Macross: Shooting Insight desperdiça legado da franquia de anime
Jogo tinha potencial para ser memorável, mas entrega experiência genérica
Lançado em março do ano passado no Japão, Macross: Shooting Insight finalmente chega ao ocidente nas plataformas PC, PlayStation e Switch. O jogo é baseado na lendária franquia de ficção científica e mechas espaciais, que teve origem em 1982 com Super Dimension Fortress Macross, série considerada um dos grandes clássicos da história dos animes.
O game segue o clássico gênero shoot 'em up, mais conhecido carinhosamente aqui no Brasil como "jogo de navinha espacial", muito popular nos anos de 1980/90 nas gerações 8, 16 e 32 bits. Eu mesmo jogava muito esse tipo de jogo na época, e quando vi que havia um novo game neste gênero com uma das minhas séries de anime favoritas, fiquei super empolgado.
Mas será que este título, o primeiro em muito tempo de uma franquia querida por muitos fãs, desenvolvido pela japonesa Kaminari Games e publicado pela Red Art Games, soube aproveitar bem esse grandioso legado? Descubra a seguir aqui com Game On.
A série Macross
Bom, antes de falar do game, acho que vale a pena relembrar o que é a série Macross. Como já dito acima, ela surgiu com o anime Super Dimension Fortress Macross, sendo a primeira e a mais icônica série da franquia, que posteriormente se expandiu para várias sequências, filmes e jogos.
A história se passa no "futuro" no ano de 2009, quando uma nave alienígena chamada Macross cai na Terra. Os humanos reconstroem a nave, porém no dia de seu lançamento oficial, uma raça guerreira alienígena chamada Zentradi aparece e inicia um ataque. Durante a batalha, a nave ativa automaticamente um sistema de dobra espacial acidentalmente, transportando-se para o espaço profundo junto com uma cidade inteira de civis dentro dela.
O anime acompanha então a tripulação da Macross, com destaque para o piloto Hikaru Ichijyo, a oficial de bordo Misa Hayase e a cantora Lynn Minmay, enquanto enfrentam os Zentradi em batalhas espaciais e tentam retornar à Terra. O anime também apresentou os icônicos caças Valkyrie, que podem se transformar em robôs humanoides.
Outro elemento que se tornou uma característica sempre presente na franquia são as músicas e canções, geralmente interpretadas por uma cantora de destaque, que desempenha um papel vital na guerra contra os Zentradi, pois eles são uma raça que desconhece emoções, música e amor, tornando a cultura humana uma "arma" poderosa contra eles.
Super Dimension Fortress Macross chegou a passar no Brasil na TV aberta nos anos 80/90, porém com o nome Guerra das Galáxias. Alguns otakus talvez tenham conhecido o anime através de Robotech, uma série de produção americana criada pela Harmony Gold em 1985, que adapta três animes japoneses diferentes, combinados para formar uma única história contínua. Robotech foi uma das primeiras séries de animes a fazer sucesso no ocidente, incluindo o Brasil, o que ajudou a popularizar as animações japonesas.
O sucesso de Super Dimension Fortress Macross deu origem a diversas sequências, que se passam em décadas diferentes, a maioria no futuro, porém situadas no mesmo universo.
Macross: Shooting Insight
Agora que já relembramos da franquia, podemos falar do jogo Macross: Shooting Insight, que reúne personagens icônicos de cinco séries diferentes: Macross Zero, Macross Plus, Macross 7, Macross Frontier e Macross Delta. É de se imaginar que um game baseado em tantas séries com grandes histórias e personagens carismáticos, iria também apresentar uma narrativa envolvente. Mas, infelizmente, não é o que acontece por aqui.
Shooting Insight apresenta uma história original e inédita, o que é muito bom. Quando múltiplas dobras dimensionais surgem subitamente no espaço-tempo, pilotos e cantoras dessas cinco séries distintas são transportados misteriosamente para a bordo da Battle 7, onde as narrativas se desenrolam, colocando o destino da galáxia em jogo.
Sua missão é resgatar as cantoras desaparecidas, o problema é que essa narrativa é contada de maneira bem chata por cenas estáticas e muito texto em 10 estágios, relativamente curtos. Temos algumas vozes e frases curtas em japonês, mas uma dublagem e umas cenas animadas mais caprichadas, certamente ajudariam a deixar tudo mais agradável.
Além disso, a história continua durante o jogo, com os personagens conversando entre si, porém as caixas de diálogos são tão pequenas no canto da tela, que é praticamente impossível de se acompanhar sem ser morto pelos milhares de tiros vindo em sua direção. E vale lembrar, não há localização para o português, com todos os textos e menus disponíveis em inglês.
