Monitorado por 3 dias, carro alugado e tocaia de 3 horas: como agiram suspeitos de matar advogado no RJ
Advogado foi morto a tiros a poucos metros da sede da OAB-RJ; um policial militar está entre os presos suspeitos pelo crime
Investigações da Polícia Civil indicam a dinâmica do crime que vitimou o advogado Rodrigo Marinho Crespo, de 42 anos. Segundo os policiais informaram ao jornal O Globo, Crespo foi monitorado pelo policial militar Leandro Machado da Silva, um dos presos suspeitos pelo homicídio, por três dias antes de ser morto.
O advogado foi morto a tiros no dia 26 de fevereiro, a poucos metros da sede da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ).
As investigações apontam que Eduardo Sobreira Moraes, outro preso pelo crime, estava em um veículo Gol branco e foi o responsável por seguir Crespo, registrando sua movimentação desde as primeiras horas da manhã do crime.
Segundo os policiais, o Gol branco, conduzido por Moraes, chegou à residência do advogado por volta das 7h56 e partiu aproximadamente uma hora depois em direção ao centro, chegando às 9h50, após cruzar o Aterro do Flamengo.
Durante esse período de monitoramento, imagens capturadas por câmeras de vigilância mostram Moraes posicionado próximo à residência do advogado, conversando com pessoas que estavam no local antes de embarcar no veículo.
Após a chegada à Avenida Marechal Câmara, o Gol branco transitou brevemente pela região de Botafogo antes de retornar ao centro, estacionando próximo ao número 160. No entanto, permaneceu parado até as 14h30, momento em que outro Gol branco ocupou seu lugar.
Neste segundo veículo, a polícia identificou o atirador, que seria o PM Leandro Machado da Silva, que monitorou o advogado por três horas antes de matá-lo.
Também por imagens de câmeras, os policiais identificaram que, no dia em que foi morto, o advogado, acompanhado de seu primo, estava indo fazer uma pausa para lanche, como era seu hábito rotineiro.
Às 17h15, o Gol branco, onde estava o atirador, estacionou perto do lugar onde o advogado estava conversando. O atirador, com roupas escuras e uma touca ninja, desembarcou do veículo com uma pistola 9 milímetros e, após um breve momento de espera, disparou vários tiros contra a vítima.
Após os disparos, o atirador rapidamente retornou ao veículo, que o aguardava com a porta aberta, e fugiu. O primo do advogado não se feriu.
A Polícia Civil identificou o PM como autor dos disparos porque ele passou devagar por um posto de gasolina, o que permitiu aos investigadores identificar a placa do automóvel. O veículo pertencia a uma locadora na Taquara e foi alugado por Leandro, de acordo com as autoridades. O carro foi apreendido em Maricá.
Prisão de suspeitos
Três suspeitos pelo crime foram presos na terça-feira, 5. Eles são Eduardo Sobreira Moraes, o policial militar Leandro Machado da Silva e Cezar Daniel Mondego de Souza.
Moraes e Silva já haviam sido alvos da operação realizada na segunda-feira, 4, quando os agentes cumpriram mandados de busca e apreensão em endereços ligados a eles, mas não conseguiram encontrá-los. Vendo que o cerco estava se fechando, após a captura de Souza, ambos se apresentaram na sede da Delegacia de Homicídios.
Souza e Moraes teriam sido os responsáveis por monitorar o advogado dias antes do crime e também na manhã e na tarde do dia do assassinato. A dupla usava um carro modelo Gol branco similar ao dos atiradores, que foi filmado por câmeras de segurança. O carro foi entregue para Moraes pelo PM Leandro Machado da Silva. Segundo a investigação, Silva teria planejado o crime.
A PM informou que Silva já estava afastado do serviço nas ruas porque é investigado em um outro inquérito por participação em organização criminosa, tendo sido preso preventivamente em abril de 2021. Também já havia sido instaurado um procedimento administrativo disciplinar pela Corregedoria, que pode resultar na expulsão dele da corporação.
A prisão temporária de Souza foi realizada por agentes da Delegacia de Homicídios da capital e determinada pelo plantão judiciário do Tribunal de Justiça. A polícia atua para identificar outros possíveis envolvidos e apurar a motivação do crime.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado, até o momento, apenas a possibilidade de latrocínio não é considerada como motivação pelos investigadores do caso. Mas nenhuma outra hipótese foi descartada.
Relembre o caso
O crime ocorreu por volta das 17h, na Avenida Marechal Câmara, próximo à OAB e Marinho & Lima Advogados, escritório em que era sócio-fundador. De acordo com testemunhas, os criminosos estavam em um veículo branco.
De acordo com a polícia, o veículo em que o assassino chegou estacionou em uma fila dupla. Na sequência, ele saiu do banco traseiro, deu cerca de três passos e, em seguida, iniciou os primeiros disparos. Ao que parece, um dos criminosos chegou a chamá-lo antes dos tiros.
O criminoso continuou atirando contra o advogado, que já estava caído no chão. Após o ataque, o assassino retornou rapidamente para o veículo, que estava com a porta aberta. Ainda de acordo com a polícia, toda a ação durou apenas 14 segundos.
O advogado tinha o hábito de descer do escritório para tomar café e conversar com as pessoas. O crime foi registrado pelas câmeras de segurança da área e, segundo informações de policiais civis, o criminoso teria efetuado pelo menos 15 disparos de uma pistola 9 mm. Investigadores recuperaram mais de dez cápsulas no local.
Quem era Rodrigo?
Rodrigo Marinho Crespo se formou em Direito no ano de 2005, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), e era sócio-fundador do escritório Marinho & Lima Advogados. O advogado também se especializou em Direito Civil Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O profissional tinha experiência em Direito Civil Empresarial com ênfase em Contratos e Direito Processual Civil. O escritório em que atuava fica localizado na Avenida Marechal Câmara, mesma rua em que ele foi morto. No endereço, também estão localizadas a sede da Defensoria Pública, do Ministério Público estadual e da OAB.