Ghost of Yotei apresenta o auge do mundo samurai nos games
Entre combates, missões e paisagens deslumbrantes, a aventura mergulha o jogador em um universo rico e imersivo
O ano de 2025 trouxe duas produções de peso exclusivas para os donos de PlayStation 5. Depois do retorno memorável ao universo de Death Stranding 2, em outubro é a vez de Ghost of Yotei chegar às prateleiras. A sequência espiritual de Ghost of Tsushima mantém a identidade da Sucker Punch em explorar o Japão feudal com riqueza de detalhes, mas não se limita a repetir fórmulas: traz novos personagens, mecânicas ampliadas e uma narrativa ousada.
Desta vez, estamos diante de uma história que se passa mais de três séculos após os eventos originais, mantendo o DNA do jogo anterior, mas ao mesmo tempo reformulando a experiência para veteranos e novatos. A proposta segue sendo a de um mundo aberto de exploração livre, repleto de atividades paralelas e momentos contemplativos, porém a presença de uma nova protagonista — movida por um enredo de vingança visceral — adiciona frescor à franquia.
Confira a seguir aqui no Game On o que esperar desse jogo que tem tudo para ser indicado para vários prêmios, incluindo o de Melhor Jogo do Ano.
Um novo fantasma, uma nova lenda
O enredo de Ghost of Yotei abraça o arquétipo da vingança clássica, inspirado no cinema japonês e nas tragédias samurais. É impossível não notar ecos dos trabalhos do renomado cineasta Akira Kurosawa e, em especial, a influência direta do filme Lady Snowblood (1973), obra que por sua vez ecoa até em produções modernas como Kill Bill (2003) e o excelente anime Blue Eye Samurai (2023).
Esse pano de fundo cinematográfico garante que a jornada de Atsu, a nossa nova protagonista, seja contada com um enorme impacto visual e ritmo narrativo envolvente.
Situado em 1603, nos arredores do Monte Yotei em Ezo (atual Hokkaido, Japão), o jogo acompanha Atsu, uma mercenária que incorpora a persona de um onryo, espírito de vingança do folclore japonês. O alvo de sua fúria são os temidos “Seis de Yotei”, liderados pelo ex-samurai Lorde Saito, responsáveis pela destruição de sua família quando ela ainda era criança.
A narrativa, apresentada de forma imersiva e cinematográfica, contando com todo o apoio e requintes de uma produção de um jogo AAA (os famosos blockbusters, que contam com altos orçamentos e grandes equipes de desenvolvimento), mostra a ascensão de Atsu de vítima a caçadora implacável, transformando cada confronto em um momento épico, prendendo a sua atenção já nos primeiros minutos de jogatina.
Vale notar que, além do Modo Kurosawa, que retorna de Ghost of Tsushima como um filtro cinematográfico inspirado nos clássicos de Akira Kurosawa, Ghost of Yotei amplia ainda mais a experiência com dois modos inéditos, cada um inspirado em estilos distintos de cinema japonês moderno.
O primeiro deles remete ao universo de Takashi Miike, conhecido por sua mistura de violência extrema, humor negro e surrealismo. Nesse modo, os confrontos ganham uma intensidade exagerada, cores e efeitos visuais estilizados reforçam o clima caótico, e a narrativa assume tons mais ousados, quase como se cada embate fosse uma sequência de filme de ação visceral.
O segundo novo modo é inspirado em Shinichiro Watanabe, mestre de obras de anime como Cowboy Bebop e Samurai Champloo. Aqui, o jogo adota uma abordagem mais rítmica e estilizada, com cortes de câmera, trilha sonora marcante e edição que remete a um anime de ação. O resultado é uma experiência cinematográfica única, onde cada movimento de Atsu parece coreografado como parte de uma sequência de combate musical, enfatizando estilo e fluidez sobre realismo puro.
Esses modos adicionais não apenas oferecem variações visuais e narrativas, mas também permitem ao jogador vivenciar Ghost of Yotei sob perspectivas completamente diferentes, adicionando replayability e reforçando a natureza cinematográfica do jogo.
Liberdade e combate refinado
A busca pelos Seis de Yotei pode ser feita em qualquer ordem, conferindo ao jogador um senso de liberdade ainda maior que no primeiro jogo. O mapa de Ezo é vasto e recheado de detalhes, equilibrando missões secundárias significativas com atividades relaxantes que dão respiro à intensidade da trama - e que no geral, facilmente ultrapassam as 50 horas de jogo.
O retorno de mecânicas como cortar bambus e banhos termais dialoga com novidades como pinturas Sumiê, fogueiras para cozinhar e o uso do instrumento musical Shamisen, que além da atmosfera relaxante, também renderá benefícios práticos na jogabilidade de nossa heroína.
O sistema de combate é um dos pontos altos de Ghost of Yotei, entregando batalhas intensas que combinam agilidade e precisão. Os controles no DualSense respondem de forma intuitiva, permitindo que cada golpe ou defesa seja sentido com naturalidade e de forma dinâmica e fluída.
A variedade de armas disponíveis amplia ainda mais a experiência: desde a clássica Katana, símbolo da tradição samurai, até opções que mudam completamente o ritmo das lutas, como a Yari (lança), a Kusarigama (foice), a imponente Odachi (espada gigante) e até a Tanegashima, uma arma de fogo rudimentar que adiciona um toque estratégico aos confrontos. Essa diversidade estimula o jogador a experimentar diferentes abordagens, tornando cada embate único.