Outra coisa que me decepcionou: nesta versão ocidental não temos a presença de Hikaru Ichijyo e Lynn Minmay, provavelmente os personagens mais icônicos de toda a franquia, como na versão japonesa do game. Isso aconteceu porque há um grande imbróglio, há muitos anos, com os direitos internacionais de Super Dimension Fortress Macross, envolvendo a Harmony Gold e seu Robotech, com as japonesas Tasunoko e Bigwest, donas da série no Japão. Infelizmente, quem paga o pato são os fãs ocidentais.
Batalhas espaciais diversificadas
Assim, temos cinco pilotos disponíveis com o seus respectivos caças Valkyries: Shin Kudo (Macross Zero), Isamu Dyson (Macross Plus), Gamlin Kizaki (Macross 7), Alto Saotome (Macross Frontier) e Hayate Immelman (Macross Delta). Cada piloto e caça têm ataques, velocidades e capacidades diferentes, então é aconselhavél você experimentar todos para ver qual melhor se adapta ao seu estilo de jogo. Cada um deles têm a sua própria narrativa, mas como dito anteriormente, elas não são nada envolventes.
Um dos pontos fortes do jogo é oferecer uma boa variedade no gameplay, incorporando diferentes estilos de shoot 'em up, como os clássicos rolagem vertical e horizontal, mas também com visão aérea com controle de 360º e outro com visão da câmera por trás de seu mecha, como em Space Harrier.
Os comandos da sua Valkyrie são simples e você tem duas maneiras básicas de atacar seus inimigos: uma arma primária padrão, que atira apenas para frente (e que pode aumentar seu poder coletando itens), e mísseis que precisam ser travados antes que você possa tirar (são mais lentos e desajeitados, mas bem poderosos).
Infelizmente não é possível usar os dois ao mesmo tempo, tornando as coisas mais difíceis. Como em qualquer jogo desse gênero, você basicamente só precisa atirar em tudo que se move na tela ou desviar dos tiros dos inimigos.
Se a tela encher de inimigos e você se encontrar em uma situação complicada, o que ocorre constantemente durante o jogo, é possível ativar um ataque especial de suporte, que dispara milhares de misséis na tela e mata quem estiver pelo caminho - seu uso depende de um medidor que mostra quanta energia você tem para esse tipo de ataque.
Se nos animes a música desempenha um papel importante, em Shooting Insight também marcam presença de destaque. Durante a batalha, as cantoras surgem cantando suas músicas dos animes, concedendo efeitos variados, como a redução de tiros dos inimigos ou o aumento da eficácia do seu poder de fogo, algo muito bacana e emocionante de se acompanhar enquanto joga. E muito útil, de fato.
Visuais decepcionam
Macross: Shooting Insight tinha tudo para ter um visual deslumbrante, com batalhas empolgantes no espaço e inimigos com designs criativos e variados, mas infelizmente, novamente, isso não acontece. O que temos ao invés disso são visuais monótonos e repetitivos, com um fundo espacial de aparência genérica na maior parte da campanha. Os mesmo pode ser dito dos inimigos, que são pequenos na tela e sem charme nenhum. Nem a nave do jogador escapa, que poderia ser um pouco maior na tela.
Até mesmo os chefões, que geralmente em jogos deste gênero são máquinas de combate imensas e imponentes na tela, decepcionam com visuais simples e sem graça. Em termos de dificuldade, o game oferece uma pegada arcade, o que significa uma boa dose de desafio que vai testar suas habilidades e reflexos. Porém, caso a coisa esteja muita pesada, é possível ajustar o nível de dificuldade para uma mais fácil ou ainda configurar para permitir uma recuperação automática dos seus pontos de vida, deixando a jornada mais acessível.
Por fim, vale dizer que ao terminar o Modo História, você desbloqueará alguns modos extras, como o Ace Battle, onde você pode desafiar personagens rivais em simulações, e também há o Arcade, Boss Rush e Area Survey, que permitem que você jogue níveis específicos. Além disso, há um grande número de itens colecionáveis para encontrar e desbloquear também, o que deve agradar aos fãs da franquia.
Considerações
Macross: Shooting Insight tinha potencial para ser um jogo shoot'em up memorável como o inesquecível Ikaruga, ainda mais considerando todo o legado e história da franquia em que é baseado, mas ao invés disso, temos um game bem medíocre que dificilmente vai te impressionar, embora tenha algumas boas ideias. No final das contas, se você é um fã da franquia Macross, poderá se divertir um pouco mais com ele, caso contrário, invista seu tempo em outros jogos do gênero, ou espere por uma boa promoção antes de adquiri-lo.
Macross: Shooting Insight está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5 e Switch.
Esta análise foi feita no PlayStation 5, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Red Art Games.