Arquidiocese proíbe padre Julio Lancellotti de transmitir missas e manda que ele se afaste das redes
Decisão foi comunicada no domingo; procurada pela reportagem, entidade afirmou que não irá se manifestar
O padre Júlio Lancelotti não irá mais transmitir missas ao vivo e vai se afastar temporariamente de suas atividades nas redes sociais, atendendo a uma orientação da Arquidiocese de São Paulo. As missas continuarão sendo presenciais.
"Reafirmo minha pertença e obediência à Arquidiocese de São Paulo", escreveu o padre. Procurada pela reportagem, a Arquidiocese de São Paulo afirmou que não irá comentar a orientação.
Coordenador da Pastoral do Povo da Rua, o padre negou que será transferido da Paróquia São Miguel Arcanjo, no Belenzinho, zona leste, onde começou o trabalho pastoral com populações de rua, adolescentes infratores e crianças com HIV há quase 40 anos.
Com forte relação com movimentos sociais, Lancelotti já até acionou a gestão Ricardo Nunes (MDB) na Justiça em 2023 contra a remoção de barracas de sem-teto. O padre também já foi alvo de críticas de políticos de direita e até da ameaça de uma Comissão de Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal sobre a atuação da ONGs na região da Cracolândia, no centro (leia mais abaixo).
O padre comunicou no domingo, 14, que as missas não seriam mais transmitidas. "Agradeço a todos que ajudaram na transmissão dessa missa desde a pandemia. Hoje é a última vez que a missa está sendo transmitida. Até que haja ordem em contrário, a partir do domingo que vem, a missa será só presencial. Não terá mais transmissão", anunciou o religioso no domingo.
"Assim como teve a primeira vez em que ela foi transmitida, hoje, no terceiro domingo do advento, está sendo a última vez", acrescentou.
As celebrações eram transmitidas ao vivo pela Rede TVT (TV dos Trabalhadores), mantida por sindicatos, pelo portal ICL e pelo YouTube.
Em nota enviada ao Estadão, o religioso acrescentou que as "redes sociais não estão movimentadas por um período de recolhimento temporário".
Quem é o padre Júlio Lancelotti
Júlio Lancelotti é uma figura conhecida nacionalmente pelo trabalho que realiza, há mais de 40 anos, com a população em situação de rua na capital paulista.
Paulistano nascido no bairro do Brás, Lancellotti é também o padre responsável pela Paróquia de São Miguel Arcanjo, da Mooca, desde 1986, onde começou o trabalho pastoral com populações de rua, menores infratores e crianças com HIV.
O padre tem sido alvo frequente de criticas de políticos nas redes sociais pelo trabalho com a população de rua.
Tachado de "padre esquerdista" por políticos de direita, Júlio Lancellotti chegou a ser alvo de ataques nas redes sociais e de ameaça de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara.
Após uma dessa onda de ataques, ele chegou a receber ligação de apoio do papa Francisco, que morreu em abril deste ano. O pontífice recomendou que ele não desanimasse do trabalho para auxílio dos pobres, mesmo diante de todas as dificuldades.
Um dos políticos mais próximos de Lancelotti é Guilherme Boulos, secretário-geral da Presidência no governo Lula.