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Tragédia em Santa Maria

RS: centenas de jovens formam coração para homenagear vítima da Kiss

Iniciativa foi de alunos de colégio em que estudou Matheus Rafael Raschen, que morreu na tragédia aos 20 anos e era filho do vice-diretor da escola

13 set 2013 - 22h55
(atualizado às 22h55)
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Participaram da iniciativa todos os alunos do Ensino Médio da escola, usando branco, e da 8ª série do Ensino Fundamental, vestindo vermelho
Participaram da iniciativa todos os alunos do Ensino Médio da escola, usando branco, e da 8ª série do Ensino Fundamental, vestindo vermelho
Foto: Divulgação

Nesta sexta-feira, cerca de 300 alunos do Colégio Mauá, de Santa Cruz do Sul (RS), tinham um compromisso muito importante no campo de futebol da instituição. Parte dos estudantes vestia vermelho. Outro grupo usava branco. Todos passaram mais de 10 dias planejando uma homenagem a Matheus Rafael Raschen, que morreu na tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), aos 20 anos. O jovem era ex-aluno da escola e filho do vice-diretor do Colégio Mauá, Nestor Raschen.

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A ideia de fazer uma homenagem no Mauá surgiu a partir de uma conversa da professora de flauta, Gislaine da Luz, com o recém empossado presidente do Grêmio Estudantil José de Alencar, Luís Eduardo Kaufmann. Ela disse que seria interessante fazer uma homenagem às vítimas de Santa Maria, já que o colégio em que Matheus Raschen, nascido em Santa Cruz, havia estudado não tinha planos de promover algo do tipo.

A primeira conversa entre o aluno e a professora foi no dia 2 de setembro, depois do ensaio do conjunto instrumental do colégio, uma atividade extracurricular que reúne cerca de 10 músicos que estudam no Mauá. Luís Eduardo, 14 anos, logo teve a ideia do coração. O passo seguinte foi, com a equipe do grêmio estudantil, começar a fazer as letras para escrever “Somos todos Santa Maria” e “Colégio Mauá”. Depois, a tarefa foi informar o “uniforme” que todos deveriam usar no dia da homenagem: os “vermelhos” fariam o coração, e os “brancos” preencheriam ao seu redor.

Participaram da iniciativa todos os alunos do Ensino Médio da escola, usando branco, e da 8ª série do Ensino Fundamental, vestindo vermelho. “Não tinha um motivo especial para ser nesta sexta. Só que deu a sorte de ocorrer uma semana sem chuva, o que deixou o campo seco, e todos puderam se sentar”, disse Luís Eduardo, que, com o restante da diretoria do grêmio estudantil, trabalhou muito para a ideia se tornar realidade. “Essa homenagem também serviu para unir os estudantes”, acrescenta o presidente do grêmio estudantil.  

O vice-diretor do Colégio Mauá, Nestor Raschen, escreveu em seu Facebook, após a homenagem: “Santa Cruz do Sul está junto. Obrigado, Grêmio Estudantil do Colégio Mauá. Somos todos Santa Maria”.

Matheus Raschen, filho de Nestor, destacou-se como jogador de basquete, com passagens pelas categorias de base da seleção brasileira. Em Campo Mourão, no Paraná, ele conquistou títulos como o de campeão paranaense e da Copa Brasil Sul. A cidade foi a última parada de Matheus na modalidade antes de o jovem focar-se nos estudos, transferindo-se para Santa Maria. Em Campo Mourão, o esportista ganhou uma rua com seu nome como homenagem.

Matheus teve sua morte confirmada no dia 31 de janeiro, quatro dias após o incêndio na casa noturna que causou a morte de 242 pessoas e deixou mais de 600 feridas. Ele estava internado no Hospital de Pronto-Socorro, em Porto Alegre (RS). O corpo do jovem foi velado no ginásio do Clube Corinthians, em Santa Cruz do Sul, onde ele jogou basquete. 

Incêndio na Boate Kiss
Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos

Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

 

 

Fonte: Especial para Terra
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