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Vôlei

Futuro dirigente, Emanuel elogia MP e pede "voz ativa" a atletas

23 set 2013 - 08h34
(atualizado às 08h34)
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<p>Emanuel faz parte da geração de atletas que querem participar ativamente do esporte</p>
Emanuel faz parte da geração de atletas que querem participar ativamente do esporte
Foto: Gabriel Francisco Ribeiro / Terra

Bastam 30 segundos de conversa para se perceber que Emanuel não é um atleta qualquer. Megacampeão e um dos ícones do vôlei de praia nacional, o quarentão ainda jogador é o tipo de pessoa que pensa bastante antes de responder e, quando começa a conversar, tem o olhar penetrante de quem só fala do que sabe. Mais do que isso, faz parte da nova geração de jogadores analíticos, que não se contentam simplesmente em estar representando o Brasil, mas sim buscam analisar o esporte como um todo.

Um dos mais velhos atletas ainda em atividade no vôlei de praia, o parceiro de Alison não sabe quando vai parar. Diz que analisará a situação ano a ano – pode ser no fim de 2013, ao término de 2014, assim como também pode disputar a Olimpíada de 2016, um de seus desejos. Contudo, tem a exata noção do que fará após terminar seus dias como jogador: virará dirigente. “Eu entendo muito do esporte. Gosto do vôlei, mas não sei se conseguiria passar todas as minhas emoções para alguém. Acho que eu ficaria muito mais feliz na estrutura”, explicou ao Terra.

O desejo de Emanuel não é novidade no esporte. Ultimamente, “atletas ativistas” têm sido cada vez mais comuns no Brasil – são casos de jogadores de futebol como Paulo André e Raí ou de outros esportes, como Ana Moser e Hortência. A organização “Atletas pelo Esporte”, inclusive foi uma das principais responsáveis pela aprovação da MP do Esporte, que limita o mandato de dirigentes esportivos em entidades que recebem dinheiro público. A ação é bastante aprovada pelo atleta do vôlei de praia, que pede, além de ativa, uma “voz consciente” aos jogadores.

Confira a entrevista completa do Terra com Emanuel:

Terra: Você parece ser uma pessoa bastante analítica no modo como vê o jogo. Planeja ser técnico ao fim da carreira?

Emanuel: Olha, eu entendo muito do esporte. Gosto do vôlei, mas não sei se conseguiria passar todas as minhas emoções para alguém. Acho que eu ficaria muito mais feliz na estrutura, eu não sou de falar muito, sou de dar exemplo para as pessoas captarem as ideias. Mas eu gostaria de estar em um nível assim administrativo, queria fazer projetos para trazer outros atletas. Então a minha intenção não é trabalhar com o esporte, mas para o esporte em outras dimensões.

<p>Atual parceiro de Alison, Emanuel diz que verá ano a ano até quando levará a carreira</p>
Atual parceiro de Alison, Emanuel diz que verá ano a ano até quando levará a carreira
Foto: Gabriel Francisco Ribeiro / Terra

Terra: Neste sentido de estrutura, o que você achou da aprovação recente da MP do Esporte, que limita o mandato de dirigentes no Brasil?

Emanuel: Eu acho muito importante. Não pelo fato de quem está agora não está dirigindo bem, mas porque tudo é um ciclo. Tem que ter pessoas novas, ideias novas, para ter uma reformulada, quando você troca pessoas, ideias aparecem. Então na minha visão é isso: se uma pessoa está fazendo bem para o esporte, ela pode permanecer. Mas se a comunidade vê que aquela pessoa não está fazendo tão bem, tem que ter mudança. Eu acredito muito nessa lei. Acredito que quatro anos ou três anos é muito pouco para você fazer uma mudança de filosofia, mas é muito tempo para quem não faz nada.

Terra: Você faz parte, então, de um novo tipo de atleta que tem se tornado mais comum, o jogador ativista, como Paulo André e Hortência. Como vê essa nova geração, que se importa com o que acontece nos bastidores?

