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Como é o cenário para atletas que denunciam abuso e assédio

Podcast Papo de Mina debate principais dificuldades para mulheres e retaliações sofridas por esportistas que quebram o silêncio

11 abr 2022 - 06h44
(atualizado em 7/7/2022 às 18h39)
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Coragem é a palavra de ordem para as mulheres que conseguem denunciar um caso de abuso, ou assédio, seja sexual, moral ou psicológico.

Como elas conseguem vencer a barreira de desconfiança e ter forças para enfrentar as prováveis retaliações que vem após a acusação é o tema de debate do primeiro episódio da nova temporada de podcasts do Papo de Mina.

Giovana Queiroz quebrou o silêncio e denunciou abuso moral e psicológico sofrido no Barcelona
Giovana Queiroz quebrou o silêncio e denunciou abuso moral e psicológico sofrido no Barcelona
Foto: Twitter/Levante Feminino / Twitter/Levante Feminino

Giovana Queiroz, jovem jogadora brasileira de 18 anos, é um dos casos mais recentes de atleta que quebrou o silêncio e fez uma grave denúncia. Há duas semanas ela publicou em seu Instagram uma carta aberta ao presidente do Barcelona, Joan Laporta, acusando o time espanhol de assédio moral, práticas abusivas e confinamento ilegal a fim de impedir que ela servisse a seleção brasileira.

Para Waleska Vigo Francisco, doutoranda em Ciências pela Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP) com pesquisa no campo de gênero, sexualidade e esportes e integrante do Grupo de Estudos Olímpicos da EEFE-USP, esse caso é uma representação da estrutura esportiva que também coloca as atletas numa condição subalternizadas, que nunca vai estar no topo da pirâmide.

"Se a gente pegar um dos últimos códigos de ética do COB [Comitê Olímpico Brasileiro] já vai estar muito bem colocado lá, 'não pode se expor politicamente nas redes sociais'. Já tem um enquadramento de até onde esse atleta pode falar", explica. 

Essa é, segundo Waleska, um dos exemplos da dificuldade de manifestação de uma esportista. “De que maneira é possível se expressar e denunciar questões de racismo, sexismo, violência sexual, assédio moral se já nos documentos dessas entidades que cuidam do esporte há um código de ética dizendo até onde eu posso ir?”, questiona.

No caso da mulher há, ainda, um descrédito maior em comparação com atletas do sexo masculino. Se essa atleta reporta um caso de assédio sexual, por exemplo, qual tipo de repressão ela teria?

A pesquisadora destaca dificuldades como as poucas leis de proteção, a justiça falha, o ambiente masculinizado para contar, além da hiper exposição e do julgamento das redes sociais.

Para exemplificar, confira um trecho da carta de Gio Queiroz ao presidente do Barcelona:

"Foram situações humilhantes e vergonhosas durante meses dentro do clube. Ficou claro que ele queria destruir minha reputação, minar minha auto-estima, degradar minhas condições de trabalho, subestimar e subestimar minhas condições psicológicas. O fato de ser menor não parece ter sido um impedimento, um dilema moral para meu agressor. Certamente ele agiu com o sentimento de impunidade, que teve a proteção de sua posição dentro do Barcelona."

Essa visão corrobora com os dados da pesquisa “Percepções sobre violência e assédio contra mulheres no trabalho”, realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com o Instituto Locomotiva com apoio da Laudes Foundation, em 2020. 

De acordo com a percepção de 92% dos entrevistados, mulheres sofrem mais situações de constrangimento e assédio no ambiente de trabalho do que os homens.

Papo de Mina
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