‘Não sabendo que era impossível, foi lá e fez’, diz Tarcísio em leilão do Túnel Imerso Santos-Guarujá
Foi decidida a empresa que tocará o projeto 'sonhado' há 100 anos no litoral de São Paulo, que tem investimento previsto de R$ 6,8 bilhões
O grupo português Mota Engil venceu a licitação do Túnel Imerso Santos-Guarujá, que será construído no litoral de São Paulo e é 'sonhado' há cerca de 100 anos pela população local. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ao dar sua "martelada" durante o leilão do projeto na B3 nesta sexta-feira, 5, falou sobre a importância da representatividade desse dia por tirar do papel algo que foi tido como impossível: "Não sabendo que era impossível, foi lá e fez", repetiu algumas vezes em seu discurso.
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Tarcísio falou que a construção do primeiro túnel imerso o Brasil deixou "questões políticas de lado". "Porque isso não interessa. O interesse do cidadão, aqui, vem em primeiro lugar. E aí acho que estamos dando um exemplo hoje, temos que celebrar mesmo o que está acontecendo", complementou.
"O que estamos celebrando hoje é o futuro da Baixada [Santista], o futuro do Estado de São Paulo, o futuro do Brasil. Esse porto, que é o maior porto do hemisfério Sul, o principal porto do Brasil, vai continuar sendo. A gente pode mais. A gente nunca acreditou no impossível", disse, em discurso com tom encorajador repleto de agradecimento.
Na mesma sessão, o ministro da Fazenda Fernando Haddad também levantou a questão ao dizer que a obra é uma demonstração da volta do "espírito republicano" ao Brasil, que foi o que viabilizou o projeto.
Haddad disse ainda que não houve disputa por protagonismo em torno da obra, pois desde o início houve diálogo entre o governo Estadual e Federal para viabilizar o túnel: "Ninguém ficou querendo sair na foto e deixar o outro para trás. Os dois governos deram as mãos para celebrar o dia de hoje e, daqui alguns anos, vamos celebrar a inauguração dessa obra. Assim que se faz política, assim que se constrói a democracia".
O projeto do Túnel Imerso ligando Santos e Guarujá, de 1,5 quilômetro de extensão e que ficará 870 metros submersos, corre no Programa de Parcerias de Investimentos do Estado de São Paulo (PPI-SO) e será executado por meio de parceria público-privada (PPP). O valor de investimento previsto é de R$ 6,8 bilhões – sendo R$ 5,14 bi de aporte público. Será o primeiro túnel imerso da América Latina.
O ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte do Brasil, Marcio França, em sua fala, reforçou o fato de que o Porto de Santos -- que estava na mira da privatização --, ser um porto público foi o que garantiu o aporte de recursos.
"Só estamos aqui porque o Porto não foi privatizado. Porque estava no programa de privatização. E o que está viabilizando a execução importantíssima é a Autoridade Protuária, com a participação por parceria público-privada para construir e operar por 30 anos um túnel que vai passar pedestre, bicicleta, moto, carro, ônibus, caminhão, VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). Estratégico, reduzindo gastos, com passagens de 3 minutos, fortalecendo nossa economia", disse o vice-presidente Geraldo Alckmin, que foi o último a se pronunciar.
A sessão durou cerca de 1h30 e o fator da união foi evidenciado até o fim. "O presidente Lula dá a mão a todos os governadores, independentemente de questões partidárias, e trabalha junto pra gente viabilizar obras importantes", disse Alckmin, repetindo que o que importa "é a causa".
A Mota Engil deu a oferta de desconto de 0,5% sobre a contraprestação pública anual de R$438 milhões e venceu a outra credenciada no leilão, o grupo espanhol de engenharia Acciona, que não ofereceu desconto sobre a prestação.
Segundo os representantes do grupo vencedor que subiram no palanque no B3 após a vitória, esse é um projeto de infraestrutura fundamental e que querem colocar em prática há anos. A Mota Engil será responsável pela construção, operação e manutenção do projeto.
Atualmente, segundo informações da Secretaria de Parcerias em Investimento de São Paulo, mais de 28 mil pessoas cruzam diretamente as duas margens entre Santos e Guarujá por balsas ou catraias – que são barcos de pequeno porte. Com o túnel, o trajeto será facilitado, com a possibilidade de uso de transporte público e maior agilidade no percurso.
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'Dia que vai ficar para a história'
Durante a tarde, Anderson Pomini, diretor-presidente da Autoridade Portuária de Santos, disse que esse é um dia que vai ficar para a história da logística brasileira e do País.
“Portugueses chegaram há 400 anos ao Porto de Santos e agora retornam com a responsabilidade de construir uma obra projetada há 100 anos. É um dia histórico”’, disse Pomini, em referência à nacionalidade dos representantes da empresa vencedora. Para ele, essa obra representa “a união dos brasileiros”.
O secretário de Parcerias em Investimentos do Estado, Rafael Benini, cedeu sua fala a Raquel Carneiro, que atuou na linha de frente do projeto. "Parece um evento isolado, mas foram dois anos e meio de muito trabalho, não foi fácil", disse. Ainda segundo ela, é difícil acreditar que estão tirando "um sonho de 100 anos da Baixada Santista do Papel" e que em seis anos o País terá uma obra que vai mudar a realidade da região.
Representando a Baixada Santista, a deputada federal Rosana Valle falou sobre "a luta de 100 anos" da região para que essa obra se concretize. Ela contou que em seu terceiro dia de mandato teve uma reunião com o governador Tarcísio e foi aí que contou a ele que essa era a principal obra de sua região -- e, desde então, recebeu seu apoio. "Todo o Brasil ganha com essa obra", disse.
Paulo Alexandre Barbosa, que também é deputado federal da região, reforçou que a importância da união de diversas frentes para que o projeto enfim começasse a sair do papel e citou a problemática das desigualdades sociais da região. Ao encerrar seu discurso, lançou o desafio para que esse mesmo modelo "de convergência" possa ser replicado para que as palafitas da Baixada Santista sejam erradicadas até 2031, quando a ligação seca deve ser entregue.
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