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“Você não tem cara de PcD” e o desafio que ninguém vê por trás do colar de girassol

Assim como o girassol busca o sol, pessoas com deficiências ocultas buscam a compreensão e o apoio daqueles ao seu redor

14 ago 2023 - 05h00
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Lei formaliza o uso da fita adornada com o símbolo do girassol e busca identificar e apoiar aqueles que lidam com deficiências não imediatamente perceptíveis
Lei formaliza o uso da fita adornada com o símbolo do girassol e busca identificar e apoiar aqueles que lidam com deficiências não imediatamente perceptíveis
Foto: Roberto Suguino / Agência Senado

Em uma sociedade que muitas vezes julga e compreende com base no que é aparente, as pessoas que enfrentam deficiências ocultas travam batalhas silenciosas e desafiadoras. Em um esforço para jogar luz sobre essa questão, a Lei 14.624/23 foi sancionada em 17 de julho pelo presidente em exercício, Geraldo Alckmin.

Essa lei, que formaliza o uso da fita adornada com o símbolo do girassol, busca identificar e apoiar aqueles que lidam com deficiências não imediatamente perceptíveis. Apesar desse marco legislativo, os desafios enfrentados por pessoas com deficiências ocultas permanecem profundos e complexos, frequentemente necessitando de uma sensibilidade mais aguçada para serem compreendidos.

As deficiências ocultas, muitas vezes não visíveis à primeira vista, representam um amplo espectro de condições que afetam a vida de milhões de pessoas em todo o país. A nova legislação não apenas chama a atenção para essas realidades muitas vezes negligenciadas, mas também estabelece um símbolo tangível de solidariedade e apoio.

Deficiências imperceptíveis ao “olho da rua”

Deficiências ocultas, como o próprio nome sugere, são aquelas que podem não ser evidentes à primeira observação. Muitas vezes, essas deficiências não são visíveis exteriormente, mas seus impactos na vida cotidiana podem ser tão desafiadores quanto os das deficiências visíveis. Elas podem incluir condições como transtornos mentais, distúrbios neurológicos, doenças crônicas e outras condições de saúde que não têm manifestações óbvias.

Muitas vezes, os desafios enfrentados por essas pessoas são subestimados, uma vez que as limitações não são evidentes externamente.

“Cara de PcD”

Deborah Martins, ativista indigena pataxó, é autista, e desabafa “Acho que o mais clássico dos desafios sendo uma pessoa com deficiência oculta é o famoso “mas você nem tem cara de PcD [Pessoa com Deficiência]” como se eu precisasse corresponder a certos estereótipos para ser “autista o suficiente”. Usar assentos, filas e qualquer outro dispositivo de acessibilidade é sempre um desafio porque, mesmo com o colar, é inevitável que as pessoas olhem com a cara feia ou que façam algumas piadas.”

Deborah, que compartilha nas redes sociais seus desafios diários desde que recebeu o tardio diagnóstico de autismo, publicou em sua conta do Twitter (hoje X) sua experiência única sobre a segurança e autonomia que sentiu ao poder viajar  de avião com sua cã de serviço, a Diva.

Deborah Martins, ativista indigena pataxó, é autista, e desabafa “Acho que o mais clássico dos desafios sendo uma pessoa com deficiência oculta é o famoso “mas você nem tem cara de PCD”
Deborah Martins, ativista indigena pataxó, é autista, e desabafa “Acho que o mais clássico dos desafios sendo uma pessoa com deficiência oculta é o famoso “mas você nem tem cara de PCD”
Foto: Reprodução/ Twitter Deborah Martins

E ao contrário do que muitos pensam, o cão guia não é exclusivo apenas para deficientes visuais, mas um animal treinado para auxiliar uma pessoa com deficiência oculta, reduzindo sua ansiedade, impulsividade e abalo emocional durante um voo.

“Numa escala maior, acho que meu maior desafio como pessoa com deficiência que precisa lidar com burocracias foi viajar de avião com meu animal de serviço. Estar com o colar no aeroporto me ajudou muito no momento porque a grande maioria dos funcionários entendem do que se trata. Foi uma pequena burocracia que deu certo.”, comentou Deborah.

Sobre o cordão, Deborah complementa: “O primeiro passo sempre é a conscientização. O cordão ajuda que a gente seja visto, respeitado e que nossos direitos sejam garantidos. Infelizmente na prática não é bem assim nem com o colar e muito menos sem, mas eu acredito que a informação precisa ser espalhada e a ignorância precisa ser combatida para que possamos viver com autonomia e dignidade!”

Deborah Martins e sua cã de serviço, Diva
Deborah Martins e sua cã de serviço, Diva
Foto: Reprodução/ Instagram Deborah Martins

O Girassol: símbolo de identificação

O girassol, com sua coragem para enfrentar o sol e sua capacidade de seguir a luz, tornou-se um símbolo para aqueles que carregam deficiências ocultas.

A fita de girassol, agora oficialmente reconhecida pela Lei 14.624/23, tem um significado mais profundo do que uma simples decoração. Ela se tornou um símbolo de identificação para aqueles que enfrentam desafios invisíveis. Mais do que isso, o girassol representa a resiliência e a força interior das pessoas com deficiências ocultas.

Leandro Ribeiro, estudante que vive com ansiedade há 2 anos, compartilha sua experiência com o cordão: "O girassol é um lembrete visual, um alarme para as pessoas entenderem e compreenderem nossas condições. As pessoas frequentemente minimizam minha condição, pensando que é algo que posso controlar. A fita de girassol, agora oficialmente reconhecida, é mais do que um adereço – é uma proteção para nós”

Para o estudante de semiótica, falta maior divulgação da fita. “É preciso que os jornais, novelas, redes, postem mais sobre a existência e sobre o que significa o cordão de girassol, não adianta só estar usando, se as outras pessoas ao redor não souberem o que ela representa” aponta.

A Necessidade de Mudança

A Lei 14.624/23 é um marco importante na luta pela conscientização das deficiências ocultas. No entanto, a transformação real só acontecerá por meio de uma mudança cultural abrangente. É essencial promover a educação e a empatia para criar uma sociedade que acolhe todas as formas de diversidade e promova a empatia.

André Monge, 23 anos, é estudante e vive com deficiência auditiva e comenta: "As pessoas costumam pensar que estou ignorando, acham que sou mal-educado. A fita de girassol é um símbolo que diz: 'mesmo meu problema não sendo visível, minha luta é existe, ela é real. As pessoas precisam saber, de alguma forma, e o cordão pode sinalizar isso. Claro, é preciso ser mais divulgado a respeito, mas a lei é um caminho.”

A lei que formaliza o uso da fita de girassol busca transformar a sociedade em um ambiente mais compreensivo e inclusivo. Ao criar uma maneira visível de reconhecer as deficiências ocultas, a esperança é que as pessoas pensem duas vezes antes de julgar ou subestimar as batalhas internas de alguém. A fita é um convite para a empatia, para enxergar além das aparências e criar um mundo onde todos possam florescer, independentemente das barreiras que enfrentam.

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Fonte: Redação Nós
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