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BBB24: eliminação de 'hetero top' não diminui tom misógino no reality

Não dá para tolerar homens que agem como se deles dependesse validar o que é aceitável ou não em uma mulher

23 jan 2024 - 10h29
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Nizam é o típico candidato que em outros tempos se manteria na órbita da casa alheio a qualquer julgamento do público
Nizam é o típico candidato que em outros tempos se manteria na órbita da casa alheio a qualquer julgamento do público
Foto: Reprodução/TV Globo

Antes de revelar o nome do quarto eliminado do BBB24, Tadeu Schmidt lembrou que o candidato que deixava a casa naquela noite teria tido vida mais longa em edições passadas. A frase do apresentador chamou a atenção. Quem saía era Nizam, o típico candidato que em outros tempos se manteria na órbita da casa alheio a qualquer julgamento do público. O que Tadeu quis dizer é que a percepção de quem assiste ao reality mudou ao longo de mais de duas décadas.  

Em nome de uma sociedade mais evoluída e civilizada, não dá para passar pano para comportamentos homofóbicos ou racistas. Assim como é inaceitável se referir à mulher como objeto, dizendo barbaridades, como se o mundo dependesse do julgamento deles para validar o que é aceitável ou não em uma mulher.  

Mas nem a saída de Nizam, que junto com Rodriguinho protagonizou momentos de puro suco do machismo, serviu de alerta para outros participantes recalcularem a rota dentro do reality. A começar pelo próprio pagodeiro. Indagado sobre falas pesadas que poderiam ter provocado a eliminação dos amigos Pizzane e Nizam, Rodriguinho se faz de desentendido. Diz não se lembrar. Chegou a justificar dizendo que, por ser do meio artístico, nada soou pesado a ponto dele registrar. De quebra, ainda sugeriu em rede nacional que comportamentos abusivos são comuns no meio em que vive.

Depois foi a vez do carioca Luigi. Sem nenhum constrangimento, contou a Yasmin Brunet que Vinicius, companheiro de jogo e atleta paralímpico, não gostava de loira. "Ele gosta de macaca", disse o pipoca. Não é a primeira vez que Luigi se refere a uma mulher negra como macaca dentro do reality. Ele, inclusive, já tinha sido advertido por Leidy sobre quão problemática era a expressão e o tamanho da carga racista que a palavra carregava.

Não adiantou. Será que Luigi usaria essa mesma palavra para se referir a um homem com a mesma cor de pele que a dele? Por se tratar de mulher, será que considera divertido usar uma expressão com uma conotação tão violenta? 

Dizer que o BBB é um microcosmo da realidade à nossa volta não é novidade. A gente vê por exemplo como 'camarotes' crescem para cima dos pipocas como se estivessem acima do bem e do mal. Como candidatos como Davi, Raquelle, Bia e Isabelle facilmente se tornam alvo logo nas primeiras eliminações. E dentro do reality, homens não hesitam em elencar características físicas que mais apreciam em mulheres. Apontam que a fulana tem a bunda mais caída que a ciclana. "Homem não gosta disso", diz o participantes a uma das mulheres da casa. Também dizem sem cerimônia que está na hora de colocar "a mulherada no paredão", uma espécie de revide por toda a infelicidade que desabou sobre eles. Sentem-se autorizados a controlar a quantidade de comida que uma mulher ingere, como insiste em fazer Rodriguinho. A última do músico foi alertar seu aliado Vinicius para não se deixar levar pela atração que sente por Isabelle, a "cunhã- poranga". Assim, Vinícius se preservaria do que o músico qualificou como "o golpe de x*reca". Uma declaração dessas revela que Rodriguinho enxerga as mulheres como interesseiras, golpistas. Além disso, insinua que homens não têm autocontrole. A gente sabe onde um pensamento assim deságua. Vira um salvo-conduto para cometer os piores abusos sexuais contra as mulheres. 

O que consola é saber que, nesse momento, a reprovação a esses comportamentos tem vindo da maioria do público. É um sinal de que a opinião pública evoluiu. No entanto, assim como racismo, a misoginia está sempre à espreita e não seria diferente dentro de um reality de televisão.

Fonte: Redação Nós
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