Ordem do PCC para matar Ruy Ferraz também previa assassinato de promotor e diretor de presídio
Investigação do Ministério Público aponta que facção tinha setor estruturado para cometer atentados contra autoridades
O Ministério Público de São Paulo aponta que a morte do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes fazia parte de um plano maior do PCC que também previa o assassinato do promotor de Justiça Lincoln Gakiya, da região de Presidente Prudente, no interior de São Paulo, e do diretor de presídios Roberto Medina.
Delegado de Polícia por mais de 40 anos, Ruy foi o responsável por indiciar toda a cúpula do PCC em 2006. Ele foi executado em uma emboscada na Praia Grande.
"E adianto também que provavelmente faz parte do mesmo salve, de uma mesma ordem, que culminou com a morte, infelizmente, do Dr. Ruy Ferraz Fontes. Nesse mesmo salve havia a ordem para me matar e matar o Dr. Roberto Medina também", disse Gakiya em entrevista à GloboNews na manhã desta sexta, 24.
Investigação do Ministério Público descobriu como atua o setor da facção responsável por planejar assassinatos de autoridades e tentativas de resgate de chefes da facção presos.
Facção usa geolocalização e drones
Segundo o MP, tal célula do crime organizado é estruturada de forma compartimentada e altamente disciplinada. Os integrantes são responsáveis por realizar levantamentos detalhados da rotina de autoridades públicas e de seus familiares, com a clara finalidade de preparar atentados contra esses alvos previamente selecionados.
De acordo com os elementos colhidos, os criminosos já haviam identificado, monitorado e mapeado os hábitos diários de autoridades, num plano meticuloso e audacioso que demonstrava o grau de periculosidade e ousadia da organização.
"Eu tive minha casa vigiada por drones. Havia uma casa próxima ao meu condômino que foi utilizada como base para monitorar minha rotina. Foram encontrados diversos prints de tela com o trajeto que eu utilizo diariamente para me deslocar para o Ministério Público, e também algumas rotinas, como academia. Elas foram remetidas para o setor que eles denominam de Sintonia Restrita do PCC", detalhou o promotor à GloboNews.
O setor opera sob rígido esquema de compartimentação, no qual cada integrante desempenhava uma função específica, sem conhecer a totalidade do plano, o que dificultava a detecção da trama.
Quem são o promotor e diretor de presídios?
Medina e Gakiya são velhos alvos do PCC. Ambos já tiveram seus nomes envolvidos em outros planos da facção. Eles eram apontados pelos criminosos como "cadáveres excelentes", ou seja, vítimas notórias do crime organizado.
Gakiya é um dos principais responsáveis por investigar a facção no País. Ele é membro do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco) do Ministério Público Estadual e atua contra o PCC há mais de 20 anos.
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Medina é coordenador das penitenciárias da região oeste de São Paulo, onde está detida a maioria das lideranças do PCC no Estado.
Segundo as investigações, os criminosos monitoraram a mulher de Medina, que teve o carro fotografado. No celular de um dos faccionados, os policiais encontraram prints e áudios que mostram ele negociando fuzis, "além de coletar prints de mapas de georreferenciamento indicando localizações precisas em Presidente Prudente, inclusive, da sede do Ministério Público de Presidente Prudente".
O que é o Restrita tática do PCC
Em coletiva de imprensa no mês passado, o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, comentou sobre o grupo do PCC treinado para matar autoridades.
Chamado de "Restrita Tática", os integrantes aprendem a usar diversos armamentos. "Esses indivíduos desse setor chamado Restrita Tática são aqueles que são treinados para realizar atentados contra autoridades. Então, eles passam por treinamento de diversos armamentos. (...) É o que se tem hoje, infelizmente, e é por isso que a gente não pode subestimar a organização criminosa. Temos que enfrentar as organizações criminosas com muita inteligência e com tolerância zero, porque eles são extremamente perigosos."