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Política

Brasileiro confia mais em cientistas e menos no governo, diz pesquisa

'Barômetro da Confiança de 2022', levantamento realizado pela agência Edelman, ouviu a opinião de 36 mil pessoas em 28 países, entre 1º e 24 de novembro de 2021

30 mar 2022 - 00h11
(atualizado às 07h31)
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Jair Bolsonaro é apontado como culpado pela alta da inflação
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Foto: Gabriela Biló / Estadão

Cerca de um terço dos brasileiros vê o governo como instituição confiável. O dado, registrado no Barômetro da Confiança de 2022, realizado pela Edelman, agência global de comunicação, aponta piora em um indicador que, no Brasil, já estava baixo. A confiança em cientistas cresceu e, no Brasil, é mais alta do que na média mundial. No País, 81% dos entrevistados confiam nos cientistas. No mundo, 75%. Já as autoridades governamentais inspiram confiança em 26% dos brasileiros. No mundo, em 42%.

Com a credibilidade das lideranças políticas e da mídia desafiada no País, a população brasileira vê como "confiáveis" apenas as empresas e, desta vez, as organizações não governamentais. O levantamento anual foi feito com base em mais de 36 mil entrevistas on line em 28 países, entre 1.º e 24 de novembro de 2021. Foram cerca de 1.150 entrevistados em cada país analisado.

Dos brasileiros ouvidos, 34% veem o governo como "confiável", atrás da mídia (47%), ONGs (60%) e empresas (64%). Houve queda na avaliação de governo (cinco pontos) e mídia (um ponto) e melhora na confiança depositada em empresas (três pontos) e ONGs (quatro pontos), na comparação com a pesquisa divulgada no ano passado.

"A pandemia intensificou os medos. Ela trouxe o medo do desemprego, o medo da morte, o medo da contaminação. A instituição governo não teve a capacidade de atender a sociedade, no sentido de tranquilizá-la", afirma Ana Julião, gerente-geral da Edelman Brasil. "A partir do momento que esse nível de confiança no governo cai, aumenta a demanda e aumenta o nível de confiança em relação às empresas e ao terceiro setor, que passam a ocupar esse lugar de provedores de bem-estar para a sociedade de uma maneira geral", diz a especialista.

Entre as categorias analisadas, a credibilidade do governo entre os brasileiros é a mais distante da média global. O Brasil difere em no máximo três pontos porcentuais do panorama mundial quando o assunto é a avaliação da mídia, empresas ou ONGs. Quando o assunto é governo, no entanto, a avaliação que os brasileiros fazem é 18 pontos porcentuais mais baixa do que os dados globais. No mundo, 52% confiam no governo.

População vê como ONGs como organizações confiáveis, aponta estudo

No levantamento deste ano, a avaliação da sociedade brasileira sobre as ONGs deixou a classificação de neutralidade (quando de 50% a 59% dos entrevistados se dizem confiantes) e entrou no campo da confiança (60%).

"Há dois anos as empresas saíram muito à frente no combate à pandemia e ajudaram a sociedade a passar por esse problema. E elas foram buscar muita parceria com o terceiro setor, que certamente navega com muito mais facilidade nessas questões", afirmou Ana Julião.

A categoria "mídia" engloba quatro itens: ferramentas de busca, mídia tradicional, mídia própria e mídias sociais. Apesar de as quatro estarem com confiança em queda, o que puxa o indicador para baixo é a credibilidade das redes sociais - única das quatro que se enquadra na categoria de desconfiança.

A preocupação com notícias falsas bateu recordes no mundo. Na média, 76% dos entrevistados vê a disseminação de desinformação como um motivo para se preocupar. No Brasil, 81% veem como um problema.

O estudo também confirmou que consumidores, investidores e empregados esperam que as empresas com as quais se relacionam - e os presidentes destas empresas - tomem a dianteira na discussão de questões sociais relevantes e na formulação de políticas públicas. No Brasil, a maioria dos entrevistados compra (63%), trabalha (58%) e investe (60%) em empresas alinhadas com suas crenças e valores.

"As pessoas não apenas olham para as marcas, para as empresas, mas para as pessoas que estão liderando essas empresas, cobrando dessas pessoas um posicionamento claro", afirma Ana Julião. O movimento de cobrança das empresas e lideranças empresariais por engajamento em questões sociais já era percebido em levantamentos anteriores à pandemia, mas se intensificou nos últimos anos. Enquanto só 43% veem CEOs, de uma maneira geral, como lideranças confiáveis, o número cresce para 65% quando a pergunta é sobre o CEO da empresa onde o entrevistado trabalha. Ana Julião explica que a proximidade com a liderança aumenta a sensação de confiança.

Entre os entrevistados, 78% esperam que os líderes das empresas estejam à frente da discussão sobre políticas públicas e posicionamento sobre temas caros à sociedade. Isso não significa apoio ao envolvimento direto na política partidária: só 39% dos entrevistados no Brasil acham que os CEOs devem se envolver nas discussões sobre quem deve ser o próximo presidente.

"Lideranças das empresas privadas do EUA, por exemplo, se posicionam com muito mais protagonismo. É uma coisa que não acontece no Brasil, talvez pelo fato de a nossa economia ser muito mais dependente, as lideranças empresariais temem o conflito, temem o posicionamento", afirma a gerente-geral da Edelman Brasil.

As entrevistas da Edelman foram realizadas online, com cerca de 1.150 respondentes em cada país analisado.

Estadão
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