Transporte rodoviário ainda responde por mais de 60% da carga no país
O transporte rodoviário responde por mais de 60% da carga no Brasil devido à sua flexibilidade, mas enfrenta desafios como infraestrutura precária, custos elevados e impactos ambientais, enquanto especialistas defendem diversificação da matriz de transporte e modernização do setor.
O transporte de cargas é um dos pilares da economia brasileira. Em um país de dimensões continentais, com extensas distâncias entre regiões produtoras e consumidoras, a logística ganha papel central para garantir o funcionamento do mercado interno e externo. Atualmente, mais de 60% de toda a carga movimentada no Brasil ainda é transportada pelas rodovias, um dado que reforça tanto a relevância desse modal quanto os desafios que ele enfrenta.
Segundo levantamentos recentes da Confederação Nacional do Transporte (CNT), o modal rodoviário se mantém como protagonista por conta da flexibilidade que oferece. Caminhões podem acessar locais onde trens, aviões ou navios não chegam, ligando áreas urbanas, rurais e industriais de maneira direta. Além disso, o custo de implantação de estradas, embora elevado, ainda é inferior ao de ferrovias, por exemplo, que exigem investimentos massivos e longos prazos de construção.
Dependência do modal rodoviário
Essa predominância, no entanto, também gera preocupações. O excesso de dependência do transporte rodoviário torna o Brasil vulnerável a questões como aumento no preço do diesel, más condições das estradas e impactos ambientais decorrentes da emissão de gases poluentes. A CNT estima que cerca de 60% das rodovias brasileiras estão em estado considerado regular, ruim ou péssimo, fator que eleva custos operacionais e riscos de acidentes.
Outro ponto crítico é a concentração logística em caminhões em um cenário de crescimento do comércio eletrônico. O aumento das entregas rápidas exige infraestrutura mais robusta, mas, em muitos casos, as estradas não acompanham esse ritmo de demanda.
A busca por alternativas
Para reduzir a dependência do modal rodoviário, especialistas defendem uma maior diversificação da matriz de transportes no país. O fortalecimento das ferrovias, por exemplo, é visto como essencial para o escoamento de cargas pesadas, como grãos e minérios, especialmente em longas distâncias. Já a cabotagem (transporte marítimo entre portos nacionais) aparece como alternativa estratégica para aliviar estradas e reduzir custos.
Apesar disso, projetos de expansão ferroviária e portuária esbarram em entraves burocráticos, ambientais e financeiros. Dessa forma, o transporte rodoviário continua sendo a solução mais imediata e acessível para grande parte das empresas.
Impactos econômicos e sociais
A centralidade do transporte rodoviário tem efeitos diretos na economia. Estima-se que mais de 1,5 milhão de caminhoneiros atuem no Brasil, movimentando diariamente toneladas de insumos e produtos acabados. O setor, portanto, não é apenas estratégico do ponto de vista logístico, mas também social, gerando empregos e sustentando famílias em todas as regiões.
Contudo, essa importância contrasta com as dificuldades enfrentadas pelos profissionais da estrada, que lidam com longas jornadas, falta de segurança e infraestrutura precária em pontos de parada. Esses fatores afetam a qualidade de vida e a eficiência das operações.
Olhar para o futuro
A digitalização do setor tem trazido novas perspectivas. Plataformas de gestão de frota, aplicativos de frete e sistemas de monitoramento em tempo real ajudam a reduzir custos e otimizar rotas. Além disso, há uma crescente discussão sobre sustentabilidade, com testes de caminhões elétricos e movidos a biocombustíveis, que podem reduzir o impacto ambiental do transporte.
Nesse contexto, empresários e especialistas ressaltam que, mesmo diante de transformações, o modal rodoviário continuará sendo protagonista por muitos anos. Para Ronaldo Luis, fundador do portal especializado camion.com.br, o cenário exige equilíbrio entre inovação e valorização da categoria:
“O transporte rodoviário não vai perder sua relevância, mas precisa ser constantemente modernizado. É fundamental investir em tecnologia, infraestrutura e, principalmente, reconhecer o papel dos caminhoneiros, que são a base desse sistema. Sem eles, a economia simplesmente não anda”, destaca Ronaldo.
O desafio, portanto, é transformar essa predominância em um ponto de força sustentável, capaz de acompanhar as demandas de um mercado em rápida evolução e de uma sociedade cada vez mais conectada.