Emanuel: Acredito que tem um entendimento melhor dos atletas, que estão deixando de ser simplesmente jogadores para serem atletas. Entender a necessidade do esporte, o que um patrocinador quer, o que um técnico quer, o que um dirigente tem que fazer. Então esse entendimento do atleta está chegando a um bom senso agora. O bom senso geral está mostrando que o atleta tem que fazer parte da engrenagem, porque até então era só dirigentes que faziam a arte de dirigir o esporte. Agora não, acho que os dirigentes têm que fazer parte de uma trinca, que aí vai começar a dar certo o esporte.

<p>Atleta quarentão diz que prefere virar dirigente a técnico</p>
Atleta quarentão diz que prefere virar dirigente a técnico
Foto: Gabriel Francisco Ribeiro / Terra
Terra: Você acha que os atletas têm mais visão para gerenciar projetos? A experiência na quadra ajuda a ver o que dá certo ou errado?

Emanuel: Eu acredito que os atletas possam ser uma peça fundamental para as mudanças. Talvez o atleta não saiba gerenciar o esporte, mas ele sabe o que funciona e o que precisa para dar certo. Então a voz do atleta tem que ser ouvida para que o esporte em geral evolua, não só a parte financeira ou administrativa, não só a parte de viagens, mas sim a ideia do atleta como se fosse assim: “o que eu preciso para jogar bem”? Isso o administrador tem que fazer e usar bem, porque se ele não tiver bons atletas o esporte que ele conduz não funciona. Então a voz do atleta tem que ser ativa e consciente, não uma voz egoísta, mas que pense na comunidade.

Terra: No Fórum Nacional do Esporte, um assunto muito discutido foi a questão da relação da televisão com o patrocinador. Algumas empresas que transmitem não falam o nome do patrocinador e o afasta do esporte, caso do vôlei, que tem sofrido com a extinção de times. Mesmo assim, a CBV mudou as regras do esporte, diminuiu o número de pontos, para se adequar à TV. Acha que deveria haver um enfrentamento maior por parte das federações?

<p>Com Alison, completa a força física do companheiro com a técnica e experiência dentro da areia</p>
Com Alison, completa a força física do companheiro com a técnica e experiência dentro da areia
Foto: Gabriel Francisco Ribeiro / Terra

Emanuel: Minha visão: a televisão é muito importante para o esporte. Todos os esportes que estão na televisão têm patrocinadores e o que não está tem dificuldade em conseguir outros parceiros. No Brasil acho que está se criando a cultura esportiva, não só o futebol que está bem consolidado. E agora acho que está na hora dos outros esportes se consolidarem. Por um certo momento acho que os esportes vão estar à mercê da televisão. Aí depois que tiverem um produto forte, criarem credibilidade, vão poder modificar as regras. Infelizmente isso é uma coisa natural, o vôlei teve que mudar muito dos seus fundamentos pela televisão, o esporte ficou mais gostoso de assistir, os atletas são mais conhecidos, há mais patrocinadores, mas infelizmente a gente teve que ceder as regras. Mas é uma coisa que com um tempo a gente pode se rever. Vejo que os esportes que não estão na televisão, como atletismo, muito mais atletas poderiam estar participando, igual o judô: o judô conseguiu um espaço na televisão, uma coisa bacana, mudou o sistema de pontuação para se adaptar à televisão e conseguiu resultados. Então infelizmente o esporte tem que fazer essas mudanças para a televisão.

Terra: Com essas ideias consolidadas para o fim da carreira, você pensa em jogar até quando?

Emanuel: Sou uma pessoa muito crítica e vejo anualmente. Este ano que passou para mim foi muito importante, aprendi muita coisa que não via na parte pessoal, hoje cuido mais do meu time, das minhas coisas. Vou pensar no fim desse ano, se eu me motivar vou para 2014. Eu tenho muita vontade de jogar em 2016, mas agora é ano a ano, não posso mais pensar a longo prazo. 

*O repórter viajou a convite da Confederação Brasileira de Vôlei

Fonte: Terra
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