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O Brasil na imprensa alemã (10/10)

10 out 2018 - 14h38
(atualizado às 14h40)
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Ascensão de Bolsonaro, com vitória ampla no primeiro turno, ganha destaque em todos os principais jornais da Alemanha. Diários analisam tendências autocratas do candidato e possível efeito de sua vitória na economia.Süddeutsche Zeitung - "Formidavelmente desinformado", 10/10/2018

Fazia tempo que a Bolsa em São Paulo não passava tão bem. O principal índice, o Ibovespa, subiu 4,6%, houve especial demanda por ações de estatais como a petrolífera Petrobras ou a fornecedora de energia Eletrobras, que computaram ascensão de dois dígitos. Fundos brasileiros nas Bolsas de Frankfurt e Londres viveram fenômeno parecido. Também o real, debilitado há meses, deu um salto eufórico de valorização. O que aconteceu? Dessa vez, tratou-se do resultado surpreendentemente bom de um populista de direita exaltador da violência, misógino e homofóbico na eleição presidencial.

Por um lado, isso tem relação com o seu adversário no segundo turno: Fernando Haddad, do PT, que governou o país em 13 dos últimos 15 anos.

Mas ainda há um segundo motivo para a euforia nas bolsas: talvez Bolsonaro não tenha encontrado seu amor pelo livre-comércio durante a campanha, mas ele descobriu Paulo Guedes. Foi uma decisão estratégica de transformar o banqueiro ultraliberal no provável ministro da Fazenda. Com isso, Bolsonaro garantiu o apoio do empresariado. Guedes, de 69 anos, quer privatizar o Brasil de forma radical.

Se existe uma preocupação por causa de Bolsonaro entre os analistas, essa é causada principalmente pelo quanto de influência Guedes realmente poderia ter. Uma questão justificada, já que o poderoso lobby militar que está por trás deste candidato sempre defendeu o intervencionismo.

Handelsblatt - "Um populista de direita como portador da esperança" - 10/10/2018

Investidores esperam reformas pró-mercado de um possível presidente populista de direita. E, enquanto as grandes agências de rating continuam céticas, alguns bancos dos Estados Unidos também veem chances para as ações do país numa possível guinada política.

Na verdade, até agora, Bolsonaro era a maior preocupação dos investidores. Mas o ex-militar, que nos últimos trinta anos de sua apagada atuação como deputado chamou atenção especialmente por declarações racistas, misóginas e de exaltação da violência, repentinamente, durante a campanha, se revelou um reformista neoliberal. Para isso, chamou como consultor econômico o economista Paulo Guedes, um multimilionário. Mas este nunca liderou um ministério nem negociou no Congresso.

Mesmo assim, Guedes planeja amplas reformas: pretende vender todas as empresas estatais e, com isso, liquidar a dívida do Estado. Mas as chances de essas propostas serem concretizadas são "quase zero", segundo o economista e ex-presidente do Banco Central Pérsio Árida. O fato de Bolsonaro ter votado a favor principalmente dos interesses dos consórcios estatais, funcionários públicos e militares durante sua longa atuação como deputado também faz com que investidores estrangeiros desconfiem de sua capacidade de realizar reformas.

As grandes agências de rating também são críticas: a Standard & Poor's classifica Bolsonaro como um risco maior para a economia do que seu opositor, Fernando Haddad. Como outsider político, Bolsonaro teria mais problemas de concretizar seu programa econômico. E a Moody's teme que a polarização crescente no Congresso dificulte a realização de reformas pelo próximo presidente, criando assim a base para um crescimento sustentável. Mas os investidores apostam sobretudo numa mudança política e, com ela, nas chances decrescentes do candidato de esquerda, Haddad, e do PT de assumirem o poder. É que ele quer atuar na economia com receitas velhas com as quais o Brasil afundou na recessão e na lama de corrupção.

Haddad quer até reverter as poucas reformas econômicas dos últimos dois anos. Tudo isso aumenta as simpatias dos investidores pelo candidato de direita.

A pergunta é se ele está disposto a assumir os custos políticos de um saneamento do orçamento, diz um analista. Bolsonaro precisa apresentar reformas convincentes rápido se quiser diminuir a dívida pública, diz o JP Morgan. E, aí, poderia colher os frutos, também rapidamente. A atual fraca conjuntura brasileira poderia acelerar velozmente se o clima econômico geral der uma virada positiva.

Die Zeit - "Autodestruição à brasileira", 08/10/2018

Por que tantos brasileiros votam num candidato a presidente que é contrário aos seus interesses básicos? Por que milhões de mulheres brasileiras votam num candidato que xingou políticas de "vagabundas" e disse a uma colega que não a estupraria por ser muito feia?

Nas pesquisas, muita gente da população mais pobre do país se declarou a favor de Bolsonaro - apesar de ele dizer abertamente que vai acabar com os programas sociais da era do ex-presidente Lula. Bolsonaro apontou que quer enviar a polícia armada com metralhadoras a áreas urbanas pobres. As pessoas nessas regiões sabem bem o que isso significa: tiroteios desenfreados, muitos mortos e famílias destruídas.

É mais fácil entender o apoio ao ex-militar junto às camadas da população formadas por homens brancos, da elite e instruídos. Grande parte dessas classes médias altas já era contra o projeto do Partido dos Trabalhadores, ou seja, contra os presidentes Lula e Dilma. Os dois social-democratas conseguiram integrar mais de 20 milhões de pobres na economia e a uma classe média modesta por meio de programas sociais maciços. Para a maioria dos europeus, uma política de igualdade social pode parecer algo desejável, mas no Brasil isso é diferente. Há gerações, as classes médias altas gozam de uma série de privilégios que querem manter. Agora, temem a queda social.

Os votos de todos aqueles que não pertencem a esse establishment têm outro motivo. No Brasil, há uma perda maciça de confiança em todo o sistema político, através de todas as camadas sociais.

Nas pesquisas, apenas cerca de 60% dos brasileiros declaram considerar a democracia a melhor forma de governo. Apenas 8% defendem essa opinião "muito fortemente". Essas pesquisas mostram que são exatamente muitas pessoas das camadas sociais mais desfavorecidas que se declaram céticas quanto à democracia. Pode ser por causa da experiência de se sentirem, permanentemente, cidadãos de segunda classe, com ou sem democracia. As reformas sociais de Lula parecem não ter eliminado completamente esse sentimento - ou ele voltou depois que muitos programas sociais foram cortados recentemente. Nas classes médias mais baixas, há outro cenário. Ali, muitas pessoas são contra auxílios para os mais pobres, e uma nostalgia do clima "lei e ordem" dos anos da ditadura militar está disseminada.

RK/ots

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