Protesto da Lusa por moralidade une ícones, gerações e torcidas na Paulista
Puxados por torcedores da Lusa, manifestantes de outras torcidas pediram ética e moralidade no futebol; maestro e cantor português foram as estrelas
O aposentado Francisco Miranda Ribeiro, 74 anos, e o bebê Pietro Costa, dois meses, foram os símbolos de uma manifestação que uniu gerações e torcidas na avenida Paulista, região central de São Paulo, na tarde deste sábado, pela moralidade no futebol brasileiro.
Ambos com a camisa da Portuguesa, clube recém-rebaixado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) à segunda divisão do Campeonato Brasileiro, o pequeno e o português naturalizado brasileiro se misturaram à massa de mais de 300 torcedores, segundo cálculos da Polícia Militar, no bloqueio dos dois sentidos da Paulista.
Ícones da torcida, o maestro João Carlos Martins e o cantor português Roberto Leal engrossaram o caldo lusitano na avenida, a exemplo de padeiros e donos de padaria, representados por seus respectivos sindicatos.
Pacífico, mas com gritos de guerra e placas pouco amistosas ao STJD e à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o ato recebeu o apoio de torcedores de outros times - como os paulistas Corinthians, Juventus, Palmeiras, Santos e São Paulo, e também Grêmio e Atlético-MG.
"Estamos aqui por um futebol melhor. Não quero que meu filho sofra como eu por conta desses desmandos no futebol", criticou o estudante Mateus da Costa, 17 anos, com Pietro no colo e a mulher, santista, ao lado. "Essa torcida é muito sofrida, não merece isso. Isso aqui é uma família e representa algo maior: a união entre Brasil e Portugal", disse o aposentado, nascido em Braga e no Brasil desde 1945.
Torcedores de outros times comparecem
Vestido com a camisa da Seleção Brasileira, o advogado e torcedor do São Paulo, André Alves, 46 anos, reclamou da postura da CBF diante do episódio. "A CBF está completamente equivocada e desrespeitando o Estatuto do Torcedor. Precisamos de mais moralidade e não só na política - o problema é quando política e esporte se misturam", disse.
Torcedor do Grêmio, o fotógrafo Marcos Oliveira, 19 anos, também declarou o apoio ao time paulista. "Aqui no Brasil se tem a cultura de privilegiar o clube que tem maior poder aquisitivo, é um absurdo". Com a camisa da Portuguesa, o auditor João Madeira, 51 anos, e o filho, Rafael, 15 anos, também demonstraram revolta com a atuação da justiça desportiva ante o time.
"Estamos enojados", afirmou Madeira. O filho fez coro. "É a terceira vez que o Fluminense (beneficiado pela perda de pontos da Portuguesa) se beneficia no tapetão. Isso é ridículo".
Maestro fala em "esperança na adversidade"; cantor reclama
Assediado pelos jornalistas e pelos torcedores, o maestro de 73 anos João Carlos Martins -torcedor da Portuguesa desde os 5 - afirmou ao Terra ter recebido o julgamento do tribunal "com muita tristeza".
"Na minha vida, de cada adversidade fiz o caminho para a esperança. Tenho certeza que esse é o caminho da Portuguesa, qualquer que seja o resultado - como nos velhos tempos. Para o futebol brasileiro, é uma tristeza que coisas não decididas em campo sejam decididas no tribunal", avaliou.
Já o cantor português Roberto Leal foi taxativo: "um país que se prepara para a Copa do Mundo tem que dar exemplo. O mundo está de olho no Brasil", disse, para completar: "um clube que é um polo cultural, social e pedagógico como a Portuguesa merece mais respeito. Se as coisas tivessem sido decididas no campo, nós não estaríamos aqui", defendeu.