Cada equipamento tem inimigos específicos em que se sobressai, o que estimula o jogador a alternar constantemente entre técnicas e estratégias. Além disso, o arsenal secundário com arcos, bombas e lâminas arremessáveis reforça a versatilidade da protagonista.
Um Japão selvagem e deslumbrante
Visualmente, Ghost of Yotei é um espetáculo técnico e artístico, apresentando um dos melhores visuais que você vai encontrar em um PlayStation 5 atualmente. A recriação de Ezo impressiona com florestas cobertas de neve, vales iluminados por belíssimas cerejeiras e aldeias marcadas pelo contraste entre tradição e ruína, muitas exibindo a decadência de territórios tomados por guerra, bandidagem ou abandono.
Cada região apresenta sua própria identidade visual e cultural, criando uma sensação constante de descoberta, mesmo após dezenas de horas de exploração. O ciclo dinâmico de clima e estações reforça essa imersão: chuvas torrenciais podem transformar uma travessia pacífica em um desafio de sobrevivência, enquanto nevoeiros densos alteram a percepção do combate e da paisagem.
Detalhes menores, como o movimento da grama com o vento, a neve que se acumula nas roupas de Atsu ou o reflexo da lua em lagos congelados, ampliam a sensação de beleza e realismo.
É aquele tipo de jogo que convida o jogador a desacelerar. Muitas vezes, você se pega parando para contemplar o pôr do sol atrás do Monte Yotei, seguir o rastro de um animal selvagem apenas por curiosidade, ou até mesmo sentar em uma fonte termal para refletir junto com a protagonista.
Essa combinação de grandiosidade e delicadeza faz com que o mundo de Ghost of Yotei não seja apenas belo, mas memorável — um espaço onde a contemplação se torna tão importante quanto a vingança.
Som que ecoa nas montanhas
E se o visual de Ghost of Yotei impressiona pela grandiosidade, a parte sonora não fica atrás. Os temas musicais misturam instrumentos tradicionais japoneses — como o Shamisen, o Koto e tambores Taiko — com arranjos orquestrais modernos, criando uma sonoridade que equilibra contemplação e intensidade.
Em momentos de exploração, a música assume tons suaves e melódicos, quase como um convite à reflexão. Já nos confrontos contra inimigos, e especialmente os Seis de Yotei, o ritmo cresce em dramaticidade, intensificando a sensação de duelo épico e transmitindo o peso emocional de cada batalha.
Outro ponto que merece destaque está nas dublagens. A versão em japonês é um deleite para quem busca autenticidade, trazendo performances que capturam a dramaticidade e a solenidade típicas do cinema samurai.
Por outro lado, a versão em português brasileiro surpreende pela altíssima qualidade, com atuações carregadas de emoção que aproximam o público local da jornada de Atsu, sem que se perca a força narrativa original da obra.
E já que entramos no assunto, Ghost of Yotei também se destaca pelo excelente trabalho de localização dos textos para o português brasileiro. Menus, legendas, descrições de itens e diálogos foram adaptados com cuidado, evitando traduções literais ou "adaptações abrasileiradas" que poderiam soar artificiais, buscando preservar o peso cultural e narrativo original da obra.
Esse cuidado faz diferença principalmente em um jogo cuja narrativa carrega inúmeros elementos poéticos e filosóficos da cultura japonesa. A escolha de palavras é precisa e transmite o impacto emocional da história de Atsu, seja na fúria de sua vingança ou nos momentos de contemplação. É um exemplo de localização que respeita o material original, mas ao mesmo tempo dialoga de forma natural com o público brasileiro, garantindo que mais jogadores possam vivenciar a jornada em toda sua profundidade.
Por fim, vale relembrar que a Sucker Punch já confirmou que Ghost of Yotei receberá em 2026 uma expansão gratuita chamada Legends. Diferente da campanha principal, esse conteúdo aposta em uma experiência totalmente cooperativa, permitindo que os jogadores se unam para enfrentar novos desafios. O modo contará com missões de história desenhadas para duplas, além de batalhas de sobrevivência para até quatro pessoas.
Considerações
Ghost of Yotei é mais do que uma sequência: é a prova de que a Sucker Punch amadureceu sua visão de mundo aberto e encontrou uma fórmula que consegue evoluir sem perder a essência. A história de Atsu equilibra brutalidade e poesia com momentos cinematográficos, convidando o jogador a mergulhar em uma jornada que mistura vingança, honra e autodescoberta.
Combinando um mapa vasto e repleto de atividades significativas, combates versáteis que recompensam diferentes estilos de jogo e uma direção artística de tirar o fôlego, o título se firma como uma experiência marcante e se estabelece como uma das grandes franquias da família PlayStation.
Tudo isso coloca Ghost of Yotei não apenas como uma continuação digna e respeitável, mas como um dos grandes favoritos a figurar entre os melhores jogos do ano.
Ghost of Yotei será lançado em 2 de outubro exclusivamente para PlayStation 5.
Esta análise foi feita no PlayStation 5, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Sony Interactive Entertainment.
