Streamer relembra ataque racista e resistência no cenário
Fernanda Souza conta que ataques são comuns em redes sociais e como aprendeu a lidar com o medo para seguir fazendo o que gosta
A streamer e programadora Fernanda Souza foi vítima de um ataque racista, gordofóbico e machista em 16 de setembro deste ano. Na ocasião, pelo cansaço das constantes agressões virtuais que estava recebendo em suas lives e através das redes sociais, Fernanda decidiu desabafar no Twitter.
"Nem todo mundo tem 'estômago' [para aguentar os ataques]. Não vou falar que todo dia eu estou com estômago, mas a gente faz terapia para seguir ali, para não cair", afirmou a streamer que faz live coding (eventos ao vivo de codificação) na Twitch.
O post de Fernanda repercutiu, mas o caso da estudante de programação não é isolado. Os ataques, principalmente anônimos, tem acontecido recorrentemente em lives, perfis e grupos de pessoas pretas por toda a internet.
Pra vocês entenderem o que é ser uma mulher preta e gorda na internet, saca? Normalmente, não exponho, mas tá ficando tão frequente que decidi compartilhar uma das várias merdas que recebo. Dessa vez, foi no discord.
Quando alguém falar que é mimimi, só me resta mandar se fuder. pic.twitter.com/GFFrWrlemr
— print('Fê 💛'); // (ela/dela) (@leitoraincomum) September 16, 2021
As crescentes denúncias acontecem principalmente após a repercussão mundial da campanha #BlackLivesMatter, desencadeada pela morte brutal de um homem negro por um policial branco nos EUA, em 2020.
"A gente está em 2021, estamos falando sobre isso há muitos anos. O debate ficou muito mais acentuado depois do que aconteceu com George Floyd e tem gente ainda achando isso válido. Eu fico me perguntando como isso ainda pode acontecer e em que momento do tempo essa pessoa [que pratica ataques racistas] parou", disse.
Segundo pesquisa da agência BRUNCH, em conjunto com a consultoria YOUPIX, outro ponto também aponta para o racismo, mas de maneira estrutural, na internet. Os grandes produtores de conteúdo são brancos - e fecham 30% mais contratos do que não brancos.
A desigualdade também está no âmbito de tempo que não brancos levam para construir uma base de seguidores nas plataformas, que é maior.
"Quando você vai ver as pessoas que estão ganhando dinheiro fazendo lives, a maioria dessas pessoas são brancas, tem dados que apontam para isso. Então, a gente tem que começar a ocupar esses espaços", contou Fernanda.
"Mesmo que ocupar espaços signifique ter que lidar com o medo de ataques, eu tenho plena consciência de que eu preciso estar lá fazendo o meu papel. Não posso deixar o medo me impedir de fazer algo que eu quero fazer", acrescentou.