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Tragédia em Santa Maria

RS: girassóis e palmas marcam os quatro meses da tragédia na Kiss

Manifestantes se reuniram no campus da UFSM e no centro de Santa Maria para homenagear as 242 vítimas

27 mai 2013 - 17h56
(atualizado às 18h05)
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As flores artificiais simbolizavam as vítimas da tragédia
As flores artificiais simbolizavam as vítimas da tragédia
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

No dia em que a tragédia da Boate Kiss completa quatro meses, homenagens às vítimas que morreram em decorrência do incêndio na casa noturna, no dia 27 de janeiro, estão sendo realizadas em Santa Maria (RS) nesta segunda-feira. Pela manhã, 242 girassóis foram “plantados” no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). No início da tarde, houve o tradicional “minuto de barulho”, com palmas, buzinas e sinos de igrejas na praça Saldanha Marinho, no centro da cidade.

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Na UFSM, o ato foi organizado por moradores e entidades de Camobi, bairro da zona leste de Santa Maria onde se localiza o campus. No início da cerimônia, o pastor e psicólogo Vilson Regina, capelão da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) de Santa Maria, disse uma mensagem às cerca de cem pessoas que acompanharam o ato. “Nada é permanente em nossa vidas. Nem mesmo as nossas dores”, falou o capelão, que pediu que, a partir de agora, todos façam um “link com a vida, e não com a morte”.

O presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Adherbal Ferreira, também se manifestou: “Já faz quatro meses, mas parece que foi ontem. Pouco a pouco, estamos subindo uma escada que não tem fim. Nossa dor é uma dor atravessada, uma dor na alma”, disse.

A cantora nativista Ana Negrelo, que apareceu de surpresa no campus, interpretou a música Gracias a la Vida. Logo depois, o cantor e compositor Beto Pires interpretou a nova versão de Santa Maria, uma espécie de hino informal da cidade. Ele foi acompanhado por alguns integrantes da associação Cuica, entidade que tem sede em Camobi e promove oficinas de percussão e projetos de incentivo a leitura para crianças e adolescentes.  

O ato ainda promoveu um “plantio” de 242 girassóis feitos de Espuma Vinílica Acetinada (EVA), madeira e tinta. As flores artificiais simbolizavam as vítimas da tragédia. “É uma flor de muita energia, de muita beleza. Quando um girassol não tem o sol, ele se vira para outro girassol. É essa mensagem que queremos passar. Que todos devem se apoiar”, comentou Mira Araújo, moradora de Camobi que ajudou a organizar o ato.

No início da tarde, houve o tradicional “minuto de barulho” na praça Saldanha Marinho, no centro. Cerca de 200 pessoas bateram palmas em homenagem às vítimas, enquanto sinos de igrejas e as buzinas soavam, às 13h30. Logo depois, o presidente da AVTSM, Adherbal Ferreira, comandou orações. Entre os manifestantes, havia familiares que usavam camisetas e carregavam banners e faixas em alusão às vítimas. Outros, seguravam balões brancos. 

Depois do ato, um grupo de familiares de vítimas foi até a frente do prédio da Sociedade União dos Caixeiros Viajantes (SUCV), onde fica o gabinete do prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). Com um megafone, os manifestantes bradaram palavras de ordem contra o político.

Ainda nesta segunda-feira, às 18h30, haverá a celebração ecumênica “Para um Novo Sentido da Vida”, em memória às vítimas da tragédia, promovida pelo Centro Universitário Franciscano (Unifra) na capela do Colégio Sant’Anna. Em seguida, com início marcado para 19h30, acontece um culto ecumênico em memória às vítimas da tragédia no Santuário-Basílica da Medianeira.

Um outro movimento, que está sendo divulgado pelo Facebook, promete unir Santa Maria e Porto Alegre. O ato é organizado pelo Movimento Santa Maria do Luto à Luta e está convocando manifestantes para a confecção de cartazes na praça Saldanha Marinho, em Santa Maria, e no parque da Redenção, na capital. Às 18h, nos mesmos locais, todos serão convidados a fazer barulho, com palmas e buzinas, durante um minuto, seguido de um manifesto silencioso com exposição de cartazes, banners e panfletagem de material do movimento. 

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos

Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Fonte: Especial para Terra
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