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A estratégia do Irã frente à pressão dos EUA

Teerã afirma não ter nada a ver com ataque de drones à Arábia Saudita

19 set 2019 - 12h47
(atualizado às 13h24)
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O Irã está "sem sombra de dúvida" por trás dos ataques às instalações de petróleo na Arábia Saudita, comunicou o governo em Riad na noite de quarta-feira (19/09). Investigações mostraram que os foguetes não poderiam ter sido disparados do Iêmen, no sudoeste, mas vieram do norte. Os Estados Unidos já haviam culpado Teerã pelos ataques do fim de semana, mas sem fornecer provas decisivas.

Rebeldes houthis iemenitas aliados do Irã assumiram a autoria do ataque que temporariamente reduziu à metade a produção de petróleo saudita. Eles são combatidos pela Força Aérea saudita há mais de quatro anos, com muitas vítimas civis.

Riad. "Ataque de drones só pode ter vindo do Norte"
Riad. "Ataque de drones só pode ter vindo do Norte"
Foto: DW / Deutsche Welle

Em carta oficial ao governo americano, o Ministério das Relações Exteriores do Irã rejeitou qualquer envolvimento nos ataques às instalações petrolíferas sauditas. "O Irã não tem nada a ver com o ataque", afirma o documento enviado a Washington através da embaixada da Suíça em Teerã. Berna representa os interesses diplomáticos dos EUA no Irã. "Se uma ação [militar] for tomada contra o Irã, responderemos imediatamente, e as dimensões não seriam limitadas", continua a carta.

"A estratégia de Teerã é justamente esta: se o Irã for atacado militarmente, toda a região será envolvida numa guerra abrangente. Teerã quer elevar o custo do conflito entre os EUA e seus aliados, de um lado, e o Irã, do outro", analisa Farzaneh Roostaei, em conversa com a DW.

A jornalista e especialista em questões militares na região do Golfo diz não acreditar que o Irã não tenha "nada" a ver com o ataque às instalações petrolíferas sauditas. "Suspeita-se que o Irã, com ajuda dos houthis ou de outra milícia xiita, quer mostrar os limites dos EUA."

Em maio de 2018, os americanos se retiraram unilateralmente do acordo nuclear internacional e, como parte de sua estratégia de "pressão máxima", impuseram uma enxurrada de duras sanções aos iranianos. O presidente dos EUA, Donald Trump, alega querer forçar Teerã a um acordo novo e abrangente, também incluindo a política regional iraniana e seu programa de mísseis.

"Embaraçoso para Arábia Saudita"

A Arábia Saudita, principal aliada dos EUA no Golfo Pérsico e arquirrival do Irã, apoia a política americana. Ao mesmo tempo, há uma perigosa luta pela supremacia no Oriente Médio entre Riad e Teerã. Embora os iranianos não possam importar armas sob a Resolução 2231 de 2015 do Conselho de Segurança da ONU, a Arábia Saudita é um dos países com os maiores gastos com armamentos no mundo.

"A Arábia Saudita é o maior comprador de armas americanas, com 10% de todas as exportações de armamentos dos EUA indo para lá", informa o especialista em Oriente Médio Michael Lüders. "No entanto, bastaram alguns drones relativamente simples para paralisar partes centrais da indústria produtora de petróleo. Foi muito embaraçoso para a Arábia Saudita."

O príncipe herdeiro e ministro da Defesa saudita, Mohammed bin Salman, descreveu o ataque por drones como "um teste da vontade da comunidade internacional para reagir a tais atos que ameaçam a segurança e a estabilidade internacionais". Trump anunciou que "endurecerá significativamente" as sanções contra o Irã.

A República Islâmica já se encontra sob enorme pressão das sanções americanas, vivenciando protestos quase diários, que são brutalmente reprimidos pelas forças de segurança. Como na última segunda-feira, em Arak, no oeste do país, quando centenas de trabalhadores da Companhia Produtora de Equipamentos Pesados (Hepco) protestaram por não serem remunerados desde junho. O maior fabricante de máquinas pesadas do Oriente Médio está prestes a falir.

A crescente pressão externa e interna tem consequências. "A paciência estratégica do Irã está chegando ao fim", avalia Ellie Geranmayeh, especialista em assuntos iranianos do think tank Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR).

De início, o Irã esperava que europeus e chineses elaborassem para ele uma espécie de pacote econômico, e então esperaria pela próxima eleição nos EUA, contando com uma vitória da ala democrata, diz Geranmayeh.

Mas a falta da receita do petróleo e a economia global em declínio tornaram esse plano obsoleto. Em resposta, o Irã violou suas obrigações no acordo nuclear, de início em etapas bem dosadas. Agora, suspeita Geranmayeh, está também aumentando a pressão em nível regional.

Embora ainda não esteja claro até que ponto os iranianos estão realmente por trás dos ataques, suas capacidades militares e o impacto de sua guerra assimétrica se tornaram tão claros quanto a vulnerabilidade do suprimento global de energia. Isso coloca Teerã nos holofotes da comunidade internacional. E o país parece estar disposto a tudo fazer para resistir até que seu objetivo prioritário seja alcançado: a suspensão do embargo americano ao petróleo iraniano.

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