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Bolsonaro diz que miliciano morto era herói quando foi condecorado

15 fev 2020 - 18h26
(atualizado às 18h50)
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Presidente quebra silêncio sobre morte de Adriano da Nóbrega e afirma que foi ele quem pediu ao filho Flávio Bolsonaro para que homenageasse o ex-capitão na Alerj em 2005. "É comum PM em operação matar vagabundo."O presidente Jair Bolsonaro quebrou o silêncio neste sábado (15/02) sobre a morte do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega, acusado de comandar uma milícia no Rio de Janeiro e fazer parte de um grupo de assassinos profissionais, durante operação policial na Bahia.

Em entrevista à imprensa brasileira durante um evento no Rio de Janeiro, o presidente disse que Adriano era um herói na época em que foi homenageado pelo senador Flávio Bolsonaro.

"Ele foi condenado em primeira instância e absolvido em segunda", afirmou o mandatário, em referência a um processo em que o ex-PM foi acusado de homicídio. "Não tem nenhuma sentença transitada em julgado condenando o capitão Adriano por nada. Sem querer defendê-lo. Desconheço a vida pregressa dele. Naquele ano [2005], era herói da Polícia Militar. Como é muito comum, um PM quando está em operação mata vagabundo, mata traficante."

Segundo Bolsonaro, ele próprio pediu que seu filho Flávio, então deputado estadual fluminense, homenageasse Adriano na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

"Para que não haja dúvida. Eu determinei. Meu filho condecorou centenas de policiais militares. Vocês querem me associar a alguém por uma fotografia, uma moção há 15 anos atrás. As pessoas mudam, para o bem ou para o mal mudam. Não estou fazendo juízo de valor", afirmou.

Em 2003, quando iniciou seu primeiro mandato na Alerj, Flávio propôs uma primeira homenagem a Adriano. Na moção de louvor, o então deputado disse que "o policial militar desenvolvia sua função com dedicação e brilhantismo, desempenhando com absoluta presteza e excepcional comportamento as suas atividades".

Em 2005, Adriano recebeu a medalha Tiradentes da Alerj, a pedido de Flávio. Ele estava preso na ocasião, suspeito pela morte do guardador de carro Leandro dos Santos Silva, de 24 anos. O miliciano foi detido provisoriamente em janeiro de 2004 e condenado em outubro de 2005. Após obter recurso para um novo julgamento, ele foi libertado em 2006 e absolvido em 2007.

Agora réu na Operação Intocáveis, Adriano estava foragido há mais de um ano, acusado de comandar um esquema de agiotagem, grilagem de terras e construções ilegais em Rio das Pedras, no estado do Rio de Janeiro, envolvendo pagamento de propina a agentes públicos.

Ele foi localizado pelas autoridades de segurança da Bahia num imóvel na cidade de Esplanada, no interior do estado. Segundo a Secretaria de Segurança Pública baiana, o ex-PM resistiu a uma tentativa de prisão no último domingo, 9 de fevereiro, disparou contra os policiais e acabou sendo morto em meio à troca de tiros.

Questionado se estava acompanhando as investigações sobre o caso, Bolsonaro afirmou que a responsabilidade pela morte de Adriano era da Polícia Militar da Bahia - e fez questão de lembrar que o estado é governado por um petista, Rui Costa.

"Quem é responsável pela morte do capitão Adriano? A PM da Bahia, do PT. Precisa falar mais alguma coisa?", afirmou o presidente. Ele evitou responder se a morte estaria ligada a uma questão política, reiterando que quem matou o ex-capitão foi a Polícia Militar baiana.

Bolsonaro disse ainda que conheceu Adriano em 2005 - ano em que o então deputado federal defendeu o ex-policial em discurso na Câmara dos Deputados, em relação à condenação por homicídio - e negou ter qualquer relação com a milícia do Rio.

"Homenageei centenas e centenas de policiais militares e vou continuar defendendo, não adianta querer me vincular com a milícia, não tem absolutamente nada com milícia", afirmou. "Eu não conheço a milícia no Rio de Janeiro. Desconheço. Não existe nenhuma ligação minha."

Acusações contra Adriano da Nóbrega

Além das acusações no âmbito da Operação Intocáveis, o ex-capitão também era suspeito de cometer diversos homicídios e de comandar o chamado Escritório do Crime, um grupo de extermínio formado por membros da "banda podre" da polícia que comete assassinatos por encomenda, muitas vezes a mando da milícia.

A polícia também investiga a suspeita de participação desse grupo no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018, por encomenda da milícia que controla a favela de Rio das Pedras.

Em 2011, Adriano já fora preso numa operação de grande repercussão no Rio, por suspeita de atuar como segurança de um bicheiro. Em 2014 foi expulso da Polícia Militar (PM).

Ele também é citado na investigação que apura um esquema de "rachadinha" (divisão de salários de funcionários) no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj.

Adriano trabalhou no 18º Batalhão da PM com Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio na Assembleia do Rio e investigado por lavagem de dinheiro na prática da "rachadinha". Segundo o Ministério Público, Adriano participava do esquema: contas bancárias controladas pelo miliciano teriam sido usadas para abastecer Queiroz.

Além disso, a mãe e a ex-mulher de Adriano trabalharam no gabinete de Flávio na Alerj, supostamente contratadas por Queiroz, que é amigo de décadas de Jair Bolsonaro. Parte do salário das duas ficava com o ex-PM, segundo aponta o Ministério Público.

Operação controversa

A ação policial que terminou com a morte do miliciano, da qual participaram cerca de 70 agentes, foi alvo de controvérsias. O que se sabe até agora é a versão oficial das autoridades, de que ele foi morto durante uma troca de tiros, após reagir à ordem de prisão.

A mulher de Adriano, por outro lado, fala em execução com intuito de "queima de arquivo". Em entrevista à imprensa brasileira, o advogado do ex-policial, Paulo Emílio Cata Pretta, corroborou essa hipótese, afirmando que Adriano temia se entregar à polícia por acreditar que seria morto, e não preso. Autoridades baianas chamaram a versão de "estapafúrdia".

Em meio à polêmica, a Corregedoria-Geral da Secretaria de Segurança Pública da Bahia abriu uma investigação para apurar as circunstâncias da morte.

Flávio foi o primeiro membro da família Bolsonaro a comentar o caso, dias após a morte do ex-policial. Em mensagem no Twitter, ele sugeriu que Adriano foi "brutalmente assassinado" durante a operação na Bahia e pediu que as circunstâncias da morte sejam esclarecidas pelas autoridades.

EK/ots

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