17/05/2000
SERVIÇOS ONLINE RECEBEM DENÚNCIAS DE PEDOFILIA E MAUS TRATOS
Agência Estado
Uma cena revoltante: um adolescente amarrado a uma coleira, chorando, sendo sodomizado por um adulto. O endereço da foto, divulgado em uma sala de bate-papo, chocou o casal Anderson Batista de Miranda, técnico em informática, e Roseane Santos Miranda, advogada, de São José dos Campos. A partir desse dia, eles decidiram lutar contra a pedofilia na Internet. Há cerca de dois anos eles mantêm um serviço que recebe denúncias no endereço www.censura.com.br.
"Isso nos marcou muito. Minha esposa ficou noites sem dormir", relembra Anderson. "Depois fui descobrir, em um site americano, que se tratava de uma criança desaparecida. É sabido que o tráfico de criança está envolvido com a pornografia infantil e a pedofilia", comenta.
Um serviço que busca localizar crianças desaparecidas é o do National Center for Missing and Exploited Children (www.missingkids.com). Ele usa recursos de "envelhecimento", que permitem ter uma noção da aparência da criança após alguns anos.
Segundo conta Anderson, as salas de chats são, hoje, os grandes canais de divulgação desse tipo de material. "Os provedores não têm interesse em investir no combate à pedofilia. A pornografia aumenta a visitação do site, enquanto o combate cria despesas", afirma. "Eu desafio os provedores a provarem que é difícil fazer um controle dos materiais veiculados nos chats ou armazenados em seus servidores. Falta somente boa vontade."
O serviço tem recebido entre 10 e 15 denúncias por dia. Não há patrocinadores e as despesas com conta de telefone e hospedagem, que somam R$ 350 mensais, são pagas pelo casal. "Checamos a denúncia e, primeiramente, mandamos uma mensagem para que o responsável retire as fotos. De cada seis sites alertados, um atende ao pedido", diz. "Depois, preparamos um relatório com os materiais colhidos e entregamos à polícia. Até agora, conseguimos tirar do ar cerca de 120 sites."
Um outro serviço de combate à pedofilia é o Kids-Denúncia (www.kids-denuncia.org.br), que está passando por uma reformulação e estréia sua nova página no fim do mês. "Estamos, agora, com um domínio próprio. A página está em construção, mas continuamos recebendo as denúncias", explica Wal Ribeiro, responsável pelo conteúdo do site.
Segundo ela, novos serviços serão incorporados. "Além de pedofilia, vamos receber denúncias de trabalho infantil, maus-tratos e violência doméstica", diz. "Em um ano de atuação, já recebemos cerca de mil denúncias e a quase totalidade se mostrou verdadeira. Analisamos o material e encaminhamos ao Ministério Público e à polícia."
Em sua opinião, mesmo com as campanhas realizadas contra a pornografia infantil, as denúncias têm aumentado.
Um caso recente foi o da cantora Sandy. "Recebemos, em março, a informação de uma página que estava veiculando uma foto montada dela.
Comprovamos o fato e avisamos a família", comenta Wal.
Esse caso foi investigado pelo delegado Mauro Marcelo de Lima e Silva, da Polícia Civil de São Paulo. "Fui contatado pelo empresário da Sandy, pedindo providências. Coincidentemente, eu já estava investigando esse site, que é de um pernambucano e que exibia desenhos pornográficos e fotos da revista Playboy", explica. O caso está sendo encaminhado à Justiça de Pernambuco e o dono do site vai ser processado.
