Vítima de importunação sexual em ônibus conta detalhes em entrevista exclusiva
Acusado, pela primeira vez, veio a público relatar sua versão do acontecido
A modelo Raquel Possu denunciou importunação sexual em viagem de ônibus entre São Paulo e Rio de Janeiro. Além do assédio, relatou falta de apoio das autoridades e a exposição de seus dados pessoais pela empresa.
A modelo e estudante Raquel Possu, de 25 anos, denunciou em suas redes sociais ter sido vítima de importunação sexual durante uma viagem de ônibus da empresa Nova Itapemirim, entre São Paulo e Rio de Janeiro. Em entrevista exclusiva ao Terra Agora, nesta quinta-feira, 3, ela relatou o trauma vivido e a dificuldade em obter apoio imediato das autoridades e da empresa.
Segundo Raquel, o assédio ocorreu enquanto dormia durante a viagem. "Naturalmente, em algum ponto, eu dormi. Quando acordei, nem sei se foi pelo toque dele ou porque o ônibus estava desacelerando. Mas acordei com ele me tocando e com o pênis de fora. Ele guardou imediatamente", contou.
Em estado de choque, ela se levantou e foi até o motorista, que lhe ofereceu duas opções: mudar de assento ou fazer uma denúncia. "Falei que queria os dois, porque não achei certo sair dali sem denunciar."
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O motorista então a encaminhou ao gerente do posto de parada Graal, que, por sua vez, a direcionou aos policiais presentes no local. Raquel foi instruída a voltar ao ônibus para identificar o suspeito sem alarde, sentando-se novamente ao lado dele. No entanto, segundo a vítima, o motorista logo a cutucou pelo banco e informou que os policiais haviam sido chamados para outra ocorrência e não compareceriam. "Entre risos, ele disse: 'Ele tem cara de pervertido mesmo'", revelou.
Falta de assistência e exposição de dados
Temendo que o suspeito saísse impune, Raquel pediu ajuda a um amigo no Rio de Janeiro para que acionasse a polícia no local de desembarque. Durante a viagem, tentou usar o interfone para comunicar o motorista sobre a interceptação, mas o dispositivo não funcionava.
"Ou seja, eu estava lá, nessa viagem, com esse assediador, e ainda por cima sem nenhuma forma de contato com o responsável", desabafou.
Ao chegar ao Rio de Janeiro, conseguiu registrar um boletim de ocorrência. Entretanto, a situação tomou um novo rumo quando a Nova Itapemirim divulgou uma nota de repúdio ao ocorrido, expondo os dados pessoais da vítima. "Agora estou tendo que me defender também, porque a postura da empresa foi de divulgar meus documentos, meu endereço pessoal", denunciou.
A falta de apoio das autoridades e a reação da empresa intensificaram a revolta de Raquel. "Depois de pedir socorro tantas vezes e perceber que ninguém está dando a mínima, você entende que terá que agir por conta própria", afirmou.
Acusado nega importunação
Procurado pelo Terra, o suspeito, Jeferson Rosa, negou a acusação. Segundo ele, durante a viagem, permaneceu no próprio assento e estava desconfortável por não estar acostumado a viajar longas distâncias de ônibus. "Eu estava sentado na frente da escada, com uma geladeira na minha frente, todo mundo pegando água. Não tinha nem como eu fazer qualquer coisa", disse.
Jeferson também alegou ser homossexual, o que, segundo ele, impediria uma violência sexual contra uma mulher. "Não tem sentido, não tem como eu ter feito qualquer coisa porque a câmera me pega nitidamente", declarou, acrescentando que teme as consequências da exposição do caso.
Empresa afirma não ter encontrado irregularidades
A Nova Itapemirim afirmou, em nota, que realizou uma "rigorosa apuração por meio do comitê de crise" e analisou mais de seis horas de imagens sem identificar qualquer irregularidade. "Não foi constatado um aparente ato de importunação e todo o material foi disponibilizado às autoridades competentes", declarou.
Por outro lado, o advogado da vítima, Pedro Henrique Telofor, confirmou que já foi movido um processo contra a empresa. "Foi acionada uma indenização por danos morais devido à divulgação indevida de documentos sigilosos, uma vez que o caso está sob segredo de justiça."
Raquel Possu, exausta, reforça que seguirá lutando por justiça. "Se nada for feito, esse será mais um exemplo do motivo pelo qual mulheres não denunciam."