eliminando o risco de fraude – uma conclusão que contrasta diretamente com a apresentada pelo PL.

Em 20 de novembro, poucos dias antes da divulgação do relatório, Balbino expressou preocupação com a publicação da versão final. Ele escreveu a Rocha: “Preciso ver o relatório antes dele sair. Estou inseguro ainda se devo permanecer no Brasil esses dias ou sair”.

Além disso, Balbino compartilhou com um sócio da empresa Gaio sua apreensão sobre como o relatório seria recebido internamente. “Estou querendo chamar toda a equipe para uma sala e explicar o contexto. Talvez seja bom eles também saberem o que aconteceu, de não concordarmos com o relatório”, desabafou.

Dois dias depois, em 22 de novembro, o PL realizou uma coletiva de imprensa para levantar suspeitas sobre os modelos mais antigos de urnas e questionar o resultado das eleições, ignorando as advertências feitas por Balbino.

Na ocasião, Carlos Rocha afirmou: “Quando nós fomos analisar as urnas antigas, é impossível associar o registro de cada atividade ao hardware, ao equipamento físico que teria gerado aquela atividade. Em todas as urnas modelos antigos, o código é inválido. Então é impossível associar aquela atividade com a urna que realizou”.

De acordo com a PF, o documento de Balbino, que destacava as inconsistências na versão preliminar do relatório apresentado por Rocha, é “a prova material de que os investigados tinham plena ciência de que os argumentos que embasaram a Representação eleitoral do PL eram falsos, não havendo qualquer vulnerabilidade nas urnas eletrônicas que pudessem desacreditar o pleito de 2022”.

Os investigadores concluíram ainda que os envolvidos “adotaram a referida estratégia com a finalidade de servir de fundamento para a tentativa de Golpe de Estado, que estava em curso”.

O Terra tenta contatar a defesa dos investigados. O espaço segue aberto para manifestações. 

Fonte: Redação Terra
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