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Política

Centro ou periferia? Veja onde está o eleitorado mais fiel dos pré-candidatos à prefeitura de SP

'Estadão' analisou a votação de Boulos, Nunes, Tabata, Kim e Salles nas eleições mais recentes para deputado federal e traz o resultado em mapas interativos

19 nov 2023 - 17h10
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O aquecimento para as eleições para a prefeitura de São Paulo em 2024 tem sido marcado por acenos de três dos cinco principais pré-candidatos para a periferia da cidade. A relação de vida com a Zona Sul deve ser um ponto em comum a ser explorado pelo atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), e pelos deputados federais Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB). Mas fica a pergunta: em que lugares da cidade realmente está o eleitorado mais fiel deles: no centro ou na periferia?

Para chegar a uma resposta, o Estadão analisou a votação desses três pré-candidatos, além de Kim Kataguiri (União Brasil) e Ricardo Salles (PL), que também se colocam para a disputa, nas eleições mais recentes que disputaram para a Câmara dos Deputados, quando precisaram convencer a população em meio a uma profusão de candidatos. No caso de Nunes, os dados são referentes ao pleito de 2018, quando tentou uma vaga em Brasília e não foi eleito. Os demais tiveram sucesso nas urnas no ano passado.

Em linhas gerais, segundo a análise do cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Cláudio Couto, a distribuição geográfica do voto mostra Boulos com uma representatividade expressiva em todas as regiões da cidade, enquanto Tabata e Salles concentram mais o eleitorado no centro expandido. Kim também tem uma votação homogênea, mas é menos popular do que os demais. Já o mapa de Nunes reflete o fato de ele ter sido um político ainda pouco conhecido em 2018 — a realidade hoje é outra, depois de assumir a prefeitura.

Segundo Couto, a estratégia de campanha dos candidatos pode ser mais eficiente combinando a distribuição regional de votos e as características sociais do eleitorado. "Não se tem muito espaço para ganhar votos adicionais em lugares onde você já está relativamente consolidado, porque já bateu no teto, nem em lugares onde claramente você é muito rejeitado. Os distritos mais intermediários do ponto de vista da distribuição de riqueza é onde me parece que os candidatos podem buscar mais votos."

Para a cientista política Vera Lucia Chaia, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o mapa de votação para deputado indica o "eleitorado cativo" dos pré-candidatos, e faz sentido priorizar essas zonas mais favoráveis mesmo numa disputa majoritária, em que a dinâmica da campanha passa a ser diferente. "Penso que o candidato deve focar primeiro nessas áreas em que foram mais bem avaliados, onde receberam mais votos, e depois tentar ganhar outros espaços."

Nunes: voto concentrado e baixa popularidade fora da Zona Sul

Os dados mostram que o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), concentrou votos em três zonas eleitorais da capital em 2018: Parelheiros, Capela do Socorro e Grajaú. Fora da Zona Sul, o político que estava no seu segundo mandato de vereador era praticamente um desconhecido do eleitorado paulistano, o que explica a derrota com pouco mais de 40 mil votos na capital e 47 mil votos em todo o Estado.

"Resumiria a situação dele em uma frase: foi um candidato a deputado com votação padrão de vereador", afirma Cláudio Couto. O professor da FGV destaca, porém, que o potencial de voto de Nunes hoje é muito maior por ocupar o cargo de prefeito de São Paulo. "O Ricardo Nunes na votação para deputado é um, e o que o vai disputar a prefeitura em 2024 é outro. Não é um nome nacional, mas já é conhecido do eleitor paulistano. Seu mapa hoje seria muito mais homogêneo."

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Em 2020, a dupla Covas e Nunes ganhou de Boulos em 50 das 58 zonas eleitorais no segundo turno, com exceção justamente de bairros da Zona Sul (Capão Redondo, Campo Limpo, Grajaú, Parelheiros, Piraporinha e Valo Velho), além da Zona Leste (Cidade Tiradentes e São Mateus). Um dado que favorece Boulos é o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que será seu padrinho em 2024, ter obtido mais votos do que Bolsonaro na capital paulista.

Boulos: melhor desempenho onde mora e no Bela Vista

A proporção de votos obtida por Nunes nas zonas eleitorais de Parelheiros, Capela do Socorro e Grajaú em 2018 se aproxima do eleitorado de Guilherme Boulos (PSOL), quatro anos depois. O aliado do presidente Lula, porém, conseguiu votação expressiva em todo o território e foi eleito com a maior votação do Estado, somando 1 milhão de votos ao todo, com 490 mil na capital. Ele teve desempenho acima da média em Campo Limpo e arredores, assim como em zonas do centro expandido, como Bela Vista.

Natural de Pinheiros, zona nobre de São Paulo, Boulos ganhou projeção no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e mora com a esposa, há 10 anos, em Campo Limpo. A origem familiar gera contestação por parte dos adversários, que apontam que ele é cidadão de classe média que quer se identificar com os mais pobres. O deputado tenta agora aproveitar a aliança inédita com o PT na capital para consolidar votos no eleitorado de baixa renda, grupo onde o partido de Lula tradicionalmente aparece em vantagem.

O ex-ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro teve cerca de 8% dos votos dos eleitores de Jardim Paulista e Indianópolis, por exemplo. Essas zonas, destaca a cientista política Vera Lucia Chaia, abrigam bairros de alta concentração de renda e clubes de elite paulistanos.

A primeira tarefa de Salles é mostrar viabilidade eleitoral e convencer um partido a lançá-lo candidato. Recentemente, ele sinalizou o desejo de deixar o PL, que negocia com Nunes, e concorrer por outra sigla caso a aliança se concretize. Seu maior trunfo é a manifestação pública de apoio de Bolsonaro. Salles foi o quarto deputado paulista mais votado, com 640 mil votos no Estado e 177 mil na capital.

O deputado federal Kim Kataguiri, fundador do Movimento Brasil Livre (MBL), só superou a faixa de 2,5% do total de votos nas eleições do ano passado em duas zonas eleitorais de São Paulo: Saúde e Santo Amaro. Uma das explicações possíveis para esses picos é o voto da comunidade japonesa, lembra Cláudio Couto, que destaca a fluidez do voto entre as regiões da cidade. Mesmo nessas áreas, a votação para Kim esteve em patamares bem abaixo do melhor desempenho de Tabata, por exemplo.

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  • Estadão
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