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BBB23: Por que o choro do Cezar Black não comove o Brasil?

Homem preto que chora diante de suas fraquezas não corresponde à expectativa racista sobre masculinidade

3 abr 2023 - 11h26
(atualizado às 11h26)
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Cezar Black costuma ser destaque por seus momentos de emoção e choro no BBB23
Cezar Black costuma ser destaque por seus momentos de emoção e choro no BBB23
Foto: Reprodução/Globo

Muitas vezes, Cezar Black é destaque nas redes sociais - e até na edição do programa - por seu choro e sua emoção. Na última festa do BBB23 aconteceu novamente. Ele, durante uma conversa com Fred Nicácio, chorou bastante, relatou como se sentia, que poucas vezes foi ele mesmo na casa, que tem ligações pontuais, mas nada que o faça se sentir prioridade de alguém.

O choro do enfermeiro já virou meme na internet há algum tempo. Teve o episódio em que ele chora quando ouve a “sua” música, teve o choro ao ver seu cachorrinho no vídeo do anjo e chorou copiosamente ao não ser eliminado no paredão que eliminou a Larissa. Isso não ocorre devido ao longo tempo de confinamento, é importante ressaltar que nos primeiros dias do reality, Black chorou muito após achar ofensiva uma fala do Fred sobre a enfermagem.

Quem nunca escutou que homem não chora? Essa, talvez, seja uma das frases que eram mais ouvidas por meninos antes mesmo deles terem entendimento completo sobre o que é dito. Frases como essa são apenas o pontapé inicial para tudo que é formatado sobre o que é ser homem na nossa sociedade. Agressividade, virilidade, coragem, prover, não chorar, não sentir, não externar e muitas outras coisas que fazem mal não só para eles, mas também é a força motriz para muitas das mazelas sociais que vivemos.

Quando pensamos essas questões somadas ao viés racial fica tudo ainda mais complexo, já que, diferente dos homens brancos, homens negros não gozam da mesma empatia social. A agressividade oriunda do homem negro, desde o tempo da escravização, jamais foi vista como algo benéfico, muito pelo contrario, a agressividade de homens negros era o maior medo da sociedade escravagista e era punida severamente. Até hoje vemos como o estado lida de maneira bem distinta quando homens negros, ainda que sem agressividade, tentam se impor.

Outro ponto que homens negros também não conseguiam se enxaicar no ideal branco de masculinidade é ser o provedor. Como ser o provedor da família sendo escravizado? Como ser o provedor da família, após a abolição, sem emprego? E ainda, hoje, como ser o provedor da família se o salario médio do homem negro é menor do que o das mulheres brancas? Fora isso, nas histórias contadas pelas pessoas mais velhas, as mulheres negras estavam sempre ali, lado a lado com o homem para poder prover o mínimo para seus filhos. Isso quando não eram elas o arrimo da família. Digo isso pois a história da minha família só foi possível por causa das mulheres e seus ganhos ainda enquanto escravizadas.

Para o homem negro sobrou apenas a virilidade, e ai de você, homem preto, que não corresponda a essa expectativa racista. Não só de ser viril, mas também de ter o falo que corresponda ao tamanho do imaginário social.

O Cezar é um homem preto, hétero, cisgênero, musculoso, que inclusive já foi pautado por Fred Bruno, Bruna Griphao e Larissa pelo seu volume na sunga, que apesar de ter vários traços de masculinidade hegemônica, tem também seu lado sensível, fofo, frágil e que consegue colocar suas emoções para fora sem recorrer à agressividade. Se fosse um cara branco, estaria sendo exaltado e colocado como exemplo a ser seguido. Inclusive, teve um aí que foi expulso do programa que por muito menos foi exaltado nesse sentido.

Isso me faz refletir muito se a sociedade está preparada para homens negros que estão se despindo dessa lógica hegemônica. Além de não ter o devido acolhimento, o que tenho observado é que ao se demonstrarem mais sensíveis, com frequência, esses homens têm sua sexualidade questionada, isso quando não caem no escárnio, como estão fazendo com o Cezar Black.

Fonte: Redação Nós
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