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RS: mesmo com frio, moradores de rua recusam ir para abrigos

24 jul 2013 - 13h42
(atualizado às 15h28)
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Moradores de rua durante o jantar que é oferecido
Moradores de rua durante o jantar que é oferecido
Foto: Daniel Favero / Terra

Desde o final de semana, a região Sul do País tem sido atingida por uma onda de frio que fez trouxe neve para mais de 100 cidades. Em Porto Alegre, as temperaturas ficaram na casa dos 3ºC na madrugada desta quarta-feira. No entanto muitas pessoas que vivem nas ruas se recusam a buscar os abrigos públicos. No Albergue Municipal em um das noites foram feitas 34 abordagens, mas apenas quatro pessoas aceitaram ser levadas. A maioria das 150 vagas é ocupada de forma voluntária, mas nesses dias frios, dificilmente alguém fica de fora.

Saiba como se calcula a sensação térmica

Alguns não entram e preferem ficar na porta do abrigo, na noite em que o Terra visitou o local, um homem dizia que preferia ficar na rua, visivelmente sob influência de crack, conforme ele mesmo admitiu. “Prefiro dormir com os parceiros aqui na frente mesmo, aqui é seguro”, dizia, em meio a frases repetidas e sem muito sentido.

<p>Camas onde pessoas que vivem nas ruas passam a noite</p>
Camas onde pessoas que vivem nas ruas passam a noite
Foto: Daniel Favero / Terra

“Ontem fizemos 34 abordagens, só quatro vieram, os outros não estavam no local ou não quiseram vir”, explica do coordenador do abrigo, Franke Hendler, que há 13 anos realiza esse trabalho. Segundo ele, a maior dificuldade na abordagem é quebrar a relação que cada um cria com o local onde habita na rua. “A maior dificuldade é desfazer o vínculos que ela fez com a região. As vezes não é verbal, é a segurança que ele tem, é a região dele, é onde tem seus vínculos, mas pode estar com fome e aceita vir. Mas nosso  trabalho não é linear, não é porque a pessoa esta ali que vai vir... nós lidamos com pessoas, que têm suas especificidades, suas vontades, além doença mental aliada ao álcool que é bem presente”, explica.

A assistente social Vera Lúcia Gomes, que há 11 anos trabalha no local, diz que é importante desmitificar muitos preconceitos que as pessoas tem em relação a quem vive nas ruas, “não gosto do termo morador de rua, a pessoa vive, sobrevive na rua”, explica.

Coordenador do abrigo, Franke Hendler, e a assistente social, Vera Gomes
Coordenador do abrigo, Franke Hendler, e a assistente social, Vera Gomes
Foto: Daniel Favero / Terra

“Existe muito folclore sobre o morador de rua. Um é de que todos são maus elementos e que são diretamente culpados pela situação em que se encontram. Nem todos os fatos da vida da gente, nós conseguimos controlar. Isso só pode ser pensado e dito por quem é onipotente, porque nem sempre podemos controlar o que acontece com a gente”, afirma.

Moradores de rua rejeitam ir para abrigo mesmo com frio:

Hendler afirma que nesses 13 anos de trabalho social, aprendeu que “a vida dá muitas voltas, e a gente nunca sabe o que vai acontecer. Eu já tive aqui advogado, engenheiro, oficial de Justiça, gente que há um tempo atrás, estavam com a vida que nós imaginamos, e agora não estão mais”, conta.

Sonho de trabalhar no cinema

Quando se entra no albergue, onde estão abrigadas pessoas que chegaram ao mundo do poço, que perderam tudo, ou que nunca tiveram nada, todo mundo tem uma história e um sonho para contar. Sentado em um canto durante a triagem, Waldemar Teixeira dos Santos, 59 anos, diz que nem lembra quando começou a frequentar o local, mas relata que está buscando se reerguer para voltar a trabalhar no cinema como operador de projetor, função que desempenhou na década de 60.  

<p>Waldemar dos Santos sonha em ser operador de projetor de cinema</p>
Waldemar dos Santos sonha em ser operador de projetor de cinema
Foto: Daniel Favero / Terra

 “Gostava muito do José Mendes, Tonico e Tinoco, Teixeirinha, Oscarito... um dia eu escrevi uma carta para o Silvio Santos pedindo para ele todo o equipamento de cinema e uma corneta (alto falante) e um microfone, porque, sabe, a propaganda é a alma do negócio”, dizia.

Andarilha

A poucos metros dali, comento arroz, feijão, paleta com molho e salada de couve chinesa em uma bandeja de metal, Fátima Rosana da Silva Santos, 48 anos, que há 14 anos vive nas ruas, contava que depois que saiu de casa preferiu vagar pelo mundo.

Cozinha onde são preparadas as refeições
Cozinha onde são preparadas as refeições
Foto: Daniel Favero / Terra

“Eu me separei e ele não queria sair, alguém tinha que sair porque brigávamos muito. Eu sai e vim direto para cá, mas eu ando muito por todo o lugar, viajo, virei uma mochileira, me considero uma mochileira, ando pelo mundo, mas é uma necessidade que eu tenho”, conta.

Pai evangélico aceita travesti, mas não drogado

Ao seu lado a amiga travesti Soraia Rodrigues, 28 anos, que há quatro anos vive na rua, conta que saiu de casa expulsa pelo pai. “Fui pra rua porque estava envolvida com drogas, dá ate vergonha de falar isso, mas fumei e cheirei o que não podia, meu pai, evangélico, sempre aceitava minha opção (de ser travesti), mas não aceitava o fato de ser usuária de drogas. Ele dizia: travesti, sim, usuário de drogas não, estou há dois meses de cara limpa”, diz, relatando que está em um relacionamento que deve lhe tirar das ruas.  

Atualmente, existem aproximadamente 1,3 mil pessoas vivendo nas ruas de Porto Alegre. E durante o inverno, a prefeitura oferece 448 vagas na rede de albergado. A Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) diz que nesse período de frio intenso, todos que procuram os albergues recebem abrigo.

Fonte: Terra
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