Queer, o que é? Entenda o termo e a luta desta comunidade
Descubra o que significa ser queer, sua história, importância política e o papel dessa identidade na luta por visibilidade e respeito.
O termo "queer" abrange identidades e orientações sexuais que não seguem normas tradicionais, sendo ressignificado de forma afirmativa pela comunidade LGBTQIA+ para promover inclusão, resistência e diversidade.
Explorar a diversidade em todas as suas camadas é essencial para construir uma sociedade mais justa e inclusiva. E, nesse cenário, compreender os conceitos e as vivências que envolvem a sigla LGBTQIAPN+ é um passo importante.
Uma das letras que mais despertam dúvidas e, ao mesmo tempo, carrega uma enorme potência política é o Q, de queer.
Agora, você pode estar se perguntando: queer, o que é? E nesse conteúdo vamos te mostrar mais do que o significado, mas também a origem, o uso na atualidade e o papel do termo queer na luta por direitos e visibilidade.
Queer, o que é?
De forma direta, queer é um termo usado para descrever pessoas cujas identidades de gênero ou orientações sexuais fogem das normas cis-heteronormativas. Ou seja, pessoas que não se identificam com os padrões tradicionais de masculinidade, feminilidade, gênero binário e heterossexualidade.
Hoje, queer é entendido como um termo guarda-chuva. Isso significa que ele abrange uma série de vivências e identidades que não se encaixam em categorias fixas ou normativas.
Quem se define como queer pode ser gay, lésbica, bissexual, pansexual, trans, não-binário, agênero, entre outras identidades ou nenhuma delas especificamente. O foco está justamente na fluidez e na recusa de rótulos fixos.
Mais do que uma orientação ou identidade de gênero, ser queer é também um posicionamento político e social. É afirmar, com orgulho, uma existência fora dos padrões impostos pela sociedade.
Origem e história do termo queer
A palavra “queer” vem do inglês e, originalmente, significa algo como “estranho”, “excêntrico” ou “fora do comum”. No século XIX, o termo começou a ser usado de forma pejorativa para insultar pessoas que não seguiam padrões heterossexuais ou de comportamento de gênero tradicional.
Durante décadas, ser chamado de queer era ofensivo. O termo carregava peso de discriminação, marginalização e violência. No entanto, a partir das décadas de 1980 e 1990, especialmente nos Estados Unidos e na Europa, ativistas LGBTQIAPN+ iniciaram um movimento de ressignificação da palavra.
O objetivo? Retomar o controle sobre a narrativa e transformar um insulto em símbolo de resistência. Essa reapropriação ganhou força com movimentos radicais que criticavam a assimilação da comunidade aos padrões da sociedade heteronormativa.
Em vez de pedir aceitação pelos moldes tradicionais, essas pessoas passaram a afirmar o orgulho de ser diferente e de ser queer.
A partir daí, a palavra passou a ser usada como forma de identidade e também de crítica social.
Como queer é usado atualmente?
Hoje, o termo queer é utilizado de diversas formas. Ele pode servir como autoidentificação para pessoas que não se reconhecem nas categorias tradicionais de gênero e sexualidade. Como também, pode representar um posicionamento político de contestação às normas sociais que impõem um padrão único de existência.
Na prática, ser queer pode significar:
- Identificar-se com múltiplas vivências de gênero e/ou sexualidade.
- Recusar definições fixas e rígidas.
- Rejeitar as expectativas da sociedade sobre como um corpo, uma identidade ou um desejo deve funcionar.
- Usar o corpo, a arte, a fala e o afeto como instrumentos de ruptura e transformação.
Além da vivência cotidiana, queer também se consolidou como conceito em ambientes acadêmicos, especialmente a partir da criação da Teoria Queer.
Na cultura pop, artistas, influenciadores e personagens têm assumido identidades queer como forma de visibilidade e afirmação. O termo está presente em entrevistas, músicas, roteiros, discursos e redes sociais, ajudando a ampliar o debate sobre diversidade.
Teoria Queer: uma crítica ao binarismo
A Teoria Queer é uma vertente dos estudos de gênero e sexualidade que se desenvolveu nos anos 1990, tendo como uma de suas principais referências a filósofa e escritora Judith Butler, autora do livro Gender Trouble ("Problemas de Gênero").
A teoria propõe uma desconstrução das normas que definem o que é ser homem ou mulher, o que é ser heterossexual ou homossexual. Ela questiona a ideia de que existem apenas dois gêneros fixos e que a heterossexualidade é o padrão natural.
