Inclusão ampliada pelo sentimento
Karen Montija, autora de 'Arte COM Acessibilidade' (Appris Editora), aborda a criação de recursos acessíveis para o público com deficiência visual em espaços culturais, com base na Proposta de Acessibilidade à Experiência Estética; episódio 195 da coluna Vencer Limites no Jornal Eldorado.
"Em exposições de artes visuais, normalmente encontramos estruturas arquitetônicas nos prédios, como rampas e elevadores, e as adaptações ligadas à comunicação, como audioguia e reproduções táteis das obras. Essas medidas são positivas e necessárias, mas podem ser insuficientes quando tratamos da experiência estética com a arte", afirma Karen Montija em 'Arte COM Acessibilidade', lançamento da Appris editora.
A autora é mestre em artes visuais, diretora e fundadora da AKA Projetos Culturais, responsável por toda a programação do programa CCBB Educativo - Arte e Cultura, nas quatro praças do Centro Cultural Banco do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte.
Na obra, Karen Montija aprofunda a Proposta de Acessibilidade à Experiência Estética (PAEE), mas não como caminho único ou um manual de regras e objetivos. A proposta é revelar uma acessibilidade mais integradora e que entende a pessoa com deficiência como um cidadão cultural.
A trajetória da escritora ultrapassa a mera observação do universo da acessibilidade. Seu pai é uma pessoa com deficiência visual, especificamente, com baixa visão, algo que ampliou substancialmente o entendimento, desde a infância, abriu caminhos para atuação como professora de estudantes cegos e expandiu a compreensão sobre a temática na arte e na educação, culminando no encontro com Camila Alves, mulher cega, educadora, convergência que trilhou o rumo para pesquisas, especialização e a produção do livro.
"Karen é uma mulher sem deficiência que compreendeu com trajetória pessoal e profissional o seu lugar na luta anticapacitista e faz uso dos lugares de gestora, coordenadora, dos lugares de poder, para transformar por dentro as estruturas excludentes e violentas dos espaços que ocupa, tudo isso com muita pesquisa, criatividade, ética e estética, levando adiante o lema do movimento social da deficiência: Nada sobre nós, sem nós", escreve Camila Alves no prefácio.
Conceitos e histórias foram apresentados por Karen Montija no evento de lançamento de 'Arte COM Acessibilidade' no último dia 2 de junho no CCBB SP. "Quando a gente é educador, para trabalhar pela acessibilidade, é preciso fazer 'com' e não 'para alguém', implica em vários tipos de acessibilidade. Trata-se de uma descoberta, em que não existe uma receita pronta. É preciso criar e a criação vai sendo descoberta de acordo com as necessidades".
Acessibilidade estética, explica a escritora, é levada para o ambiente dos museus, das artes visuais. É a qualidade da experiência e um direito que todas as pessoas que visitam o museu devem ter, de também experimentar e vivenciar aquilo com o sentimento. "Um passo além dos recursos já feitos atualmente nos museus, como as obras táteis em artes visuais, basicamente, pinturas reproduzidas em relevo para que as pessoas cegas ou com baixa visão possam tatear e perceber. É pensar de maneira interdisciplinar, não só na questão do tato, mas sensibilizar, além das reproduções e adaptações fiéis à obra. Estamos no mundo visiosensorial, mas é importante trabalhar com propostas multissensoriais".
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