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Igreja Católica alemã pede perdão a 3,6 mil vítimas de pedofilia

Documento revelou que crianças e adolescentes foram vítimas de abusos sexuais cometidos por 1.670 clérigos entre 1946 e 2014; presidente de conferência episcopal disse que a Igreja esteve 'durante muito tempo, olhando para o lado'

25 set 2018 - 11h35
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PARIS - A Igreja Católica alemã se desculpou oficialmente nesta terça-feira, 25, após um documento revelar que ao menos 3.677 crianças e adolescentes foram vítimas de abusos sexuais cometidos por membros do clero. Os crimes teriam ocorrido entre 1946 e 2014 e envolvem 1.670 clérigos.

"Quero pedir desculpas", disse o presidente da Conferência Episcopal Alemã, Reinhard Marx, durante coletiva de imprensa. "Os abusos sexuais são um crime e precisam ser punidos", completou. Ele lamentou que a Igreja esteve "durante muito tempo olhando para o lado, dissimulando, negando" os casos.

Com 356 páginas, o documento aponta que a maioria das vítimas eram meninos menores de 13 anos. "A quantidade de abusos me assustou", disse o professor Harald Dressing, do Instituto de Psicologia de Manheim, que coordenou o estudo. "Os abusos sexuais são um problema permanente, e não um problema histórico."

O catolicismo é a principal religião da Alemanha, com mais de 23 milhões de fiéis. Diante da situação, a ministra da Justiça do país, Katarina Barley, exigiu que a Igreja denuncie os abusos e colabore com as autoridades judiciais.

Em entrevista ao jornal Der Spiegel, a ministra disse acreditar que os casos são "provavelmente a ponta do iceberg". Ela ressaltou que a equipe elaborou o documento a partir apenas de 3,8 mil expedientes e manuscritos selecionados e enviados pela própria Igreja. Além disso, o grupo não teve acesso a arquivos de 27 dioceses alemãs.

Reunida desde sexta-feira, 21, a Conferência Episcopal Alemã apresentará uma nota oficial sobre o tema. "Não é fácil" falar sobre abuso sexual na Igreja, mas não vamos "ser intimidados pelo desafio", declarou Reinhard Marx. Durante o evento, será lançada uma linha telefônica de apoio a vítimas, além de um site com proposta semelhante.

Apenas um terço dos suspeitos foram julgados, recebendo sanções mínimas ou sendo sequer punidos. Em julho de 2017, uma publicação já havia relevado uma série de agressões físicas e de abusos sexuais cometidos contra ao menos 547 crianças de um coro católico entre 1945 e 1992.

Recentemente, o papa Francisco convocou os presidentes de todas as conferências episcopais para uma reunião em fevereiro de 2019 sobre a "proteção dos menores de idade".

O Brasil foi escolhido pelo pontífice, ao lado de Zâmbia e Filipinas, para desenvolver um projeto-piloto para dar voz das vítimas. A informação, dada pelo representante brasileiro na comissão, o leigo Nelson Giovanelli Rosendo dos Santos, foi divulgada pelo Estado.

Estadão
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