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Indigenista especializado em povos isolados na Amazônia é morto por flechada

10 set 2020 - 12h49
(atualizado às 15h58)
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Um importante indigenista brasileiro especialista em povos isolados da Amazônia foi morto por uma flechada no peito enquanto se aproximava de um grupo indígena que ele pretendia proteger, disseram amigos da vítima e um policial que testemunhou o incidente, nesta quinta-feira.

Índios considerados isolados por antropólogos apontam para avião na floresta amazônica
25/03/2014
REUTERS/Lunae Parracho
Índios considerados isolados por antropólogos apontam para avião na floresta amazônica 25/03/2014 REUTERS/Lunae Parracho
Foto: Reuters

Rieli Franciscato, de 56 anos, trabalhava na Fundação Nacional do Índio (Funai) buscando a criação de reservas para proteger povos indígenas isolados do contato com a sociedade.

Na quarta-feira, ao se locomover para perto de um grupo indígena até então não contactado, ele foi atingido por uma flecha acima do coração em uma floresta próxima à reserva Uru Eu Wau Wau, no Estado de Rondônia, perto da fronteira com a Bolívia.

"Ele gritou, arrancou a flecha do peito, correu 50 metros e desabou, sem vida", disse um policial que acompanhava a expedição em áudio postado nas redes sociais.

A Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, que ele ajudou a fundar na década de 1980, disse que o grupo indígena não tinha capacidade de distinguir entre um amigo ou um inimigo do mundo exterior.

Sua morte ocorre em um momento em que os indígenas estão sob crescente ameaça de invasões por grileiros, madeireiros e garimpeiros ilegais, encorajados pelas políticas do presidente Jair Bolsonaro, que quer desenvolver economicamente a Amazônia e reduzir o tamanho das reservas indígenas.

"Estamos nos sentindo desnorteados com tantas mortes nesse Brasil que não respeita os direitos indígenas", disse Ivaneide Cardozo, amiga de Franciscato e cofundadora da Kanindé.

A principal autoridade sobre povos isolados remanescente no Brasil e ex-chefe da Funai, Sydney Possuelo, disse que Bolsonaro manteve sua promessa de campanha de destruir a agência que defende os direitos dos povos indígenas.

Possuelo disse que o governo esvaziou a Funai e a deixou sem a equipe necessária para a segurança de seus postos isolados, da mesma forma que o aumento das invasões de terra aumenta o risco de confrontos violentos.

O Palácio do Planalto não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. Bolsonaro propôs repetidamente a necessidade de integrar os indígenas, que ele descreveu como vivendo "como homens das cavernas", na sociedade brasileira em geral.

"Rieli era um dos melhores funcionários da Funai. Ele era muito cuidadoso, sempre metódico, um homem calmo, de fala mansa", disse Possuelo.

"Mas ele foi pedir ajuda à policia porque não tinha funcionários, só tinha um rapaz indígena com ele", acrescentou, sugerindo que a presença da polícia pode ter levado ao ataque indígena.

"É trágico e serve para que a Funai repense essa situação de desamparo das frente de contato sem o devido apoio."

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