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Paratleta francês sem um antebraço sonha em tocar na bateria do Salgueiro

14 set 2016 - 06h32
(atualizado às 10h34)
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Para o francês Arnaud Assoumani, de 31 anos, que já tem no currículo quatro medalhas paralímpicas no atletismo, a Paralimpíada do Rio deve ter um sabor especial além de um potencial quinto pódio.

Arnaud Assoumani, de 31 anos, já tem no currículo quatro medalhas paralímpicas no atletismo
Arnaud Assoumani, de 31 anos, já tem no currículo quatro medalhas paralímpicas no atletismo
Foto: Arquivo Pessoal/BBC Brasil

Nascido sem o antebraço esquerdo, o paratleta do salto em distância está determinado em realizar o sonho de tocar na bateria do Salgueiro, tradicional escola de samba carioca, e diz que já se organiza para isso após o término das competições.

Além de duas medalhas de prata em Londres (2012), no salto triplo e no salto em distância, uma de ouro em Pequim (2008), no salto em distância, e outra de bronze em Atenas (2004), também no salto em distância (todas na categoria F46), Assoumani toca repique num grupo de samba de Paris há dez anos, e diz que, apesar de vários convites de amigos brasileiros, nunca conseguiu vir ao Rio para tocar numa bateria.

"Toco repique num grupo de batucada em Paris desde 2006 e até hoje nunca consegui vir aqui tocar numa bateria. Gosto muito do Salgueiro e não vou sair do Rio de Janeiro sem realizar este sonho", conta.

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Filho de pai jogador de basquete e de futebol e de mãe jogadora de vôlei, Arnaud conviveu com o esporte desde muito pequeno, e aos dois anos já começou a fazer aulas de natação. Mais tarde jogou futebol, basquete e tênis de mesa, e aos 11 anos passou a treinar no atletismo. Aos 19 anos participou de sua primeira Paralimpíada, em Atenas (2004).

Arnaud Assoumani toca repique num grupo de samba de Paris há dez anos
Arnaud Assoumani toca repique num grupo de samba de Paris há dez anos
Foto: Arquivo Pessoal/BBC Brasil

Para ele sua carreira no esporte paralímpico tem sido uma resposta a críticas e comentários que ouviu desde criança.

"Desde pequeno você escuta coisas como 'você não vai poder fazer isso', 'você não consegue fazer aquilo'. É muito ruim, e eu sempre soube que poderia fazer tudo o que eu quisesse", conta.

O francês diz que sempre teve em mente que era "diferente", mas que isso jamais o impediria de atingir seus objetivos.

"É claro que às vezes você tem dúvidas, pensa em desistir. Mas o segredo é desafiar as barreiras e não colocar limites para você mesmo", explica.

Repique e Carnaval

No grupo em que toca percussão há dez anos, em Paris, Arnaud já fez vários amigos brasileiros e muitos deles virão ao Rio para torcer por ele nesta quarta-feira, quando compete nas finais do salto em distância, desta vez na categoria F47.

Apesar do foco na competição, ele não consegue esconder a empolgação com o que deve vir depois.

"Eles vêm com meus pais e alguns deles estão me ajudando no contato com a bateria do Salgueiro e devem ir comigo na quadra da escola assim que eu me liberar das provas. Não vejo a hora, mas claro, a prioridade é a competição", diz, bem humorado.

Arnaud conta que a prioridade é a competição, mas que não vê a hora de tocar
Arnaud conta que a prioridade é a competição, mas que não vê a hora de tocar
Foto: Arquivo Pessoal/BBC Brasil

Muitos de seus amigos costumam vir ao Brasil para sair em escolas de samba e têm feito convites há anos para que ele viesse ao Carnaval, mas por outros compromissos ele nunca conseguiu vir e a Paralimpíada no Rio trouxe a oportunidade.

Vaias

Questionado sobre o episódio das vaias envolvendo seu compatriota Renaud Lavillenie, também do atletismo, que era favorito absoluto à prova do salto com vara na Olimpíada e perdeu para o brasileiro Thiago Braz, levando a prata, Assoumani diz que entende a cultura latina.

Lavillenie se ofendeu e chegou a comparar as vaias recebidas do público no Estádio Olímpico do Engenhão às dirigidas ao americano Jesse Owens nos Jogos de Berlim, em 1936, durante o período nazista.

"O Brasil é um país muito mais do futebol, e a torcida é diferente em cada país. Na França não estamos acostumados a isso, mas para os torcedores de futebol brasileiros é algo normal. Entendo que a cultura latina é diferente, e espero que não me vaiem, mas se acontecer, será apenas mais um incentivo que vai me dar ainda mais motivação para vencer", explica.

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