Apagão em SP: Ricardo Nunes pede intervenção federal na Enel após crise de falta de energia
Em entrevista à Rádio CBN nesta sexta, prefeito de São Paulo criticou atuação da concessionária diante do blecaute causado por vendaval
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) criticou nesta sexta-feira, 11, a Enel, responsável pelo abastecimento de energia elétrica na capital e na região metropolitana. Em entrevista à Rádio CBN, Nunes cobrou intervenção federal pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na concessionária, mesma defesa feita pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) no dia anterior.
Nunes também apontou como insuficiente a mobilização da Enel após o blecaute, que chegou a atingir 2,2 milhões de imóveis da Grande São Paulo na quarta-feira, 10, e ainda afeta 731.492 imóveis nesta sexta. Nos últimos dias, paulistanos têm relatado transtornos e prejuízos, como perda de estoques de alimentos e dificuldades para usar outros serviços, como os de telefonia e internet.
Segundo o prefeito, a empresa reporta um número de equipes acionadas superior à quantidade de veículos da concessionária captados pelas câmeras municipais, como mostrou a colunista do Estadão Raquel Landim.
A reportagem procurou a Enel para comentar as críticas do prefeito, mas ainda não obteve resposta. A concessionária tem afirmado que mobilizou mais de 1,5 mil equipes para fazer reparos nas ruas e diz ter investido para melhorar o serviço.
Já o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, apontou "disputa política" nas críticas de Nunes e Tarcísio e afirmou trabalhar para resolver a crise. Não sinalizou, porém, intenção na intervenção federal.
O contrato federal com a Enel vence em 2028, mas o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem avaliado a antecipação renova. Nunes já acionou a Justiça para impedir que isso ocorra.
"As pessoas têm cobrado a Prefeitura pelos problemas. A concessão de energia é feita pelo governo federal. Como esta empresa está fazendo um atendimento muito ruim na cidade, temos de pedir ao governo federal que tire esta empresa daqui e traga uma empresa boa, como aconteceu em Goiás", afirmou Nunes à CBN.
Em Goiás, não houve intervenção federal, mas a Enel foi alvo de CPI e queixa do governo do Estado enviada à Procuradoria-Geral da República (PGR).
A CPI pediu a caducidade da concessão, uma das formas de extinção do contrato, que pode ser pedida por ineficiência do serviço. Apesar da pressão, a concessão se arrastou até 2022, quando a Enel Goiás foi vendida à Equatorial Energia.
A intervenção é uma punição mais branda que a caducidade. Na intervenção, a empresa não sai da operação, mas passa a ser comandada por um gestor designado pela agência federal - a Aneel.
Prefeitura reclama de baixo nº de carros da Enel
O prefeito disse à CBN que o número de equipes divulgado pela Enel é falso. Segundo ele, medições feitas pela Prefeitura apontam que havia menos de 40 veículos em circulação.
"Pegamos os dados das placas dos veículos que a Enel diz que tem, colocamos no SmartSampa (rede de câmeras da Prefeitura) e essas placas não aparecem circulando em nenhum local da cidade de São Paulo", disse o prefeito à rádio.
Imagens captadas pela TV Globo na quinta-feira, 11, mostraram carros parados no pátio da concessionária. À emissora, um diretor da empresa disse que a concentração de veículos se devia a uma rotatividade de turnos.
"Nós temos basicamente três turnos de trabalho. Esses carros são do período da tarde de ontem (quarta-feira), de pessoas que saíram às 22h, à meia-noite, 1h da manhã. E também do período da madrugada, pessoas que trabalharam até agora e voltaram. Então é uma rotatividade de veículos. As pessoas precisam descansar", disse à Globo Marcelo Puertas, diretor regional da Enel.
O que diz a Enel
De acordo com a Enel, o trabalho de restabelecimento da energia é "complexo". Nesta sexta-feira, 12, a companhia ainda não tinha informado um prazo para a normalização do serviço.
"Em algumas localidades, o restabelecimento é mais complexo, porque envolve a reconstrução da rede, com substituição de postes, transformadores e, por vezes, recondução de quilômetros de cabos", afirmou a Enel.
A velocidade das rajadas - que chegou a 98 km por hora na Lapa, na zona oeste -, nunca havia sido aferida pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) desde o início das medições, em 1963. Com o vendaval, houve muitas quedas de galhos e árvores sobre a fiação.
Ciclone está na origem do vento forte
O vendaval se formou sob influência de um ciclone extratropical formado no Sul do país nesta semana. De acordo com informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), nos próximos dias, o fenômeno irá se deslocar em direção ao Oceano Atlântico, permitindo a chegada de ventos menos intensos, predomínio de sol e elevação das temperaturas em São Paulo.
O ciclone extratropical se forma a partir do encontro entre uma massa de ar quente e uma massa de ar frio em latitudes mais elevadas - um processo contínuo que, normalmente, ajuda a regular a temperatura do planeta. Por isso, os ciclones são muito frequentes. Porém, na maior parte das vezes, eles ocorrem sobre o mar e não são muito fortes e, por isso, passam despercebidos.