Quem era a mulher que foi arrastada na Marginal Tietê e morreu após nova cirurgia
Tainara Souza Santos, de 31 anos, teve pernas amputadas e passou por ao menos cinco procedimentos; São Paulo viu uma escalada de feminicídios nos últimos meses
Tainara Souza Santos, a mulher de 31 anos que foi atropelada e arrastada por um quilômetro na Marginal Tietê, na zona norte de São Paulo, morreu na noite desta quarta-feira, 24, véspera de Natal. A informação foi confirmada pela família nas redes sociais.
Mãe de dois filhos pequenos - um menino de 12 anos e uma garota de 7 -, Tainara trabalhava como vendedora autônoma em uma plataforma de comércio online e, segundo conhecidos, se esforçava muito para sustentar as crianças.
O crime aconteceu por volta das 6 horas do dia 29 de novembro. Segundo o advogado da família, Tainara estava em frente a um bar na região da Vila Maria, quando o suspeito - Douglas Alves da Silva, com quem ela já teria se relacionado - se aproximou. Na sequência, Silva começou a brigar com o homem que a acompanhava.
Já o advogado de defesa dele, Marcos Leal, afirmou que o cliente é réu confesso quanto ao atropelamento, mas nega qualquer envolvimento com a mulher.
Somente com os números de janeiro a outubro, a cidade de São Paulo teve número recorde de feminicídios na comparação com os anos anteriores. Entre os motivos para o fenômeno, segundo especialistas, estão a disseminação de discursos de ódio, o impacto das redes sociais e a falta de investimentos na prevenção desses crimes.
Ela foi socorrida com lesões severas, teve as pernas amputadas e foi internada em estado grave. O suspeito foi preso no dia 30 de novembro.
"É com muita dor que venho avisar que nossa guerreirinha, a Tay, nos deixou. Descansou", comunicou Lúcia Aparecida Silva, mãe da vítima, nas redes sociais. "É uma dor enorme, mas acabou o sofrimento. E agora é pedir por justiça", finalizou.
Nas últimas semanas, Tainara passou por ao menos cinco cirurgias após o atropelamento. As primeiras foram realizadas ainda no dia 29, para a amputação das duas pernas.
No dia 2 de dezembro, Tainara passou por outro procedimento, para colocar pinos de sustentação na bacia e permaneceu na UTI no Hospital Municipal Vereador José Storopolli, na Vila Maria. No dia seguinte, familiares da jovem afirmaram que uma quarta cirurgia seria necessária para fazer um enxerto nas áreas amputadas.
Após duas semanas de internação e uma transferência para o Hospital das Clínicas (HC), Tainara precisou de outra cirurgia de enxerto no local de amputação, no dia 16 de dezembro.
Já no último dia 22, mais um procedimento foi realizado, incluindo uma nova amputação na região da coxa, necessária para a reconstrução dos glúteos. Segundo a família, Tainara também foi submetida a uma traqueostomia para retirada do tubo respiratório e uma cirurgia plástica de reparação.
O escritório de advocacia que representava a família no caso confirmou que a vítima morreu por volta das 19 horas. "Tainara não resistiu aos ferimentos causados pela brutalidade praticada contra ela no dia 29 de novembro de 2025", aponta comunicado da Wilson Zaska Advocacia Criminal.
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Douglas Alves da Silva, de 26 anos, apontado pela Polícia Civil como responsável pelo crime, virou réu por tentativa de homicídio e feminicídio.
"Ela estava com outra pessoa e isso despertou o ciúmes dele e motivou a briga que teria acontecido em frente ao bar. Era uma relação que ia e voltava, mas havia uma relação entre eles. A briga que teria motivado a ação dele seria decorrência de ciúmes", diz Wilson Zaskas, advogado da família da vítima.
Imagens de câmeras de segurança mostram Tainara e Douglas discutindo na rua, já fora do bar. Momentos depois, o suspeito entra em um carro preto, acelera e atropela a mulher, que fica presa sob o veículo. O homem não para o veículo.
Em seguida, já na Marginal Tietê, ele segue dirigindo enquanto a vítima é arrastada pela via. Um segundo vídeo, obtido pelo Estadão, registra o momento em que o carro trafega com Tainara ainda presa embaixo do automóvel.
O corpo da jovem só se desprendeu do veículo depois que o suspeito passou pela calçada de um posto de gasolina, a aproximadamente 1 quilômetro do local inicial do atropelamento. Ela foi socorrida por testemunhas e levada ao Hospital Municipal Vereador José Storopolli, em estado grave.
Depois de atropelar Tainara com seu automóvel, Douglas acelerou o veículo e dirigiu por 1 km por uma avenida até a Marginal Tietê com o corpo dela preso ao carro.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP), policiais civis da Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco) da 4.a Seccional, com apoio de equipes do 90º Distrito Policial, localizaram o veículo do suspeito na Vila Prudente, na zona leste da capital. Em seguida, descobriram que ele estava hospedado em um hotel do bairro e foram até o local. Inicialmente, ele foi procurado como autor da tentativa de feminicídio.
Durante a abordagem, segundo a SSP, o suspeito resistiu e avançou contra um dos agentes, o que exigiu intervenção policial. Na ação, um dos agentes fez um disparo que atingiu o braço do suspeito.