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Viva mobilidade

Troquei uma bengala por duas muletas canadenses e fui para a rua.

11 mai 2024 - 12h06
(atualizado em 14/5/2024 às 09h42)
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Minha mobilidade está bastante limitada, principalmente para caminhar por calçadas irregulares ou atravessar avenidas movimentadas, mesmo na faixa de pedestres. Ando devagar e atento aos desníveis do chão.

É uma consequência da polineuropatia de Charcot-Marie-Tooth. Minhas pernas já não respondem como deveriam, meus pés perderam força e flexibilidade, e meu equilíbrio desapareceu.

Passei a vida trabalhando meu corpo para reduzir o avanço das atrofias musculares provocadas pela CMT, mas sempre entendi que poderia chegar um momento no qual haveria necessidade de trocar a estratégia diante do que a degeneração dos nervos periféricos iria provocar.

Nunca tive dúvidas sobre o avanço dessa condição.

Em 2007 e 2008, então com 36 anos, consegui me submeter a cirurgias ortopédicas nos pés. Eram bastante deformados, o que me impedia de usar quase todo tipo de calçado e atrapalhava substancialmente o desenvolvimento das panturrilhas. O resultado foi muito positivo e hoje tenho muito mais conforto.

Minhas pernas começaram a falhar e doer com mais frequência a partir de meus 40 anos. Percebia em escadas, o movimento rígido, especialmente do lado direito. Levantar de cadeiras muito baixas era mais difícil e passei a tropeçar constantemente, inclusive dentro de casa. Redobrei a atenção, mas foram vários os tombos.

Peguei covid-19 aos 50 anos, em 1° de janeiro de 2022, no almoço de Réveillon da família, após tomar três doses da vacina. Creio que teria morrido sem a imunização porque foi a partir desse momento que minha mobilidade realmente degringolou e meu quadro respiratório piorou. Desenvolvi rinite crônica e recebi diagnósticos de asma e DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica). Tudo se tornou mais difícil e tomar banho, por exemplo, era exaustivo.

A respiração melhorou muito com tratamento correto, mas as dificuldades de movimentos de pernas e pés acentuaram. Em setembro de 2022, durante a caminhada de retorno de um café com minha esposa e uma amiga nossa, entrei na farmácia e comprei uma bengala de madeira, paguei R$ 35, e fui em frente com esse recurso.

Jamais tive luto pela perda da mobilidade. Essa é a minha condição atual e sigo meus caminhos da mesma forma, adaptado ao que meu corpo faz ou não.

Mês passado, aos 52 anos, percebi que era, novamente, hora de atualizar o plano. Escrevo e falo diariamente sobre acessibilidade desde 2012, quando este blog estreou, conheço muitos produtos de várias marcas, já visitei empresas, fábricas, lojas e eventos, testei bengalas, muletas, andadores e cadeiras de rodas, mas decidir sobre qual será meu equipamento tem outro significado.

Comprei um par de muletas canadenses articuladas da Mercur (isso não é publicidade, merchant, marketing ou parceria paga) diretamente no website da empresa, por R$ 286, que pagarei em dez parcelas.

Perceba como o custo da minha acessibilidade aumentou.

Após algumas experiências em casa e num shopping, onde o piso é totalmente linear e há bancos para descansar, fiz a prova de fogo nesta semana, no caminho de duas quadras entre meu prédio e o estúdio de Pilates que visito três vezes por semana, atravessando duas pistas de uma avenida onde não há semáforo ou faixa de pedestres, e uma calçada estreita me obriga a ficar no meio dos veículos em velocidade.

Pode ser interessante o envio junto com as muletas de algum dispositivo que ajude a pressionar os pinos de ajuste da altura. Tenho atrofias nas mãos e não consegui fazer essa movimentação sozinho.

A mobilidade e a autonomia da pessoa com deficiência são fundamentais. A marcha, o caminhar, tão naturais, podem sucumbir com tamanha rapidez que essa constatação gera medo, insegurança e uma sensação de dependência.

Acessibilidade é uma conquista permanente que transforma a autocompreensão.

Continuo em frente, muito melhor, equilibrado, estável, dominando meus passos, em quatro apoios, amparado pela tecnologia assistiva, com segurança e independência.

A mobilidade é viva.

Estadão
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