Em vez disso, a Teoria Queer afirma que gênero e sexualidade são construções sociais, performáticas e diversas e que os corpos e identidades não precisam obedecer a categorias estáticas.
Essa perspectiva tem sido fundamental para o avanço dos debates sobre inclusão, direitos humanos e políticas públicas, especialmente em áreas como educação, cultura, saúde e direito.
Queer é uma identidade?
Sim. Para muitas pessoas, queer é uma identidade pessoal. E mais: é uma forma de afirmar quem se é num mundo que tenta, a todo momento, encaixar todo mundo em caixas estreitas.
Uma pessoa pode se identificar como queer quando:
- Sente que os rótulos existentes não a representam;
- Vive a sexualidade de forma fluida;
- Se reconhece fora do binarismo de gênero;
- Não se sente confortável com as definições tradicionais de “homem”, “mulher”, “gay”, “hétero”, etc.
Essa identidade pode mudar ao longo da vida e tudo bem. A fluidez é parte essencial da experiência queer.
Famosos que se identificam como queer
A representatividade importa e ver pessoas conhecidas se identificando como queer ajuda a valorizar a diversidade. Alguns exemplos de artistas que se autodeclaram queer:
- Pabllo Vittar – cantora e drag queen brasileira, ícone LGBTQIAPN+ internacional.
- Gloria Groove – cantora, rapper e drag queen brasileira, que aborda temas de identidade e resistência em suas músicas.
- Janelle Monáe – artista norte-americana que se descreve como uma “mulher negra e queer”, abordando temas de identidade em suas letras e discursos.
- Laverne Cox – atriz e ativista trans, conhecida pela série "Orange Is the New Black", que também se reconhece como queer.
- Jonathan Van Ness – estrela da série "Queer Eye", é uma pessoa não-binária e queer, defensora de pautas LGBTQIAPN+.
Essas figuras públicas usam suas vozes e visibilidade para abrir caminhos e dar nome a experiências que, por muito tempo, foram silenciadas.
Diferença entre queer, gay, trans e outros
É comum confundir os termos dentro da sigla LGBTQIAPN+, então é importante esclarecer:
- Gay: geralmente, homens que se relacionam afetiva e sexualmente com outros homens.
- Lésbica: mulheres que se relacionam com mulheres.
- Bissexual: pessoas que se atraem por mais de um gênero.
- Trans: pessoas cuja identidade de gênero é diferente daquela atribuída no nascimento.
- Não-binário: pessoas que não se identificam exclusivamente como homem ou mulher.
- Queer: pode incluir todas as identidades acima ou nenhuma delas de forma fixa.
Ou seja, “queer” não é sinônimo de “gay” ou “trans”, mas pode englobar essas e outras vivências. É um termo amplo, fluido, que valoriza o direito de cada pessoa se definir (ou não se definir) como quiser.
Qual é a bandeira queer?
A comunidade queer também tem sua bandeira, embora não seja tão conhecida quanto outras. A versão mais difundida traz três cores principais:
- Lavanda: simboliza a androginia, ou seja, a mistura de características tradicionalmente associadas a masculinidade e feminilidade.
- Branco: representa identidades agêneras ou a ausência de gênero.
- Verde: cor escolhida para representar pessoas não-binárias ou que rejeitam o binarismo de gênero.
Essas cores foram escolhidas para representar a multiplicidade, a fluidez e a não conformidade que caracterizam a experiência queer. A bandeira é um símbolo de orgulho, resistência e liberdade.
Que dia o queer é celebrado?
Embora não exista, oficialmente, um “Dia do Orgulho Queer” específico, a identidade queer é amplamente celebrada no Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, comemorado em 28 de junho.
A data marca o aniversário da Revolta de Stonewall, ocorrida em 1969 em Nova York, quando pessoas, em sua maioria, trans e queer, resistiram à violência policial. Esse episódio é considerado o marco do movimento moderno pelos direitos da comunidade ao redor no mundo.
Desde então, o 28 de junho se transformou num dia de visibilidade, celebração e luta por dignidade, igualdade e reconhecimento.
Agora que você entende melhor o que é ser uma pessoa queer, pode perceber que estamos falando muito mais do que uma identidade: estamos falando de uma maneira de existir.
E, num mundo que ainda impõe tantas violências à diversidade, reconhecer e valorizar as identidades queer é parte essencial da construção de um futuro mais justo para todas as pessoas.
Para saber mais sobre diversidade e se manter informado sobre o universo LGBTQIAPN+, acompanhe a editoria Nós do Terra!