Script = https://s1.trrsf.com/update-1765905308/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

A inédita camisa preta da seleção - marco contra o racismo?

Jogadores entram em campo no sábado vestindo uma camisa negra, em iniciativa anunciada após ataques racistas a Vini Jr

16 jun 2023 - 16h25
(atualizado às 16h41)
Compartilhar
Exibir comentários
Seleção Brasileira Camisa Uniforme Preto Racismo Amistoso Guiné Senegal Espanha Vini Jr.
Seleção Brasileira Camisa Uniforme Preto Racismo Amistoso Guiné Senegal Espanha Vini Jr.
Foto: Gazeta Esportiva

Neste sábado, a seleção brasileira de futebol entrará em campo usando uma camisa preta - um gesto inédito na história da equipe, que disputou sua primeira partida em 1914.

As camisas pretas serão vestidas no primeiro tempo de um amistoso contra a Guiné, em Barcelona, e tem como objetivo enviar uma mensagem simbólica de combate ao racismo. É também uma ressignificação do potencial político da camisa da seleção, nos últimos anos simbolicamente apropriada por movimentos de extrema direita e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

A decisão de usar as camisas pretas foi anunciada após o brasileiro Vini Jr. ter sofrido, em maio, ataques racistas em uma partida da liga espanhola, onde joga pelo Real Madrid. O episódio teve repercussão internacional, forçou a federação espanhola a admitir o problema e levou o governo brasileiro a se manifestar.

O professor e músico Allan de Souza, que assessora o Instituto Vini Jr. no tema de educação antirracista, disse ter ficado "consternado" ao ver as fotos dos ataques na Espanha. A entidade foi criada pelo jogador e apóia escolas públicas no desenvolvimento de novos modelos de ensino e aprendizagem.

Assim como muitos outros negros, Souza, também conhecido como Pevirguladez, teve ver Vini Jr. ser insultado por quase todo um estádio na Espanha, o que comoveu também o Brasil - onde Vini Jr. é visto por muitos "como um deles", um jovem que saiu de uma favela pelo seu talento e qualidade. Alguém com quem muitos podem se identificar. É por isso que o tema desencadeou uma ampla discussão na comunidade negra brasileira, diz Pevirguladez à DW.

"Uma forma de violência"

"O futebol é uma das principais formas de linguagem no mundo", diz Bruno Candido Sankofá, advogado e ativista do movimento negro no Rio de Janeiro. Ele apoia vítimas de violência racista ou discriminação, e estava entre os que organizaram um ato de solidariedade a Vini Jr.

Não se tratam apenas de insultos racistas, diz Sankofá. É uma forma de violência que "deixa lesões de difícil reparação, isso quando não causa anomalias nas vítimas, faz com que elas desistam das próprias vidas." E Vini Jr., diz, representa um grupo de pessoas que são constantemente expostas à violência e ao racismo estrutural, e às vezes são mortos por isso.

Para Sankofá, a decisão da seleção de jogar com a camisa preta é um primeiro passo importante: "Quando falo de prevenção, falo de um país que não conseguiu ainda distribuir direito material para esse povo que ficou em desvantagem histórica, política, econômica e material. E a gente começa a dizer, a partir da principal linguagem que é o futebol e da nossa seleção, que é uma questão importante que deve ser resolvida."

Plano antirracista do governo

Para ele, isso poderia se tornar um marco - mas, ao mesmo tempo, é apenas o primeiro passo. A CBF deveria envolver a sociedade civil no debate sobre o combate ao racismo no esporte, afirma. "É por isso que a atitude da seleção nacional é muito importante. Porque ela vai conseguir falar, através do futebol, aquilo que as palavras ainda não conseguiram alcançar", afirma.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, anunciou recentemente um acordo com a Espanha para combater o racismo, sobretudo em atividades esportivas. "Temos acompanhado firmemente o que tem acontecido no caso do Vini Jr., que não foi só esse ano, mas são casos recorrentes ", disse a ministra à DW.

A ação da CBF foi bem-vinda, afirmou ela. "Mas a gente precisa também de políticas públicas eficazes", diz. Por isso, sua pasta e a articulação nacional e internacional contra o racismo são um passo importante.

Pevirguladez também aponta que a União das Associações Europeias de Futebol (Uefa) também é responsável e deve agir. A liga espanhola não pode ser a única responsável, diz, porque esse é um problema em todo o futebol europeu. "A UEFA tem que sentar tomar as medidas necessárias, parecidas com que o governo brasileiro vem fazendo na situação do Rio de janeiro, a fim de punir os clubes, punir os torcedores", diz.

No início do mês, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro aprovou um projeto de lei, apelidado de Lei Vini Jr., que aguarda sanção do governador Cláudio Castro, que estabelece protocolos para combater o racismo nos estádios. Uma dessas medidas é a interrupção ou o cancelamento de partidas quando houve denúncia ou manifestação racista - mais um passo na luta contra o complexo problema do racismo

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
Compartilhar
TAGS
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade