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A jornada "sapatão" de Leida que a levou do Japão ao TikTok

Aos 59, cheia de histórias para contar, a funcionária pública aposentada do interior de Goiás relembra como seu afeto construiu sua família.

2 set 2022 - 05h00
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SapaBonde: Leida, a esposa Simone e a sobrinha Gabriela
SapaBonde: Leida, a esposa Simone e a sobrinha Gabriela
Foto: Reprodução Instagram / Reprodução Instagram

Leida Candida Fernandes Borges, 59 anos, comemora seu aniversário exatamente cinco dias antes do Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, em 29 de agosto. A proximidade com a data poderia ser apenas uma coincidência que passa batida, mas bastam dois minutos de conversa – ou uma rápida visualizada em seu perfil no TikTok – que dá para perceber que o que não falta ali é orgulho lésbico. Ou "sapatão", como prefere Leida, dona de um mercadinho da pequena cidade de Guapó, em Goiás. 

A mais nova de seis irmãos, no entanto, demorou para viver sua orientação afetiva sexual de forma plena e se assumiu apenas aos 32 anos. "Eu tinha medo da sociedade, medo dos irmãos, ficava dentro do armário mesmo, nem eu me aceitava", conta ela ao NÓS. "Até namorei com homem, mas não gostava, era horrível, Deus que me livre! Mas por conta da sociedade, amigos, tentei, né?", relembra, rindo. 

O primeiro amor veio da pista de dança. "Conheci ela na boate. Um amigo gay me arrastou, eu tava doida pra ir, mas jurava que não, até que aceitei e conheci minha primeira paixão aos 32 anos". O relacionamento durou três anos e meio, mas foi conturbado. E, para todos, Leida tinha apenas uma melhor amiga. "Ela era casada e a esposa morava nos EUA, uma bagunça, quando ficamos na boate já falamos que não era nada sério, mas aí fomos falando, nos encontrando e nos apaixonamos. Foi esse enrosco por mais de três anos até que a esposa voltou de vez e terminamos", relembra. 

Caçula e solteira, Leida acabou no lugar imposto a muitas mulheres brasileiras: o cuidado da mãe idosa. "Fiquei com ela até sua morte, aos que 82 anos. Ela era muito lúcida. Cheguei a contar que era lésbica e ela aceitou muito bem". Com a morte da mãe veio então o vazio e surgiram os ataques de pânico. "Quando a mãe parte a família some. Fiquei muito mal, trabalhava na prefeitura e o resto do tempo não tinha o que fazer, então comecei a entrar nas sala de bate-papo online", recorda. E, assim, um mundo se abriu. 

"Tava lá no bate-papo e encontrei essa pessoa por quem ainda tenho muita consideração. A gente se falava todo dia, o dia inteiro, até que ela perguntou onde eu morava e falou que estava no Japão. Pensei que era mentira, até que a gente começou a falar na webcam", conta, entre gargalhadas. O romance à distância cuminou em um convite: uma ida para o Japão.

"Pensei, tô aqui sozinha, pobre, toda lascada, eu vou é conhecer esse Japão. Acabei trabalhando lá, fiz amizade e até casei com um descendente de japonês para ter as documentações", relembra. O romance, porém, chegou ao fim depois de três anos por desgastes naturais. "Ela queria uma pessoa perfeita e a gente acabou", diz. 

Leida e uma amiga em Toyohashi, no Japão
Leida e uma amiga em Toyohashi, no Japão
Foto: Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal

De volta ao Brasil e ao cargo concursado na Prefeitura, Leida retomou as conversas online. "Aí eu tava escaldada, né? Tive uns namoricos, até que conheci a Simone". O primeiro encontro foi também cheio de idas e vindas. "Marcamos num bar, em Goiânia. Dei umas voltas na frente do bar, pensei em desistir de entrar, mas entrei. Cheguei lá, ela tava com a filha, que tinha 14 anos, e uma bebê de 6 meses", conta. 

Pois o date deu tão certo que, em menos de 40 dias, estava todo mundo morando junto – e a bebê virou tão filha de Leida quato de Simone. "Ela tem Síndrome de Moebius. Peguei a guarda em juízo para ela ter acesso ao plano de saúde. Nesse mesmo dia casei com a Simone pra ela ter também. Não teve festa, foi uma correria, mas o amor é o mesmo", se derrete. 

Juntas há 12 anos, Leida e Simone contam com uma fiel escudeira, a sobrinha Gabriela. "Quando fui pro Japão, ela era pequena. Hoje tá com 29 anos. Eu já sabia que ia ser sapatão, mas não falei pra ninguém, só pra minha mãe. Quando voltei, ela já tava liberada geral", conta. Junto de Gabriela e do irmão dela, Tiago, que é gay, formou-se então o bonde LGBTQIA+ de Guapó. "Sempre gostei de gente mais jovem, como os amigos de Tiago", explica. 

E o gosto é tanto que até grupo no WhatsApp Leida criou. Chamado "SapaTinder", chegou a reunir quase 200 pessoas que encontravam no grupo um espaço para se conhecer e se divertir. "Muita gente começou a namorar, até casar. Tem um grupo menor hoje e faço lives uma vez por semana", diz. 

Aposentada do cargo na prefeitura, Leida decidiu abrir um mercadinho com a esposa. Nas horas vagas, gosta de uma boa cerveja. Os encontros, sempre com a presença da esposa e da sobrinha, inclusive levaram Leida ao improvável lugar de produtora de conteúdo digital. "Um dia já tinha tomado umas e outras, a Gabriela falou em gravar vídeo, sentei na câmera e falei 'E eu que sou sapatão, nasci sapatão e fui me assumir só depois dos 32 anos'. A Gabriela falou em seguida, e depois a Simone. Postamos, sei lá o que aconteceu e a gente ganhou mais de 20 mil seguidores", conta, sempre rindo. 

Até a publicação desta matéria, o perfil de Leida no TikTok contava com 167 mil seguidores e uma centena de vídeos dela e da família, sempre com muito humor e orgulho sapatão. "Tem que ter 'sapatão'. Se não coloca 'sapatão', o povo não quer ver, não", finaliza. 

Fonte: Redação Nós
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